segunda-feira, julho 31, 2006

Leituras proibidas em Agosto:

Irving Wallace, Harold Robbins, Colette e, sobretudo, Henry Miller e Georges Bataille. Porquê? Ora!!

Agosto na cidade

(Edward Hopper, 1945)

Perdido, entre o deve-haver

O argumento é engraçado, os malabarismos da câmara, também; a desconcertante montagem, idem; os bons e maus rapazes, e a Lucy Liu, idem aspas; mas o filme não aquece nem arrefece, talvez porque todos os intervenientes, eles próprios, achem que «Lucky Number Slevin» é mesmo uma brincadeira pegada, para espectador a precisar de ar-condiconado, em que o «twist», golpe-baixo respectivo, é a cereja no topo do bolo. Pelo meio há muita auto-paródia (a personagem de Willis), cinematográfica, inclusive (Tarantino, Polanski - Kingsley amarrado como em «Death and the Maiden») e muito ritmo, há que tirar o chapéu ao realizador como de tão pouco consegue usar tanta película. Um agradável divertimento de fim de tarde.

Save your all kisses for me



As férias aproximam-se rapidamente, a galope, e eu senti-me Stroheim por horas, deixando cair o meu monóculo, perdido em ti, tal qual aquele em Mae Bush, nesse prodígio de arrojo cinematográfico que é (foi) «Foolish Wives», de 1922.

Tudo quanto é demais, chateia

«Brisa de Mudança» (cujo título em inglês parece mais consentâneo com o teor do filme ... vento é mais violento, e abanão é mais forte do que mudança...) é mais um daqueles filmes-manifesto de Ken Loach, desta vez abusivamente premiado com a Palma de Ouro de Cannes (a tê-lo sido de forma justa, então que esperar dos outros filmes que com ele concorreram...), talvez por força do militantismo inconsequente de Loach, quase sempre a roçar a boçalidade televisiva. O tema é velho como Saragoça e aqueles discusos inflamados anti-ingleses, o IRA, etc., são como os filmes de cowboys e índios, chateiam quando não trazem nada de novo. Cillian Murphy é risível como líder de milícia, e os lugares-comum são tantos que nem vale a pena enunciá-los. Um filme medíocre a que nem a ruralidade verdejante da Irlanda parece ser imune.

Há alguém em casa?


Tenho saudades do fluxo inter-galaico de outros tempos, em que o polbo à Lopez não se metia entre tu e eu, mim e ti. Nem como Pola Negri, volta o «Sumurun» (1921)?

O que funciona para os orientais, pode não funcionar para os ocidentais...

Como é que dois apaixonados podem vencer uma décalage de 2 anos, no espaço e no tempo? A resposta é óbvia: um marca passo durante esse tempos, e o outro espera igual período. Depois, é acertar o lugar e correr até lá, à hora certa. O pior é que o argentino Alejandro Agresti (realizador deste melodramático chamado «The Lake House» - baseado no coreano «Il Mare» - que consegue ser imprevisível dentro da sua previsibilidade ...) acha que o melhor é confundir tudo, metendo os pés pelas mãos, alhos com bugalhos (Le Corbusier vs. Lloyd Wright, por ex.), brincando com o espectador (como é que uma árvore mirrada dá uma copa frondosa daquelas em apenas 2 anos?!), sendo que a páginas tantas vemos que as únicas razões para não se sair da sala é descobrir se a química ainda funciona entre Sandra Bullock e Keanu Reeves (e ainda funciona), ver como confundida anda uma simpática cachorrita rafeira ... e deitar a advinhar quanto é que o grande Plummer amealhou para a reforma, depois de picar o ponto mais uma vez.

sexta-feira, julho 28, 2006

Resposta:



Ouvirmos vezes sem conta o Concerto Nº 2 para Piano e Orquestra, de Rachmaninoff, ou vendo um de dois filmes: «O Pecado Mora ao Lado» (1955) ou «Melodia Fascinante» (1956) - eu escolhi o primeiro, por razões óbvias.

Que fazer sem Maria João Pires?

Se para Mozart prefiro Paul Badura-Skoda, e se para Chopin, o insuperável Ashkenazy, para Beethoven até que prefiro a nossa Maria João Pires. Que fazer agora que ela nos resolveu deixar, e não deixar mais que Portugal a fizesse sofrer? Agora que o Gilberto Gil deve estar na calha para lhe dar um espaço em Salvador da Baía?

Olha a bola de berlim. Olha a bolinha de berlim!

"Olha a bola de berlim!", gritava a menina, histérica, no recreio, encenando a venda das iguarias (quando mornas e mal cozidas, sem creme e repletas de açúcar), segurando uma tabuleito de borracha encarnado, na ponta do seu braço esticado. E repetia, repetia, vezes sem parar. Serão ecos do Guincho? Saudades minhas das da D.Rosa? Há anos que não como uma das dela. Recuso-me a ir até ao fim da praia. E a minha silhueta agradece, claro.

E Laurel & Hardy, que pensariam eles dessa música?!

Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura?!

Há pouco, «Riders on the Storm» tentava incendiar uma manada de humanos semi-automatizados, entre casa e o emprego, o emprego e casa. Fechei os olhos e tentei ouvir a água caindo, intercalada pela voz de Morrison, tal qual o track do álbum. Nada feito, o ditado não se aplica.

Riders on the storm
Riders on the storm
Into this house were born
Into this world were thrown
Like a dog without a bone
An actor out on loan
Riders on the storm

Theres a killer on the road
His brain is squirmin like a toad
Take a long holiday
Let your children play
If ya give this man a ride
Sweet memory will die
Killer on the road, yeah

Girl ya gotta love your man
Girl ya gotta love your man
Take him by the hand
Make him understand
The world on you depends
Our life will never end
Gotta love your man, yeah

Wow!

Riders on the storm
Riders on the storm
Into this house were born
Into this world were thrown
Like a dog without a bone
An actor out alone
Riders on the storm

Riders on the storm
Riders on the storm
Riders on the storm
Riders on the storm
Riders on the storm

quinta-feira, julho 27, 2006

Ontem, entre um quarto para as nove e a uma da manhã

Depois de quase 7 anos de eterna saudade, finalmente o encontro, no pays de Cocagne. Que imensa alegria saber que tu és eu, e eu sou tu. Que imensa tristeza, a separação, mesmo que por dias, horas, minutos.

E este ano? Pista #10


"A Itália sem a ... não desperta no espírito mensagem alguma: nesta região se encontra a chave de todas as coisas" (Goethe, 1786)

E este ano? Pista #9


Guttuso, 1940, óleo em tela, 60x80 cm.

E este ano? Pista #8


O normando Rogério II começou a sua construção, que durou perto de 30 anos, até 1160. Estética e arquitectonicamente é uma mescla de vários estilos, com realce para o bizantino e o mudejar.

quarta-feira, julho 26, 2006

E este ano? Pista #7

Morte Alla Francia Italia Anella

E este ano? Pista #6

E este ano? Pista #5

Tempo di preparazione min.30. Grado di difficoltà: normale. Tempo di cottura min.120
Ingredienti: 800 g.di ricotta di pecora; 500 g. di zucchero; vanillina; 100 g. di cioccolato spezzettato; 100 g. di frutta candita a pezzetti, gocce di rosolio; 1 forma di pan di Spagna; pistacchi; strisce di zuccata.
Preparazione: 800 g. di ricotta di pecora passata al setaccio, 500 g.di zucchero, un pizzico di vaniglia, 100 g. di cioccolato tagliato a pezzettini piccolissimi, 100 g. di frutta candita spezzettata anch'essa fine;
Mescolate il tutto con la ricotta con una cucchiaia di legno, tenete presente che più mescolate la ricotta meglio viene il risultato finale , ma a mano senza frullatori ecc, aggiungete qualche goccia di rosolio.Ora prendete una forma, fatta apposta, appoggiatevi un foglio di carta da cucina, con la gelatina di frutta, sistematevi intorno le fettine di pan di Spagna.Prendete il tutto come si trova e sistematelo dentro il frigorifero per circa due ore.Poi preparate un piatto di cartone da pasticceria e sistemateci sopra la cassata a testa in giù.A questo punto e pronta si deve solo decorare... a vostro piacimento, vestitela con glassa e il pistacchio sistematici la frutta candita ecc
.

E este ano? Pista #4


«La Terra Trema» (1948)

E este ano? Pista #3

Ingredienti ricetta
Per L'involucro: 200g farina, 20g strutto, 10g cacao, 2 uova, 30g zucchero, poco vino Marsala. Per Il Ripieno: 500g ricotta di pecora, 300g zucchero, 100g zucca candita a cubetti, 100g cioccolato fond.

Preparazione ricetta
Impastare gli ingredienti per la pasta, stenderla e tagliarla. Si ottengono 12 cannoli, tagliando la pasta in rombi di 10-12 cm di lato. Avvolgere la pasta sui cannelli in metallo e friggerla. Impastare la ricotta con zucchero e vaniglia, poi aggiungere zucca e cioccolato ed usare l'amalgama per riempire i cannoli.

E este ano? Pista #2


Rosselini, 1950.

E este ano? Pista #1

Chi era colui? Nessuno. Un povero corpo, senza nome, in attesa che qualcuno se lo prendesse.
Ma, all'improvviso, mentre così pensavo, avvenne tal cosa che mi riempì di spavento più che di stupore.
Vidi davanti a me, non per mia volontà, l'apatica attonita faccia di quel povero corpo mortificato scomporsi pietosamente, arricciare il naso, arrovesciare gli occhi all'indietro, contrarre le labbra in su e provarsi ad aggrottar le ciglia, come per piangere; restare così un attimo sospeso e poi crollar due volte a scatto per lo scoppio d'una coppia di starnuti.
S’era commosso da sé, per conto suo, ad un filo d'aria entrato chi sa donde, quel povero corpo mortificato, senza dirmene nulla e fuori della mia volontà.
«Salute!» gli dissi.
E guardai nello specchio il mio primo riso da matto
.

(«Uno, nessuno e centomila», 1926)

Há um ano foi o rasto de Agnès Sorel


E valeu por muitos outros rastos, apesar de me ter escapado, por tonteria minha, e em plena terra de Rabelais, uma gravura da mítica pintura de Fouquet.

10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1

Por falar em carros, faltam 10 dias úteis (ou inúteis, consoante o prisma). Contagem decrescente, portanto.

terça-feira, julho 25, 2006

Mas o meu carro é este aqui:


Chama-se «Christine» e é um Plymouth Fury de 1958. Carpenter filmou-o em 1983, baseado num conto de Stephen King, e eu vi-o no Cinema Roma, em toda a largura do seu antigo écran. E foi a personagem de Harry Dean Stanton quem melhor o definiu, nesta frase eventualmente chocante:

"My asshole brother bought her back in September '57. That's when you got your new model year, in September. Brand-new, she was. She had the smell of a brand-new car. That's just about the finest smell in the world, 'cept maybe for pussy".

Carros em versão original

Numa altura em que comemora 20 anos de existência, e a sua anexação de facto pela Disney, a Pixar lança «Cars», uma charge bem humorada aos clássicos norte-americanos à la Capra, tendo como vedetas de corpo inteiro um sem-número de automóveis, de ontem e de hoje, aqueles esquecidos e ferrugentos (onde até as moscas são minúsculos automóveis alados), estes vivendo para a velocidade e o show business (com direito a agentes e tudo). O filme começa mal, sem chama, apesar do muito barulho da banda sonora que parece querer esconder ua animação digital em beco sem saída; mas mal o protagonista se perde por terras de Radiator Springs, eis que tudo leva um volte-face e o motor arranca.

Não sendo o melhor filme da Pixar, longe disso, a verdade é que não se consegue ficar indiferente a uma série de personagens bem apanhadas, com especial destaque para o reboque Mater, o Fiat 500 mecânico de pneus (Luigi e o seu assistente, Guido) e, claro para o Hudson Hornet, como velha glória das corridas, Doc Hudson, agora retirada do circo, que rapidamente entra em compita com Lightning McQueen (Owen Wilson) pelo papel de protagonista principal. Algumas vozes estão magníficas (Paul Newman), outras nem tanto (Owen Wilson). Há duas cenas de antologia: aquela em que McQueen e Mater resolvem assustar os tractores, e aquela em que uma Ferrari (voz de Schumi) e duas Maserati resolvem entrar pelo stand de Luigi e Guido adentro, provocando-lhes desmaio fulminante. Intencionalmente, ou não, a escolha de um actor, Newman, e de um nome, McQueen, para os dois papeís principais é uma justa homenagem a dois actores imensos, também eles assumidos e competentíssimos corredores de automóveis.

segunda-feira, julho 24, 2006

O «meu» Nicholson está aqui


A propósito do penúltimo post, reafirmo que o «meu» Nicholson está aqui: no Hotel Overlook. Descubram-no!

Alegrai-vos!

Raro é que tudo concorra em um mesmo ser para o levar à prosperidade. Se é favorecido pela natureza, a fortuna recusa-lhe os seus dons; se esta o cumula dos seus favores, terá sido a natureza a maltratá-lo.

(Sade, «Eugénie de Franval»)

Na «reprise» de «Professione: Reporter»


Antes de o rever, a dúvida assaltava-me: chatérrimo filme de Antonioni, também ele perdido na sua identidade? ou obra-prima absoluta do cinema de vanguarda do autor de «Il Deserto Rosso»? Como no meio está a virtude, parece-me que se é verdade que «Profissão: Repórter» é um filme datado (como as camisas justinhas e as calças boca-de-sino de Nicholson, ou a Espanha rural e urbana de há 30 anos), que Nicholson nunca esteve tão amorfo como aqui, e que ele (o filme) é demasiado evidente quanto à mensagem de originalidade narrativa e de montagem, e da procura de identidade (nem que seja como «free rider» ... como é o caso deste «passageiro») como temática central da história, vectores centrais na obra do realizador; a verdade é que o filme é tremendamente actual.

Actual no que concerne ao interesse da trama (policial, q.b., e que se vai agravando a partir de um pequeno pormenor... tal qual «Blow Up», por sinal), actual quanto às personagens perdidas (as tribos, os ditadores africanos, os repórteres-correspondentes, os estudantes em périplo, etc.), e quanto à revisitação de uns quantos planos em que Antonioni se supera a si próprio, sobretudo naquele em que Nicholson ensaia um vôo sobre o porto de Barcelona, ou naquele fabuloso plano-sequência final que nasce e morre no ferro forjado de uma janela de hotel de pó andaluz. Um filme que peca pela lentidão, totalmente assumida e propositada, aliás. Mas soube-me bem revê-lo.

Obituário: Jack Warden (1920-2006)

Era um daqueles secundários que roubam a tela aos principais, mal entram em campo de visão. Jack Warden era assim porque era carismático e porque a sua cara transparecia a sua vida: foi boxeur, guarda-costas, pára-quedista, etc. Em todos os papéis que dele vi (muitos de entre os mais de 150 que representou!), vi-o determinado, pugnando pelos mais fracos, lutando para que a justiça se cumprisse, combatendo a corrupção, incentivando os hesitantes, etc., e isto fazendo de advogado, juíz, treinador, mordomo, testemunha, amigo, marido, fosse o que fosse. Um grande actor que desaparece.

sexta-feira, julho 21, 2006

You talkin' to me? Then who the hell else are you talkin' to?


Há pouco pareceu-me ver Travis Bickle vir de encontro a mim, a velocidade estonteante, nem pouco olhando para o sinal vermelho que o obrigava a parar há já alguns segundos. A curva saiu apertada, o carro guinchou. Mas não era De Niro, não, muito menos pela mão de Marty. Como é eu que sei? Ora, porque não ouvi a música de Bernard Herrmann.

Só faltou mesmo foi o piquenique

Ontem, foi uma tarde inteira de manouche ... e de baile à la Pierre-Auguste Renoir.

Mas Gavião dos Mares há só um


O melhor filme de piratas de todos os tempos é «The Sea Hawk», foi realizado em 1940 pelo húngaro fugido para a América, Michael Curtis, e tem uma atmosfera e uma narrativa únicas.

Mais uma vez, Jack Sparrow no seu melhor

«Pirates of the Caribbean: Dead Man`s Chest» é, acima de tudo, uma boa distracção, feita de cinema de aventuras, para todas as idades, e que se vê de uma penada, sem se ter a noção do tempo. E só não é extraordinária porque fica muito aquém do filme de que é sequela, ou seja da «Maldição do Pérola Negra». Não só fica aquém como se tornou mais espalhafatosa: à dimensão terrífica dos piratas fantasmagóricos e da própria fotografia, carga omnipresente no primeiro filme, Verbinski deu agora mais pêso à luz e ao humor, sendo que de fantasmas terríveis se passou a moluscos exuberantes (Bill Nighy está soberbo como Davey Jones).

No resto tudo na mesma, apesar da história ser mais fraca do que a do filme inicial; e, mais uma vez, com o foco das atenções a centrar-se, impreterivelmente, em Jack Sparrow, interpretado de forma genial por um inspiradíssimo Johnny Depp, que de uma assentada corporiza todo um século de piratarias e flibusteirices, de Fairbanks a Flynn, passando por Robert Newton (talvez o melhor pirata de todos...), De Cordoba ou Mathau: galã, espadachim, truculento, viril, patibular, efeminado e trapalhão. As melhores sequências do filme são a dos preparativos para o festim dos canibais, e o duelo interminável na roda da nora. A melhor cena é a do beijo entre Lizzie e Jack, que ofusca todas as cenas entre aquela e Will.

quinta-feira, julho 20, 2006

When you're slapped, you'll take it and like it.


Nesta coisa dos detectives na tela, e para acabar com estes posts, desta vez não há sondagem, e digo: não há nem Miss Marple nem Pe. Brown, nem Philip Marlowe nem Lemmy Caution, nem M.Poirot nem Mike Hammer, nem Maigret nem, glups, Sherlock (desculpa-me Jeremy Brett!), nem sequer Jack Gittes que o valha. John Huston dirigiu-o em 1941, e Bogart interpretou-o: Sam Spade é "o" detective.

Problemas existenciais?

Não sei se por força da morte de Spillane, ou não, a verdade é que dei ontem por mim a ver um filme em reprise, que me havia escapado aquando da sua estreia: «Os Psico-Detectives» («Huckabees», no original), de David O.Russell, um dos meninos-prodígio da novel fornada de realizadores do Tio Sam, e assente num argumento, ou melhor, numa ideia extraordinária:

Alguém, ambientalista obsessivo, com problemas existenciais resultantes de demasiadas coincidências, resolve contratar um par de psico-detectives (representados por um grande par de actores: Lily Tomlin e Dustin Hoffman), para descobrir e resolver o que se passa com ele... detectives que rapidamente o seguem para todo o lado, do w.c. ao emprego, incutindo-lhe a ideia de que nada é por acaso neste mundo, pois estamos todos interligados por um imenso lençol branco; o universo infinito. Mas à ordem contrapõe-se o caos e o desprendimento, representados por uma detective francesa (encarnada por Huppert), o que lança a confusão na personagem principal. Só que no fim tudo encaixa, claro, pois no meio está a virtude, encontrado que está o equilíbrio.

A ideia é boa e os diálogos e as personagens muito bem apanhados, os primeiros bem ritmados; os segundos sempre cómicos. Mas há qualquer coisa que faz com que esta ideia original não chegue assim tanto para dar um bom filme, pois a partir de certa altura as coisas repetem-se de tal maneira, que dá para pensar se não deu ao realizador uma daquelas "brancas" com direito a balão na cara e tudo ... era este o "tratamento" de Huppert com vista ao desprendimento de tudo! O filme fica sem chama e entra em puro circuito fechado. Lâmpada fundida?

Oh, now don't turn ordinary on me. I get tired of ordinary dames. And I don't want to get tired of you.


«Johnny Eager» (1942), de Le Roy, é um daqueles filmes que nunca mais vi, desde os tempos de APV à frente do saudoso Cine-Clube da RTP2, há mais de 20 anos. Pois o que acontece é que o filme parece que não sai de prateleira alguma, nem mesma da da Cinemateca, o que é grave. Não só porque é um belo de um "filme negro" (apesar de haver quem, inexplicavelmente, ache o contrário, e até quem ache, estranhamente, que a relação entre a personagem de Taylor e a de Heflin vai mais longe do que parece), ou porque um filme de Le Roy é quase obrigatório; mas, simplesmente, porque Lana estava no apogeu da sua beleza, quatro anos antes do carteiro lhe tocar à porta, por duas vezes, e de muitos kg a mais lhe tomarem conta do corpo.

quarta-feira, julho 19, 2006

«Edison»

Não, não se trata de nenhuma biografia filmada do velhinho Thomas Alva, génio de mil invenções, mas sim de uma cidade do futuro próximo (e em muitos casos, já presente!), capital da promiscuidade entre poderes (mas que deixa de fora, de forma risível, o quarto, personificado num impoluto Freeman), esquadrões da morte, novas tecnologias, lavagem de dinheiro, etc. No meio da promiscuidade há uns maus e uns bons, e tudo é desmascarado por um imberbe candidato a jornalista, que escapa ileso a um série de ameaças, armadilhas e metralha ... só mesmo em filmes, diriam, e bem.

O filme, surpreendentemente, vê-se bem, apesar de pancadaria desmesurada e apesar do tema ser mais que visto e revisto, desde que há cinema. É que um punhado de bons actores pode fazer muito por um filme, mesmo que em papéis secundários: Morgan Freeman, Kevin Spacey e John Heard. A realização não destoa, apesar da confusão que deve ter sido esta produção a meias, americana, canadiana e ... búlgara; havendo mesmo alguns momentos bem conseguidos, sendo o melhor aquela cena amalucada em que um cool Freeman dança livremente ao som de Donovan (?).

I'm pissed off, twice!!


Os Depeche Mode resolveram cancelar o concerto de dia 28, e eu estou furioso, porque já sei que tão cedo vejo a cor do dinheiro. E mais furioso fico quando leio que é por culpa da pré-falência do promotor, José Araújo, e da sua Brand New Day, e não porque a banda de Dave Gahan e Martin Gore tenha achado que foram vendidos poucos bilhetes, conforme foi adiantado aos jornais. Duplamente enganado e duplamente irritado!!

Os porquês de não ir ao cinema:

Três raparigas discutiam os porquês de não irem ao cinema e antes optarem pelo DVD. A mais vivaça dizia: "Antes de ser casada ia todas as semanas ao cinema, depois que casei acho que só fui 2 vezes. Dantes é que era bom, os bilhetes no cinema da minha terra, que era um anfiteatro, custavam 2,5 €, e a gente ia muitas vezes; depois, à saída, passeávamos pelo jardim e comíamos um gelado. Agora? São mais de 5€, e em Mafra o cinema não presta para nada. O quê? Aquele em que o Clooney engordou 20 kg? Já me disseram que é muita bom, mas ainda não vimos".

Do me a favor, will you? Keep away from the windows. Somebody might... blow you a kiss.


Aqui vai a minha homenagem ao escritor desaparecido, com um still daquela que foi a melhor adaptação ao cinema de um Mike Hammer: «Kiss Me Deadly». Um portentoso Aldrich, com um impecável Ralph Meeker, um daqueles actores que muitos olvidam, mas eu não.

Obituário: Mickey Spillane (1918-2006)

Figura imprescindível naquele lote de escritores policiais de topo, e criador de uma personagem, de um detective, que dá cartas no cinema e na TV desde que foi criado (embora Mike Hammer não seja o meu detective preferido de livros de bolso, porque esse é Shell Scott, sempre!), o seu desaparecimento não pode deixar de ser um marco para quem gosta destas coisas do giallo, por mais acusações de machismo e outros ismos a que a sua personagem foi votada ... como aliás é tradição em detective que se preze.

terça-feira, julho 18, 2006

O meu Tio ... das Américas

Nunca teve grande gosto em ver ou rever filmes antigos. "Céus, são do tempo da Maria Caxucha", diz, sempre que falo neles. É avesso a filmes de ficção científica, terror, cowboys, animação, musicais e tudo quanto seja fora do inglês falado por americanos, e do circuito mainstream. Considera os indies os ambientalistas da 7ª Arte. E o cinema de autor, pior que o mais chato dos debates entre políticos. Só abre o olho a filmes policiais, com montagem não mais do que 2-3 anos atrás. Gostava que o meu tio se parecesse com o M.Hulot do título, mas não, ele é muito terra-a-terra.

Edelweiss


Ainda a música nos filmes, ele há uma canção que é uma pérola, tal qual a flor alpina que dá título a ela, e que seria bom que alguém conseguisse que florescesse por terras de Sintra ou nas Penhas Douradas. Christopher Plummer cantou-a como ninguém, e reza assim:

"Edelweiss, Edelweiss
Every morning you greet me
Small and white, clean and bright
You look happy to meet me

Blossom of snow may you bloom and grow
Bloom and grow forever

Edelweiss, Edelweiss
Bless my homeland forever
"

Casual friday em português

Ando para escrever este post há tempos mas sempre me esqueço: diz respeito à Sexta-Feira desportiva, «made in Portugal». Se ainda não notaram, o português decidiu aderir recentemente (como sempre, atrasado) à moda anglo-saxónica de deixar gravata e blaser em casa, às 6ª F. Mas considerando a profusão de pólos de feira suados, os mocassins de saldo empoeirados, e as pulseiras de plástico largachonas que por aí se vê, mais valia que continuassem a sair à rua os fatos de 3 botões às riscas, todos abotoados até cima (reparem como olvido propositadamente as camisas Vítor Emanuel, ou as Rosa Negra) e as Tie-Rack. Bem, pensando melhor, talvez não...

segunda-feira, julho 17, 2006

You're a very bad man, Walker, a very destructive man.


In «Point Blank» (1967)

Ele há dias em que me sinto Walker, mas hoje não é o caso.

Jo Privat chegou a Lisboa, vindo da Gare de Lyon, no Trem Azul

Passados quatro meses sobre a encomenda de disco raro do genial Jo Privat, autor das «valses musettes», eis que a campaínha da Trem Azul toca no meu móvel: "a sua encomenda chegou, pode vir levantá-la". Excelente discoteca, esta a da Rua do Alecrim. Se há disco de jazz editado, então está lá, e se não está é porque vem a caminho no Train Bleu

Sombrinha japonesa?



No pino do sol, o país do sol nascente passou junto a minha casa: um casal jovem protegia-se do auge dos raios ultra-violetas, deitando mão a um guarda-chuva estropiado. Por momentos, julguei ver uma cena dos filmes de Mizoguchi. Equívoco destruído quase que instantaneamente.

«Happy Endings»

O que torna este filme pouco mais que banal é a comparação inevitável que dele se faz com a série de filmes do mesmo género que os americanos nos têm dado a ver nos últimos anos, sejam eles filmes indie ou não, de que os trazidos pela mão de La Bute, Hartley ou Soderbergh costumam ser «la crème de la crème». Desta vez, a originalidade está no facto de todas as personagens andarem à roda, directa ou indirectamente, dos «finais felizes» proporcionados por massagens no sítio certo.

Uma vez passada a introdução das personagens, o filme entra em inconsequências várias e mensagens óbvias, a que nem uma montagem mais expedita consegue evitar um certo bocejo, mais a mais que o filme não é curto. Há algumas cenas interessantes e um certo cuidado na «mise-en-scène». Mas o melhor do filme é mesmo Maggie Gyllenhaal (por sinal a única que não tem um final feliz...), em mais uma brilhante composição de tresloucada melancólica, desta vez dando a conhecer-nos os seus dotes enquanto cantora; e que bem canta Billy Joel, i.e. «Just the Way You Are».

sexta-feira, julho 14, 2006

Kafka à beira-mar


Sempre achei piroso o livro de Haruki Murakami, talvez pelo título, talvez pela capa horrosa a que teve direito da Casa das Letras, talvez porque habituado à escrita de Mishima e Kawabata, e porque pensei que o título do livro fosse nome de gato. Mas agora que soube o que lá está escrito, misto de Auster e King, e mementos cinematográficos marcantes («Les 400 Coups», por exemplo), acho que vou devorar o teu livro, num abrir e fechar de olhos.

«An American Haunting»: parvoíce completa

Pior do que tentar saber porque razão deu na cabeça de John Bell para virar lobo mau, é procurar saber porque dá na cabeça das pessoas da indústria cinematográfica, sobretudo norte-americana, para escreverem, produzirem, realizarem e trazerem até nós filmes, fitosas como esta, sobre bruxarias (macaquinhos no sótão) que se revelam fantasmas, justiceiros, em twist absolutamente extraordinário, passível de incutir gargalhada a espectador mais atento. Por mais que se perceba que Sutherland e Spacek se recusem, e bem, a uma reforma antecipada, esta historieta não impressiona minimamente, por mais esforços gigantescos que os técnicos de efeitos especiais façam, sobretudo os de som, que mesmo os visuais são pouco mais que medianos. O filme está mal feito, é repetitivo até à exaustão, e é parvo. Ah, é verdade!, alguém consegue explicar aquela personagem do professor, que de incrédulo irredutível vira crédulo mole, lenta, lentamente? Para esquecer.

Explicadores de matemática


É a (pobre) notícia do dia: nos exames do 12º ano, a média final em matemática é de 5,9 valores. Coisa grave, que no meu tempo se resolvia com explicador. Na impossibilidade de aconselhar a todos o meu querido e saudoso Prof.Brito, recomendo visionamento diário de «Pi» (1998) e «Cube» (1997).

"Teste de usabilidade"?

Ontem, perdi 15m da minha vida a visionar um determinado site experimental, a descobrir-lhe defeitos e a elogiar-lhe qualidades. No fim, quando me perguntaram se tinha algo a apontar, manhoso, respondi: "sim, usabilidade não é português".

quinta-feira, julho 13, 2006

Amanhã é outro dia


Por causa de uma conversa acerca de «Marie du Port», revi mentalmente «Le Jour se Lève», um grande filme (o seu final só é comparável a «He Ran All the Way») de um grande realizador: Marcel Carné; esquecido por cá, Cinemateca incluída, desde que o canal ARTE virou ripanço só de alguns.

Ainda o artigo

Sobre esse mesmo estado da nação, um homem, nos seus cinquentas e picos, debitava, vociferando no cais do metro, ataques ferozes contra os políticos, marchar, marchar. Foi chamado à atenção pelos seguranças privados contratados pelo Metropolitano, ameaçando que correriam com ele, se os palavrões e os berros não acabassem. Nada conseguiram, porque muitas pessoas fizeram coro com o maluco, dizendo: "vão-se embora, que ele fala verdade". Nem Chaplin faria melhor: risota geral.

One man can change the world with a bullet in the right place

Este artigo de PM sobre o estado da nação dispõe melhor do que qualquer Pepsamar, Rennie, Gelusil ou Buscopan. Não se assustem com o título do post, mas depois de ler o artigo, não pude deixar de me lembrar de um filme que me custa a engolir, sempre que o vejo. Nunca viram «If»?

quarta-feira, julho 12, 2006

Fechem a torneira durante o dia, s.f.f.


- It's that gardener.
- Yes, Chauncey Gardiner.
- No, he's a real gardener.
- He does talk like one. I think he's brilliant.


Eram 12h15m, e à torrina do sol gastava-se água de todos os bicos possíveis, regando um canteiro de relva, sem centímetro quadrado de sombra. Esta malta das juntas e das câmaras ainda não percebeu uma coisa essencial: só se deve regar as plantas pela fresca, de manhãzinha ou à tardinha. Uma coisa elementar que Chance, the Gardener, já teria dito há muito mais tempo que eu.

Obituário: Syd Barrett (1946-2006)

Extractos de uma entrevista/artigo a The Guardian, em 2001: aqui.

"Emily tries but misunderstands, ah ooh
She often inclined to borrow somebody's dreams till tomorrow
There is no other day
Let's try it another way
You'll lose your mind at play
Free games till may
See Emily play
Soon after dark Emily cries, ah ooh
Gazing through trees in sorrow hardly a sound till tomorrow
There is no other day
Let's try it another way
You'll lose your mind and play
Free games for may
See Emily play
Put on a gown that touches the ground, ah ooh
Float on a river forever and ever, Emily
There is no other day
Let's try it another way
You'll lose your mind and play
Free games for may
See Emily play
" (See Emily Play, 1967)

Separados de Fresco, vê-se


Não é fácil, não é fácil imitar-se com sucesso Hawks ou Cukor, muito menos Tracy vs. Hepburn, ou Grant vs. Ball, por exemplo. O ponto de partida para esta comédia de sexos até parece novidade (os amorosos desavindos conhecem-se e apaixonam-se num estádio ... e na sala de estar do seu apartamento salta à vista um imenso poster de um filme dos 70's, que por acaso passou no saudoso Eden, «Pânico no Estádio»), mas rapidamente se transforma em déjà vu, descambando numa série de diálogos mais ou menos óbvios, apesar do esforço com que Vince Vaughn e Jennifer Aniston - ele, por acaso produtor do filme, com sérias dificuldades de ritmo, ela, igual às suas personagens televisivas - tentam desesperadamente manter o filme acima da média, o que nunca conseguem. No final, ficam duas personagens muito bem conseguidas, falo das representadas por Vincent d'Onofrio (o eterno Private Pyle) e Judy Davis, numa excelente composição como extravagante pintora ninfomaníaca.

terça-feira, julho 11, 2006

Cara-metade

Filmar o simples de forma complicada, ou filmar o complicado de forma simples? Chega-se ao fim de «Me and You and Everyone We Know» e fica-se à espera de mais. À espera que aquele casal, unido à força do acaso por causa de uns sapatos cor-de-rosa, seja feliz, e que a menina obcecada com o seu enxoval de electro-domésticoss, e o par de irmãos viciados em chat, possam ouvir o canto do tentilhão desenhado naquele quadro bera, que da parede suja da sala aterra no ramo de uma árvore, seu habitat natural.

À procura de um habitat, parece ser este o lema deste filme francamente indie, de uma inspirada Miranda July e galardoado numa série de festivais, pelo mundo fora. Galardoado um tanto com exagero, talvez porque face ao deserto de ideias, meios e produtos finais que vai perpassando pelo cinema norte-americano, ver-se um filme como este, tanto real como onírico, tanto frustrado como optimista (por contraponto aos filmes de V. Gallo, por ex.), é um autêntico oásis que urge premiar. A sequência inicial, da aventura trágica do golden fish, é a melhor do filme, e uma lufada de ar fresco face aos filmes que por aí há.

Obituário: June Allyson (1917-2006)

Para a história desta actriz delicada que gostava de margaridas, ficam muitos filmes, em papéis muito femininos, bem românticos, a maior parte deles, e uma vida que ainda teve tempo para ver criada uma fundação com o seu nome, dedicada à investigação e cura da incontinência.

Ontem, também, foi o último episódio da fabulosa série «Six Feet Under»


Um episódio cujos 5 minutos finais foram autêntica poesia cósmica, com contornos oniricos e surrealistas. As honras da casa são para Claire, que consegue morrer aos 103 anos de idade. Já tenho saudades da família Fisher, muitas saudades.

Ontem, de perna ao léu no cadeirão verde, vi o Anjo Azul


"They call me naughty Lola The wisest girl on earth / At home my pianola / It works for all it's worth
The boys all love my music I can't keep them away So my little pianola keeps working night and day

They call me naughty Lola / The wisest girl on earth / At home my pianola It works for all it's worth
Now I tell you a secret Don't hammer on the keys For a little pianissimo is always bound to please

Lola, Lola - everybody knows me Ask the first man you see He knows how to find me
Old men, young men, all fall in to my net they all want me to pet there's a reason, you bet!
"

segunda-feira, julho 10, 2006

Se não se afundar, enfiem-lhe com dois torpedos!

Com boas recordações do primeiro «Poseidon» (com Gene Hackman, Shelley Winters e muitos mais), visto no écran gigante do Império, e onde a cena mais memorável era a queda do imenso lustre do salão de jantar, revi-o há pouco tempo na TV Cabo e pude constatar que, apesar de algo datado, o filme mantinha o essencial: filme-catástrofe honesto, sem grandes artifícios a nivel dos efeitos especiais, e narrativa simples e virada para a exploração das grandezas e fraquezas do ser humano face a cataclismas; o carisma dos actores fazia o resto. O primeiro deu origem a sequela, e agora, surpreendentemente, a remake, por sinal totalmente dispensável.

Com efeito, o novo «Poseidon» que Wolfgang Peterson nos traz é algo que devia ter sido afogado à nascença, à saída do respectivo estúdio, se o deus dos oceanos tivesse estado atento, pois trata-se de uma fitosa das grandes, ainda por cima muito mal feita (do começo ao fim) e onde nem sequer os efeitos especiais, "state-of-the-art" e totalmente dependentes da digitalização do computador mais próximo, conseguem criar o mínimo de sustentabilidade à história, que é paupérrima, e está representada por actores que nem sequer merecem uma bóia de salvação (que é feito de ti, Dreyfuus?), quanto mais salvos por helicóptero.

«Otto e Mezzo» passa esta noite, algures na TV


Há pouco Guido Anselmi, realizador em estado de perfeita alucinação e necessitando urgentemente de repouso, estava escarrapachado em nota de rodapé de jornal de distribuição gratuita, anunciando exibição televisiva do meu filme preferido de Fellini.

Até que a morte as separou

Se já Rousseau considerava que o mais atractivo da Botânica residia na cadeia de ideias acessórias que propicia (prados, águas, bosques, solidão, paz, repouso, etc.), mas que por outro lado se deve a Lineu o facto de ter retirado a Botânica das escolas de farmácia (in "Devaneios de um Viajante Solitário); percebe-se perfeitamente como o botânico das duas "filhas" se entretinha com o seu mundo, de forma déspota e autista, não se apercebendo da trama que se desenrolava entre filha e pupila, por entre aquele maravilhoso jardim insular, inspiradas por vapores inebriantes, e que os tentáculos do Grande Timoneiro iriam cortar rente, sem apelo nem agravo.

O verdadeiro pecado deste «As Filhas do Botânico» é querer emoldurar-se, digamos assim, o quadro da relação amorosa, em moldura pirosa, não se abstendo de usar música pró-Morricone, pombinhos a voar em juras de eterno amor, meninas órfãs, abuso de cenários idílicos (do Vietnam porque Mao ainta está presente na China actual, oh se está), etc.

sexta-feira, julho 07, 2006

Parabéns a você: Olivia de Havilland

Lady Marian Fitzswalter: Why, you speak treason!
Robin Hood: Fluently.


A mulher que mais filmes de aventuras, e de sempre, protagonizou, fez no dia 1 de Julho 90 anos. A sua vida e a da sua irmã, Joan Fontaine, davam um filme. Errol Flynn não se esqueceria do seu aniversário, mas eu esqueci-me...

E a resposta de Pál Feijös para a solidão é:


«Lonesome» (1928). Espero que sirva de desculpa a FCA pelo pecado de ontem, mas isto aqui trata-se de um pequeno bruto, afinal de contas.

A solitude de Duke, cantada por Nina, é:

In my solitude you haunt me
With reveries of days gone by
In my solitude you taunt me
With memories that never die

I sit in my chair
Filled with despair
Nobody could be so sad
With gloom ev'rywhere
I sit and I stare
I know that I'll soon go mad

In my solitude
I'm praying
Dear Lord above
Send back my love

Amanhã, será que Zéfiro permite?


No meio da ventania do costume, haverá um recanto para «Mónica e o Desejo»?

Adiós y hasta un dia

Ponce foi igual a si próprio, e um genial punhado de muletazos foi a nossa recompensa pelo custo de oportunidade. Mas as nuances e os fatos às riscas só se foram ver uns aos outros. Pérolas a porcos. No final, foi aquele adiós, a 1,5 m de distância, já na carrinha de Valência. Para ti foi duplo, com direito a sorriso, e inolvidável.

quinta-feira, julho 06, 2006

Mil perdões a todos!


Que me perdoem todas as ligas protectoras dos animais, mesmo daqueles que não existiriam não fossem eles para as nossas mesas. Que me perdoem todos os vegetarianos. Que me perdoem todos os "anti-K". Que me perdoem os puristas que acham que touros só os Miura, e touradas só no lado de lá. Que me perdoem os espíritos de Manolete e Gallito. Que me perdoem todos quantos nunca leram Blasco Ibañez, nem viram Valentino ou Power fazer de Juan Gallardo. Mas hoje vou ver Ponce. E pronto, fecha-se os olhos e os ouvidos ao resto.

O essencial da bola

É que ela é redonda. E ora entra numa baliza, ora entra noutra. E, que diabo, ser um dos quatro semi-finalistas deste mundial, significa que se é uma das quatro melhores selecções do mundo, em 2006. Nada mau, hein?

Mas nada de confusões com o Patinho Feio


Porque a história de Andersen (e Disney, já agora) acaba bem.

De volta ao normal

A culpa foi do árbitro. Tivemos muita pouca sorte. Perdemos porque somos pequeninos. Conclusão: o cinema é melhor escape.

quarta-feira, julho 05, 2006

Esta noite, passará «L'Auberge Rouge»?


Que o jogo desta noite não descambe na comédia sanguinolenta de Autant-Lara. E que o Galo de Barcelos bata Le Coq Gaulois. Por ti.

Preparando a batalha luso-francesa

Sem Wellington, mas marchando contra Soult, Massena e Junot, o Pingo Doce informa os seus clientes que fechará hoje, excepcionalmente, às 19h. Fica dado o aviso.

terça-feira, julho 04, 2006

Parabéns a você: Gina Lollobrigida

Gina faz hoje 79 anos. Segundo palavras suas, concorreu a Miss para ter dinheiro para pagar os estudos. Estas imagens explicam o resto; que o diga Hughes, que foi quem lhe abriu as portas de Hollywood.

NR: Aplica-se a Gina a chamada de atenção do último post.

A maquinal mannschaft não pode ser travada!


Nem por italianos nem por Maria, nem mesmo por Brigitte Helm ou Lang.

«Eyes Wide Shut», um dos must cá da casa

Belíssimo memento sobre o último do mestre, este que é feito pelo meu caro amigo AA. É sempre um prazer ler o maior promotor de Kleist que conheço; desta vez é um duplo prazer!

Uma dura lição de vida

Ele há boas acções que nem lembram ao diabo, e a amizade é uma coisa linda, mas (como diz um dos homens objecto de ajuste de contas) ... A história não podia ser mais própria do cinema contemplativo, mas ao mesmo tempo provocador e violento, de Kim Ki-duk. Depois do interessantíssimo «Ferro 3», o coreano volta a insistir, com «Samaria» na terra de desolação que para ele é a sua Seul, onde, por detrás da beleza que são os bosques orientais no Outono, há adolescentes que não hesitam em vender o corpo como forma de viajarem até à Europa, até às histórias que os pais lhe contam. Depois, o drama acontece e a amiga mais-que-tudo resolve salvar a alma da amiga, e o drama vai-se acentuando até que o seu pai lhe dá uma lição de vida, nesse momento sublime que é ver-se a protagonista a aprender a guiar, nas bermas de um riacho, por entre poças e lama: está apta para o mundo. Um filme bem ao jeito do seu realizador, cujo c.v. não deslustra.

segunda-feira, julho 03, 2006

You can clean up the mess, but don't touch my coffin


«Django» (1966). Era um dos teus favoritos! E por isso te peço hoje, dia 3, que não o deixes à solta amanhã, porque eles já estão proibidos de comer spaghetti, pizza, cannoli e cassata, pelo que só mesmo Nero os pode parar. E isso não convém, ja wohl?

Elixires do devaneio

São os acordes de guitarra de Paco de Lucia, McLaughlin, Di Meola, Hackett, Page, Hendrix, The Edge, Gilmour. Santana, Clapton, Fripp. Mas no cinema só há dois: Knopfler e Cooder por, respectivamente, essa aurora borealis que é «Local Hero» (1983); e esse tratado sobre a vida (a "arte do encontro", como diria Vinicius) que é «Paris. Texas» (1984).

Do you think I'm just anyone? Do you?


«Lawrence da Arábia» (1962). Mais um filme a ver no cinema, em cópia de 70mm.

Vale a pena atender o telefone

Nesta autêntica profusão de filmes de terror que tem caracterizado os anos de 2005 e 2006, este «When a Stranger calls» está claramente acima da média e merece ter espectadores. Não que a história tenha algo de novo (babysiter isolada, casa claustrofóbica, assassino sem motivo aparente, tempestade, gato preto, telefonemas ameaçadores, efeitos especiais, braços furando armário em busca da presa, adolescentes estropiadas, etc.), mas porque é bem feito, simplesmente; pelo que é a prova, portanto, que a originalidade não é tudo. Simon West terá razões para não se incomodar com telefonemas ameçadores, e a desoncertante Camilla Belle muito menos. Neste caso vale a pena atendermos de novo o telefone.