sexta-feira, setembro 29, 2006

Florista Romeira, prepara-te para as encomendas!


Vem aí «The Black Dahlia», e se a coisa prometia por causa da história (ainda por desvendar) e por causa de ser directed by Brian De Palma, a coisa promete muito mais porque traz outra coisa com ela, chamada Scarlett Johansson. Ficam feitas as apresentações!

Não tenho pachorra para Kevin Smith

Ele há coisas que não repito e uma delas é ver mais filmes do dito cujo. Chateia-me tremendamente.

Fui direitinho para a cama

Ao vermos o fabuloso genérico de «Lady in the Water» imediatamente nos apercebemos da excelência de Shyamalan enquanto contador de histórias. O mote é-nos dado por uma série de desenhos infantis que falam de homens e seres aquáticos, que precisam de conviver mas que se esqueceram de o fazer, com o evoluir dos tempos. E precisam uns dos outros para se completarem, para se salvarem, uns e outros, dos seus traumas e dos seus pesadelos. E é disso, em última instância, que o filme trata: de uma história de embalar, do fantástico, que gira à volta de uma ondina que vem salvar um homem do seu passado, ao mesmo tempo que busca salvação, pelo homem, das garras de seres maléficos que a atormentam desde o seu outro mundo.

Shyamalan filma como poucos e e dirige os actores como ainda menos o fazem (Paul Giamatti está mesmo insuperável, na sua personagem prisioneira do passado, e ao mesmo tempo à espera de um click para se libertar) e os argumentos dos seus filmes costumam ser do mais imaginativo que há, o que se confirma plenamente neste filme, em que todas as personagens parecem estar ali por uma razão, e não para marcar presença; e onde o ambiente tem sempre uma carga misteriosa e fascinante. Uma charada a que mesmo o espectador menos atento não fica indiferente, apesar desta vez não haver o habitual «twist» no final, mas antes aquele que se aguardava pelo desenrolar dos acontecimentos.

Uma palavra final para a menina de Ron Howard (e como vão longe os tempos dos Waltons!), Bryce Dallas Howard, está soberba no papel da "narf" das profundezas daquela piscina de condomínio, e tem um fácies difícil de ignorar, e uma fragilidade e serenidade tais, que a tornam numa escolha total e compreensivelmente acertada, na mouche

quinta-feira, setembro 28, 2006

E vem aí mais uma Festa do Cinema Francês!

E desta vez, porque faltam Resnais, Corneau, Rivette, Chéreau, etc., e salvo alguma dica em contrário, só irei ver Cantet e Nicole Garcia. Ambos no São Jorge, claro. Há por aí alguma dica sobre algum outro filme?

Parabéns a você: Brigitte Bardot


BB foi a resposta da França às "sex symbols" norte-americanas, e não se deu mal com isso. Rapidamente se tornou um ícone e mesmo que não tivesse passado pelas mãos de Vadim, teria sido o que foi. Dos seus filmes não rezam muito as crónicas, à excepção do "incontornável" Et Dieu... créa la femme (1956) e de uns pózinhos como Mépris (de Godard, foto acima), mas das suas curvas, sim. Teve a virtude de não se deixar isolar pelo estrelato. Colocou St. Tropez no mapa e deu visibilidade à luta pelos direitos dos animais. Só por isso merece os meus votos de "joyeux anniversaire", hoje que perfaz 72 anos!

A comédia mais desaparafusada do ano?

«As Corridas Loucas de Ricky Bobby» é a comédia mais delirante, desaparafusada e "non sense" dos últimos meses, uma paródia descomunal ao circuito e ao "circo" Nascar, onde Will Ferrel, Sacha Baron Coen e J.P.Reilly se divertem e nos divertem com um sem número de "gags" contagiantes. Os diálogos devem ter sido inventados na altura, tal como a história, que vai rolando aos trambulhões e sempre a acelerar como se fosse um daqueles acidentes espectaculares que vemos na TV. Espectacular a pujança e o histrião que há em Ferrel, e espectacular em composição e contenção, está Sacha, aliás Ali-G, aliás Borat, aliás ...

quarta-feira, setembro 27, 2006

I don't know who you are, but you did something to me... to my thoughts


Amanhã é dia grande, porque dia de estreia de «Lady in the Water»; o que quer dizer que está aí o novo Shyamalan, e que não nos vai deixar ficar mal, claro. Mais a mais tem o melhor dos novos secundários, Paul Giamatti, aqui tentando um primeiro papel de principal.

Preparando-me para «Marie Antoinette»

Cadê «All Creatures, Great and Small»?


Esta é uma das minhas séries preferidas, e uma das que continuam esquecidas pela RTP Memória. Alegremente traduzida por «Veterinário de Província», esta série da BBC (feita a meias com a Austrália) contava o dia-a-dia de dois veterinários, sócios, amigos e rivais, interpretados por Robert Hardy (soberbo na pele do experiente e blasé Siegfried) e Christopher Timothy (enquanto o novato e naïf James), mais o malucaço Tristan, irmão do primeiro, e Helen, a mulher do segundo. No Yorkshire, entre currais, estábulos, criaturas várias a que só falta falarem, e muita categoria made in BBC.

terça-feira, setembro 26, 2006

Maybe I'm crazy, maybe you're crazy, maybe we 're crazy

Mas por instantes, diariamente, dou por mim regressando ao asfalto, e de um lado o verde, do outro o azul; em frente o barroco, atrás o vulcão. Tu a meu lado. E Crazy, omnipresente:

I remember when, I remember, I remember when I lost my mind
There was something so **PLEASANT** about that face
Even your emotions had an echo in so much space

And when you're out there,without care
Yeah I was out of touch
But it wasn't because I didn't know enough
I just knew too much

Does that make me crazy?
Does that make me crazy?
Does that make me crazy?
possibly

And I hope that you are havin' the time of your life
But think twice, that's my only advice

Come on now who do you, who do you, who do you, who do you
think you are, ha ha ha, bless your soul
You really think you're in control

well,
I think you're Crazy
I think you're Crazy
I think you're Crazy
Just like me

My heroes had the heart to live their lives out on a limb
And all I remember is thinkin' I wanna be like them.

Ever since I was little, ever since I was little it looked like fun
And there's no considence I've come
And I can die when I'm done

But maybe I'm Crazy
Maybe you're Crazy
Maybe we're Crazy
Probably!
Probably
!

Cabrales, Gamoneu, Beyos e Ouvin


Não são nomes de filmes nem pseudónimos de actores, mas sim 4 queijos produzidos nos Picos da Europa, que nos deliciaram ontem à noite, acompanhados por cidra asturiana (ligeiramente mais ácida do que a irmã valenciana, e do que a prima francesa), tudo graças aos bons cunhados Ana e Mário que no-los trouxeram de terras de Pelayo ... a que umas também deliciosas bolachas de aveia e manteiga, feitas por ti, fizeram o justo complemento.

Enquanto isso, Max von Sydow era homenageado no ...

54º Festival de San Sebastian, com o Prémio Donostia (San Sebastian em basco, diga-se). Mais um prémio para o globe trotter sueco.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Vem aí a Semana do Cinema Espanhol

E no Quarteto, por apenas 3€ por filme.

O «regresso» de Stone aos E.U.A.

«World Trade Center» significa acima de tudo o regresso de Stone ao que o seu cinema tem de melhor: os Estados Unidos da América. E como ele sabe agarrar a oportunidade e cavalgar nela! O milagre porque passaram os polícias John McLoughlin e Will Jimeno aquando da derrocada das torres gémeas, foi rapidamente transformado por Stone num gigantesco filme nacionalista, apelando ao mesmo tempo à conciliação entre americanos e ao esforço de recuperação do trauma. Stone não só se agarrou a esta história de sobrevivência dos dois polícias-heróis com unhas e dentes, como soube deitar mão aos valores mais intrínsecos do cinema norte-americano, desde os seus primórdios: nação, religião, poder de retaliação, redenção.

E consegue tudo isso sem sequer usar e abusar da espectacularidade do embate dos aviões (aliás, uma das melhores cenas é aquela em que o agente Jimeno sente a presença de uma sombra pronta para o primeiro embate), nem dos dramas vividos dentro dos andares que receberam o impacto (como seria previsível) antes preferindo, e bem, dar-nos a dimensão humana ao nível do solo (talvez com um pouco mais de ralenti), ex-ante. E nisso há que realçar a capacidade de Stone (tal como fez em «Platoon» ou «Nascido a 4 de Julho», por exemplo) em filmar em close-up os rostos das personagens (e quão magníficos estão Cage e Maggie Gyllenhaal, por ex.).

No cômputo geral, contudo, o filme não é nem uma obra-prima, nem consegue transmitir a 100% o que de facto foi viver aquela situação (e isso seria praticamente impossível, como se imagina), mas anda lá perto. Não se chega a perceber duas coisas: em primeiro lugar, porque é razão colocaram lentes de contacto azúis a Maria Bello, e depois, porque é que os verdadeiros McLoughlin e Jimeno estiveram presentes em Veneza promovendo o filme, e aqui não constem do genérico. Um candidato aos óscares evidente.

Do not speak to me of rules. This is war! This is not a game of cricket!

Obituário: Malcolm Arnold (1921-2006)

Podia não ter sido por mais nada que tivesse feito, que até fez (compôs para 132 filmes!), mas um cinéfilo só pode ficar triste, muito triste, quando fica a saber que morreu o autor da fabulosa música de «A Ponte do Rio Kwai» (1957). Vou passar a asssobiar mais a "marcha do Coronel Bogey"!

sexta-feira, setembro 22, 2006

Chegadinho por e-mail:

"Ainda acreditam na versão "oficial" do 11 de Setembro?
Assista antes que tirem da Internet! Impressionante: http://www.pentagonstrike.co.uk/pentagon_bp.htm#Main"

Já vi e confirmo: a ser verdadeiro o filme, trata-se de um murro no estômago, e uma demonstração cabal da sentença de São Tomé.

But oh please, if it should not be you, don't ever tell me


A história de «Anastasia» (1956) passou há dias na RTP Memória (outro bom memento!) e é a história de Anna Anderson, que durante décadas a fio declarou ser filha de Nicolau e Alexandra, e que nem os tribunais conseguiram provar falar mentira ou verdade. A verdade é que Anna não só tinha a mesma deformidade na testa que a princesa verdadeira, como a marca da bala e as marcas das baionetas que os bolcheviques se encarregaram de infligir a toda a família Romanov, em 1918. O filme conta com Ingrid Bergman no papel principal, naquele que foi o seu regresso a terras do Tio Sam, depois do escândalo com Rosselini.

A verdade, porém, é que muito do filme é verdade, a começar pelo encontro entre a tia-avó e Anna. A verdade, contudo, é que Anna não falava russo, apenas inglês ou alemão ... e tinha como desculpa o facto de haver sofrido um pesado trauma ao ver a família ser morta. A verdade, contudo, é que o governo russo, depois de décadas de silêncio veio dizer que o teste de DNA aos restos dos corpos da trágica família tinham sido um sucesso, mas quanto aos ossos de Anastasia ninguém sabia diferenciá-los dos dos outros. Seria Anna uma mineira polaca, salva do suicídio por oportunistas?

Anna morreu em 1984, nos EUA, e a sua lápide diz apenas "Anastasia". Lembro-me da controvérsia nas revistas e nos jornais. Só ela saberia a verdade. O certo é que este filme de Litvak (também ele filho do Império Russo) e Yul Brynner (idem), por entre muito momento hollywoodesco, revela outros de cinefilia inolvidável, como o da reconciliação entre Helen Hayes (fabulosa, como sempre) e a Bergman, o da aula de dança desta com Brynner, e alguns toques de brilhantismo da Bergman.

I'm a poor lonesome cowboy?


Enquanto isso, chegado de Mongo e irado pelo protagonismo dado por RAA a Lucky Luke, (Flash) Gordon volta a ganhar poder destruidor e deixa cair por terras lusitanas um sem número de nuvens, relâmpagos e trovões.

Num jornal de referência

Para anteontem, o Zodíaco aconselhava aos naturais de Peixes: "comece o dia com dois copos de vinho tinto". Ainda bem que não tinhas vinho em casa.

«Night and the City» (1950)


Fuga melhor do que esta só mesmo a de Garfield em «He Ran All the Way», por sinal apenas um ano depois, mas isso são contas de um outro rosário.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Singing in the Rain?

Just singing in the rain,
What a glorious feeling,
And I´m happy again.
I´m laughing at clouds
So dark, up above,
The sun´s in my heart
And I´m ready for love?


Não, não fiz de Kelly, não rodopiei em nenhum candeeiro, nem me meti com nenhum polícia. Em vez de rir, cantar e dançar debaixo da chuva, estive furibundo esta manhã. Furibundo com a greve (de facto, e de zêlo) do Metro. Furibundo com a Carris que desviou em centenas de metros duas das minhas carreiras. Furibundo com a nuvem que o (Flash?) Gordon deitou por Lisboa. Furibundo com a camisa colada às costas, o guarda-chuva partido em três, e as pontas das calças cheias de lama. Só acalmei contigo.

Obituário: Sven Nykvist (1922-2006)


Este director de fotografia, mestre do claro-escuro, é um dos nomes mais importantes do mundo do cinema dos últimos 50 anos, foi dilecto de muitos dos filmes de Bergman (depois do mítico Fischer), e director da última fase de Woody, por exemplo. É um dos meus preferidos por detrás da objectiva, lado a lado com Almendros e Alcott. A ter que aconselhar um dos seus filmes, acho que o melhor será mesmo ver «Todas Essas Mulheres», de Bergman.

If you ain't got socks you can't pull 'em up, can you?

«Night and the City», de Jules Dassin, 1950.

Filmes em revista sumária #10

Pensava que ia ver uma coisa e saiu-me coisa bem diferente: «Man About Town», (traduzido por «Um Homem na Cidade»), visto o anúncio, dava a ideia de ser algo parecido com «Night and the City», e como fã desse tipo de filme em que o protagonista corre, corre, corre sem parar, tentando fugir ao destino (aquele mesmo que Murnau usa como móbil de «Nosferatu»), dei por mim vendo um filme que cai que nem ginjas a Ben Affleck, actor que nada me diz, por nada dizer. Ainda para mais, o realizador Mike Binder fora responsável por uma das boas surpresas do ano passado, «The Upside of Anger». Puro engano: o filme apresenta um argumento interessante, mas, com o tempo, rapidamente o estimulante passa a enfado, tornando-se repetitivo e previsível, esta comédia dramática de um homem ambicioso sem limites, que resolve parar para pensar. Pode ser que Ben siga o exemplo...

quarta-feira, setembro 20, 2006

Não há barreiras entre upstairs e downstairs



A prova que faltava: JPP estava enganado quando escreveu Ciclos e Mitos (2)!

Queriam impingir-me a vacina anti-gripe

- Não quer assinar connosco a proposta de vacinação anti-gripe?
- Não. Isso dá cabo das nossas defesas, dos nossos anti-corpos.
- Ah! Mas assim somos poucos. Além do mais, diz aqui que não dá.
- Ah! Diz aí, é?
- Deixe-o, deixe-o e que espirre! (sorrisos).
- Isso mesmo. Obrigado (sorrisos)
.

terça-feira, setembro 19, 2006

Integral Fassbinder na Cinemateca, em Outubro


Confesso que a minha relação com o polémico bávaro, morto antes de completar 40 anos mas com mais de 40 filmes já rodados, é um pouco sinuosa. Se tem filmes inesquecíveis («Lágrimas Amargas de Petra von Kant», «Casamento de Maria Braun», «Effi Briest», etc.), tem outros perfeitamente dispensáveis («Dritte Generation» ou «Lola»), quando não puro lixo («Querelle» e «Roleta Chinesa», por ex.). Seja como for, agradeço-lhe do fundo do coração o ter dado à tela Hanna Schygulla. Danke schön.

Filmes em revista sumária #9

Em «My Super Ex-Girlfriend» tudo, mas tudo mesmo, gira à volta de Uma Thurman. Por isso, em hora de balanço final, o que fica é uma palhaçada monumental cuja rodagem deve ter sido muito divertida para a bela G-Girl. Mas ao público apenas o diverte no óbvio.

Filmes em revista sumária #8

«Après vous» é um comédia simpática, bem rodada e interpretada (Daniel Auteuil é "aquela máquina"), com um trama bem divertida, e que apesar de dever muita coisa às comédias francesas de antanho é essencialmente actual.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Filmes em revista sumária #7

Cinematograficamente falando, «Vôo 93» é um filme mediano, medianamente aproveitador do efeito psicológico decorrente dos atentados do 11 de Setembro. Garante a pés juntos que o dito cujo não foi abatido no ar mas antes objecto de queda involuntária, por força da luta a bordo entre passageiros e terroristas, o que só lhe fica bem, claro. De qualquer modo, o filme vale pelas cenas nas diversas torres de controlo e para os diálogos que por lá se passam, verdadeiramente electrizantes. A acção a bordo do avião está relativamente mal feita. O resto é telefilme.

A questo punto, take #15 (e último)

De duas semanas por terras de Morte Alla Francia Italia Anella, a impressão mais viva foi exactamente um casório à Corleone (e em todas as igrejas que vi houve sempre uma boda, com pombas brancas, solistas, pêlos em pé - Albinoni, Pachelbel, Bach, e eu sei mais o quê). Sob os estuques de querubins, animais fantasiosos e mil ramagens, aquela nave gigante albergava uma centena de convivas e dois turistas acidentais. Com um grãozito na asa, ter-nos-íamos feito convidados para aquele copo-de-água que prometia Sinatra ao vivo, excelente mesa e um pézinho de dança de tarantella com a filha de Don Vito.

A questo punto, take #14

Erice (e tem piada como o nome mussoliniano acabou por vingar sobre Eryx) tem tudo para ser um postal medieval. Mas o que fica cá por casa, por cima de igrejas, retábulos e vistas deslumbrantes é aquela cassata de Maria Grammatico. Gostava que ela um dia as exportasse para Lisboa ...

A questo punto, take #13

As marionetas de Vincenzo Argento são talvez as mais genuínas e históricas de toda a Palermo. E o seu teatrino dei pupi, uma hora de puro entretenimento e nostalgia pelo realejo, pelo teatro itinerante, pelas cores e pelas aventuras de infância. Nunca tinha visto a saga de Orlando tão genuinamente contada como ali. Bravo!

sexta-feira, setembro 15, 2006

Pérola perdida na RTP Memória


Nem queria acreditar no que via: «The Paper Chase», de 1973, realizado por James Bridges, e com Timothy Bottoms, mais a televisiva Lindsay Wagner, e o fabuloso John Houseman (este papel valeu-lhe o Óscar), esse que era unha-e-carne de Welles; estava a dar no canal dos nostálgicos, e perguntei-me quantos estudantes de direito alguma vez o viram. Vejam e descubram as diferenças entre Harvard e as faculdades de direito que por cá existem, da cadeira de contratos ao espírito de competição, da filha do professor ao professor tirano. Mas descubram essencialmente o que os anos 70 tinham de tão único, que ainda não vi repetir-se.

Mole e macio

Ontem, acusaram-me de ser arrogante e prepotente. Não sei de que novela retiraram esses epítetos, mas, decididamente, estou a ficar macio.

A questo punto, take #12

Nem os venezianos nem os turcos sabiam, mas o rocócó ajudou a vencer os invasores: os barcos da Batalha de Lepanto eram feitos de estuque delicado e tinham mastros a ouro fino. É Serpotta quem no lo deixa ver, no oratório de Santa Cita, o mais bonito de toda a Sicília.

No meio está mesmo a virtude

Completamente em desacordo com o meu amigo AA no que toca a «Les Amants Réguliers», totalmente de acordo no que se refere a «Ferro 3».

quinta-feira, setembro 14, 2006

Volver à genuinidade


«Belissima» (Visconti, 1951)

A questo punto, take #11

Obcecados pela obra-prima de Lampedusa & Visconti (como é possível falar de um, esquecendo o outro?), resolvemos procurar em Palermo a taberna escura e porca onde o Príncipe de Salina, Burt Lancaster, resolveu ir beber um copo e preparar o encontro com a amante. Depois de nos perdermos na noite palermitana lá encontrámos a Osteria dei Vespri, numa pequena e decadente mas belíssima praça. Só que a taberna virou restaurante brilhante e de cozinha de autor, caro, mesmo para turista acidental norte-americano (quanta semelhança com o Martinho da Arcada!). O interior mantém um certo encanto, apesar de já nada ter a haver com o do filme, mas parece mesmo que aquela mesita defronte à porta de entrada, continua reservada à espera do Príncipe.

A questo punto, take #10

Pirandello, Dante, Garibaldi, Vittorio Emanuele, Umberto I; não há aldeia, vila ou cidade siciliana (eu diria, italiana) que não os tenha na sua toponímia. Contudo, na visita à histórica Siracusa, desisti da busca pela casa do primeiro e meu amigo de mesa de cabeceira, e optei por descobrir como era o suposto mausoléu de um dos meus ídolos de sempre: Arquimedes. Abandonado a uma extremidade do parque arqueológico, lá estava o amontoado de pedras completamente ignorado (vil legionário que o trespassaste!). E mais não vi. Mas escutei. Escutei na "orelha de Dionísio" os seus prisioneiros conspirarem contra o rei tirano.

Filmes em revista sumária #6

«Find me Guilty» marca o regresso do veterano Sidney Lumet às salas portuguesas. Eu, fã do cinema pensado do autor de "Dog Day Afternoon", não posso deixar de pedir a palavra para dizer que já vi "n" filmes de tribunal melhores do que este, a começar por outros do mesmo realizador, basta recordarmo-nos dos fabulosos "Twelve Angry Men" e "The Veredict". E apelo ao homem que veio da TV e resolveu pulverizar o cinema de intriga jurídica, para que silencie aquele Vin Diesel a arvorar ao mafioso, pois que sem ele a liderar o elenco, certamente que a história verídica do mafioso palhaço, mas não bufo, teria sido muito mais bem contada

quarta-feira, setembro 13, 2006

A questo punto, take #9

Em Palermo há armadilhas para turista incauto: numa das suas mais belas praças há um pedestal com uma estátuta de Carlos V. Alguém lhe enfiou uma bandeira italiana no braço, just in case... é como se por aqui se pusesse uma bandeira de Portugal no braço da estátua de Filipe I (II em Espanha) ... estátua que não existe, claro, de um rei que nos é feito ignorar, claro.

A questo punto, take #8

Chegado a Palermo, e cansado de 200km intercalados por paragens turísticas obrigatória, rapidamente me apecebo que os parlamitanos não me vão dar tréguas, seja de carro seja de moto. Recorro a «Bullit» e apelo a McQueen, e faço da Musa um Mustang. Não me dei mal. Foi entregue imaculado.

Na volta de Almodóvar

Pedro Almodóvar é um realizador que não deixa ninguém indiferente; pela sua irreverência, pelo humor negro que incute aos seus filmes, e pela capacidade que teve em relançar o cinema espanhol, até aí assente em 2-3 velhos pilares "incontornáveis". Mas, curiosamente, o que mais me encanta no cinema do autor de «Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos» é o seu romantismo, a sua capacidade em acreditar que os sonhos se tornam realidade; capacidade que chega a ser masoquista, de que «Todo sobre mi Madre» e «Habla con Ella» são exemplos maiores.

Desta vez, os manos Almodóvar (seja feita justiça!), decidiram voltar ao humor negro, à província, aos tiques exagerados («Volver» é o nome de um tango, é preciso não esquecer!), ao cacarejo do mulherio. E fazem-no utilizando um pouco de tudo, decalcando personagens e cenas inteiras do neo-realismo, do sério de um De Santïs ou de um Rosselini, mas também do cómico de um Scola ou de um Risi. Chega até a haver soluções à Hitchcock (veja-se o destino dado ao corpo do marido, por exemplo).

«Volver» é um filme engraçado q.b., de um realizador que já nos habituou a um tal padrão de qualidade que tudo quanto seja abaixo de óptimo é mau. O filme peca, no essencial, por uma coisa: nisto dos filmes (tal como em muitas outras coisas, aliás), cópia por cópia é sempre preferível o original; por isso mesmo, e por mais que Pedro Almodóvar e Pé se esfarrapem, nada há que substitua uma Ana Magnani em «Bellissima». Ah!, é verdade, o mesmo se aplica ao tango do imortal Gardel: uma coisa é ouvir-se «Volver» da boca do argentino, outra é ouvi-lo pela boca, em playback, de Pé. Cada macaco no seu galho.

terça-feira, setembro 12, 2006

Mal um festival fecha, logo outro abre

Depois de terminada Veneza e a distruibição do mal pelas aldeias, eis o Festival de Toronto. Quando é que Lisboa fará parte do circuito internacional?

Filmes em revista sumária #5

«Sonhar com Xangai» é um daqueles filmes que convém ver e registar como memento do que foram os resultados práticos da China de Mao. A migração voluntária, mas incentivada, de famílias para aqui e acolá, que acaba em segregação obrigatória, é dos exemplos do que foi a Revolução Cultural. Eis também como era (é?) difícil uma história de primeiro amor em terras do Grande Timoneiro. Xangai é vista aqui como a meta, o destino sonhado, o El Dorado da "terra do nunca".

A questo punto, take #7


As águas e a envolvente da baía de Mazzarò não podiam ser mais bonitas do que são. No entanto, por causa das pedras, não te pude fazer o que Burt Lancaster fez a Deborah Kerr, em «From Here to Eternity» (1953).

segunda-feira, setembro 11, 2006

A questo punto, take #6

Entre a impressionante Vulcano, a poucos metros do ferry, e Stromboli, massivamente impressionante, ao longe: Lipari, que tem na pedra-pomes o seu encanto, e de que só tenho pena Rosselini não se tenha lembrado das suas águas e das suas areias para umas fotos com Ingrid. Curiosidade: o ferry chamava-se Leviatã e tinha pavilhão português, da Madeira.

À margem de Wong-Kar Wai

Que dizer quando 2 pessoas adultas declaram, alto e bom som: "somos tão diferentes dos chineses, que os filmes que eles fazem não me interessam" e "este filme já vi, é aquele em que famílias diferentes vivem todas no mesmo andar".

Depois do frete, o descanso


Sábado passado, após mitigado frete familiar, fui levado para outra dimensão ao virar da esquina. Liguei a RTP2 e dou por imagens da «In the Mood for Love», a obra máxima de Wong-Kar Wai. Um filme quase perfeito. E imprescindível. Domingo de manhã, já soava aquele ritornello poderoso por todo o prédio.

A questo punto, take #5

Noto é uma cidade deslumbrantemente bela, amarela e barroca. Mas é na cassata gelada do Caffè Sicilia que está a razão de ser de certo casal de turistas ter feito 2x 150 km num só dia, sob um calor intenso. Ah, já me ia esquecendo que de volta ao beau-séjour uma seta indicava uma vila de nome Buscemi, algures a poucos km dali.

Filmes em revista sumária #4

Em Génesis, muito de «Microscomos» ficou de fora: a desenvoltura, a singeleza, a objectividade. Agora, por mais que a Natureza faça as delícias do espectador, o filme tem mais de bocejo incontido que de objecto artístico-científico.

A questo punto, take #4

A culpa foi do cíclope Polifemo que vivia no Etna e que decidiu matar o pastor Aci, porque louco de ciúmes por Galatea. Esta, chorando, ressuscitou o amante sob a forma de rio, e no estuário se desenvolveram quatro vilórias Aci. Apesar da imponência da bela e barroca, Acireale, e da pictória e normanda Aci Castelo (onde ainda se lê, em venerando prédio, uma inscrição de Mussolini apelando à força das armas), a verdade é que foram os pescadores e os farilhões de Aci Trezza (que Homero jura serem rochas atiradas por Polifemo contra a esquadra de Ulisses), que encantaram Visconti e serviram de pano de fundo ao neo-realismo de «La Terra Trema» (1948). Numa das praças-miradouro sobre o porto, lê-se: "Piazza Lucchino Visconti, regista".

sexta-feira, setembro 08, 2006

A questo punto, take #3


Na via dolorosamente íngreme entre o hotel de vistas paradisíacas e o centro da vila que inspirou Goethe, D.H.Lawrence e uma catrafada de outros tantos, lembrava-me de De Sica e dos seus "Ladri di Biciclette". De dia ou de noite, o suor escorria-me sempre que por lá passava, e passei 7 vezes.

Filmes em revista sumária #3

Nesta profusão de filmes sobre super-heróis, mais isto e aquilo, este «Superman Returns» é uma adaptação honesta e devota aos Comics, e tem uma vertente técnica sóbria. Mas as imagens genuinamente parolas de Christopher Reeve voando com Margot Kidder, Brando e Susannah York platinados e vestidos de branco, o amalucado Luthor, de Gene Hackman, e a cápsula vinda de Krypton que põe os cabelos em pé a Glenn Ford, são aquelas que valem para a posteridade, por mais que os estúdios assim não entendam; quanto mais não seja por homenagem ao infeliz Reeve.

Filmes em revista sumária #2

O preto e branco de «Les Amants Réguliers» é insuperável, mas não chega para superar o enfado geral de quase 3h de pose de «auteur», e revivalismo bacoco. Nem para Cohn-Bendits reciclados, ou para espectadores induzidos em erro pela má tradução do título do filme ... só na minha sessão contei 24 abandonos. Quando "regular" não é regular.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Lynch homenageado em Veneza


Já sinto a garganta seca por "Inland Empire".

Filmes em revista sumária #1

«O Sentinela» é «só» o filme mais estúpido e mal feito dos últimos ... dias, sobre conspirações para matar o homem mais poderoso do mundo. E a estupidez começa logo pelo título em português, em que alguém resolveu mudar o género do substantivo "sentinela". Michael Douglas devia escolher melhor aquilo que co-produz.

A questo punto, take #2

No topo de Taormina, entre uma fabulosa loja de «coppole» e um anúncio a uma pizzaria «Don Corleone», em beco escuro, encetei a minha deglutinação de «cannoli», que só conhecia de Scorsese, e dos Sopranos. Uma delícia.

A questo punto, take #1

Há cerca de 20 dias, à chegada a Malpensa 1, o autocarro de ligação a Malpensa 2 fechou as portas violentamente a quatro turistas, atrasados 1 minuto em relação ao horário afixado. Perante os protestos, e depois de dizer que a seguir viria outro autocarro, o condutor vociferou: "dopo il capone, mando io".

Obituário: Glenn Ford (1916-2006)

Regressado de férias onde ignorei noticiários, eis que me assaltam com a notícia da morte de Glenn Ford, actor com quem sempre simpatizei (que diga presente quem sinta o contrário!). Nunca foi um actor excepcional, mas sim carismático e simpático. Nunca foi de escândalos, por isso não merecia ser esbofeado por Rita, ou Gilda, se preferirem. O meu papel preferido dele é o da adaptação de Evan Hunter, em "Blackboard Jungle" (Sementes de Violência).