sexta-feira, dezembro 22, 2006

Um Natal feliz para todos e boas entradas!


São os votos deste cinéfilo dos antípodas que, ao receber este cartão de Boas Festas do NR, da Cinemateca, faz copy-paste e vo-lo reenvia, com o seguinte memento: não se esqueçam de oferecer à vossa cara-metade uma lembrança bem apaixonada.

Até 2007!

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Let's go home, Debbie.


«The Searchers» é um filme magnífico, como quase todos os de John Ford, diga-se. E toda uma parábola, cujo significado acho que ninguém melhor que Pedro Correia para o resumir. Mas o melhor mesmo, mesmo, é sabermos que por mais que estejamos enfiados num buraco escuro, haverá sempre um tio Wayne que nos abrirá a porta e nos fará ver de novo a luz. Pelo menos, é essa a moral da história.

Está garantida a árvore para o ano...

E no outro Metro a seguir, noutra linha, fiquei a saber a explicação para que a "maior árvore de Natal da Europa" continue a conspurcar a praça mais bonita de Lisboa:

- Então, já foste ver a árvore do Terreiro do Paço, com a patroa? - diz um conviva de almoço de empresa, para outro, no meio de muitos.
- Não, não, a ver.
- Olha que vale bem a pena.
- Não sei, não. Muitos carros e bichas que nunca mais acabam.
- Oh, depois ainda podes ir ver o centro histórico...

Está chegando a hora ...?

Um acordeonista romeno tocava numa carruagem do Metro, em ritmo lento (ambos), o samba-marchinha de Rubem Campos e Henricão:

«... Ai, ai, ai, ai
Tá chegando a hora
O dia já vem raiando
Meu bem
Eu tenho que ir emhora»

If they move, kill 'em


É com esta frase lapidar, dita sob a forma de ordem enérgica, que William Holden fecha o genérico fabuloso de «The Wild Bunch», de Peckinpah. A frase é dita durante um assalto a um banco pela quadrilha selvagem, naquela que é uma das mais prodigiosas e violentas sequências jamais feitas pelo malogrado realizador, de um filme imprescindível na prateleira de quem gosta de westerns.

Are you gonna pull those pistols or whistle Dixie?


Esta deixa é de «The Outlaw Josey Wales», que é o meu filme preferido de Clint, não só pelo tema do renegado sulista que anda em ajuste de contas - estatuto cuja abnegação sempre me impressionou - e porque Clint está aqui em grande forma, mas por algumas sequências notáveis de cóboiada fílmica: o truque das pistolas dentro daquele cubículo de saloon perdido; e o duelo a cavalo, quase no fim, entre Clint e uma resma de caçadores de prémios, por ex.

Nothing's too good for the man who shot Liberty Valance


Que diabo, a morte de um homem tão mau, tão mau, tão mau assim como este que Marvin encarna prodigiosamente em «The Man Who Shot Liberty Valance», seria sempre motivo para as mais variadas formas de vanglória e fanfarronice declaradas.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Is it safe?


Daqui a pouco, nova visita à cadeira de Olivier, perdão, Dr. Christian Szell, e nova terrível exposição à broca e à pinça do arqui-vilão do genial thriller de John Schlesinger. Tudo por causa de um dente que já partira e que eu não ligara, agora partiu novamente.

His name was Jeremiah Johnson, and they say he wanted to be a mountain man (...)

Nobody knows whereabouts he come from and don't seem to matter much.


Nem a correr se foge ao destino ... é esse o mote de «Jeremiah Johnson», um western espectacular de um homem que busca nos picos nevados das montanhas a paz que se lhe recusam a dar na cidade. Uma saga por território índio, com a "parceria estratégica" Pollack & Redford em muito bom plano. Incontornável a visão em grande écran.

How come I've got to run into a squirt like you nearly every place I go these days? What are you trying to do?

Show off for your friends?


Não sou dos que acham que Gregory Peck é um canastrão. Nem tampouco que Henry King seja um realizador de segundo plano. Mas é por causa deste Jimmy Ringo, solitário e cansado de tanto matar; e por causa desta cena no saloon, que tenho «The Gunfighter» (1950) na minha lista dos mais-que-tudo.

Qual delas é a verdadeira?


Falou-me o JA (grande amigo distante) numa cadeira desenhada por Arne Jacobsen, e mandou-me esta foto magnífica da musa da espionagem do pós-guerra, Christine Keeler, que levou à loucura John Profumo. E imediatemente me lembrei do filmezeco de Caton-Jones, «Scandal», de seu nome, em que a ex-Mrs.Val Kilmer fazia da dita cuja, e um Ian McKellen meio perdido, de Profumo. Um filme visto numa das miseráveis salas do defunto (foi bem feito!) Alfas.

E como balada puxa balada


Eis «Johnny Guitar», para muitos a melhor história de amor alguma vez filmada, mas para mim «apenas» um dos melhores westerns de sempre, que foi realizado (em total souplesse) por Nicholas Ray, em 1954, e que tem alguns diálogos de antologia, como este:

- I didn't get your name stranger.
- Guitar. Johnny Guitar.
- You call that a name?
- Care to try and change it?

I should think that if nothing else, you'd at least be flattered to have a girl chase you.


O episódio de OK Corral foi contado de muitas formas, em versões mais ou menos livres. A de Ford é esta, é de 1946 e é a que eu prefiro. Só pelo nome, até: «My Darling Clementine», e pela cançoneta que o acompanha.

Los olvidados #22: Clara Calamai (1915-1998)


Dei por mim recordando-a, ao manusear o DVD de «Ossessione» (um filme, por sinal, onde substituiu a Magnani, que estava de esperanças). Que diabo - pensei -, nunca ninguém fala nesta actriz, porquê o esquecimento? É certo que a sua popularidade «apenas» vigorou entre as décadas de 40 e 50 (com o final da guerra, veio o começo do declínio) e que foram os seus seios nús a darem-lhe o passaporte para o estatuto de diva do cinema de Mussolini (dessa época reporta este excerto acalorado de carta dirigida aos soldados alemães: "Voi combattenti germanici che, insieme ai camerati italiani e agli alleati, difendete la civiltà europea, siete tra i miei amici più cari, ai quali si rivolge ogni mio riconoscente pensiero"), em filme de Blasetti, em 1941. Era conhecido o seu olhar faíscante. Dizam dela que ostentava uma elegância funcional e rica, de milanesa. Gosto dela particularmente naquele pequeno papel em «Noites Brancas», também de Visconti, já em 57, fazendo de prostituta.

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terça-feira, dezembro 19, 2006

Anita por toda a casa

Ontem, altifalante para a diva, e recentemente falecida, Anita O'Day. Voz cristalina. Na prateleira correspondente, faz companhia a Billie, Nina e Sarah (faltam Ella e Peggy, eu sei). «The Lady Is a Tramp» nunca foi tão bem cantada como por esta Jezebel do jazz. Claro que Gene Krupa também deu uma ajuda.

You came back - for a place like this. Why? A man like you. Why?


Pouco me interessa se John Sturges copiou Kurosawa, e menos me importa se falhei descaradamente a exibição de «Os Sete Magníficos» (1960) no Éden, e apenas o vi em reprise desde uma daquelas poltronas do defunto Apolo 70. Adoro este filme.

«Un Homme et une Femme», 40 anos depois


O primeiro foi em 1976 e como nunca tinha visto o «20 ans déjà», vi-o (a este) ontem, 20 anos depois de ter estreado, e mais 20 sobre o original. Mas valeu a pena ter ficado a noite defronte ao televisor, das 9 às 11. Anouk merece todos os elogios e mais algum, e mesmo Trintignant não me conseguiu irritar por aí além. O filme é mediano, pois só vale pela revisitação de um clássico romântico e de uma balada que foram o apogeu de Lelouch, e de Francis Lai, respectivamente, antes daquele se ter afundado em boleros e pastelões, e 36 anos depois deste último ter recebido o Óscar pelo tema, igualmente belíssimo, de «Love Story».

Obituário: Joe Barbera (1911-2006)

Este ex-aprendiz de alfaiate fez com William Hanna uma daquelas parcerias míticas e prolixas (durou 17 anos, rendeu 7 Óscares e 8 Emmys) que explicam muito do sucesso do cinema de animação do pós-Disney. O cinema está de luto e dou os meus pêsames mais sentidos aos Flinstones e a Tom & Jerry.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Às voltas com Amadeo

Confesso que as minhas demandas por Amadeo de Souza-Cardoso têm tido alguns precalços. A primeira vez foi em Amarante, com o museu fechado em pleno Sábado. Desta vez, a exposição na Gulbenkian.

Amadeo é sublime e não tem culpa que não saibam como fazer uma exposição. Quem for à Gulbenkian deve ir munido de um memento sobre os períodos, peripécias e parceiros artísticos de Amadeo, sob pena de se perder na confusão geral daquela exposição, com épocas e períodos misturados sem nexo, ou numa legendagem apostada em pôr a andar os visitantes e/ou a evitar que se interessem por algo mais que o autor, o ano ou o proprietário. E, depois, há uma coisa que me chateia tremendamente: em exposição, o circuito deve-se fazer pela direita!

God better have mercy on you. You won't get any from me.


O segundo filme de cowboys a ir buscar do baú é «The Ow-Bow Incident», é de 1943, tem realização do grande (e quase sempre esquecido) William Wellman, e é uma magnífica lição sobre a imoralidade dos linchamentos, e os julgamentos sumários, também. Enfim, contras das mobs face às crowds.

Obituário: Clay Regazzoni (1939-2006)


Era um dos meus preferidos do mundo da F1, logo a seguir a Stewart e a Lauda, e, apesar de nada ter a ver com filmes (que eu saiba), a notícia do seu desaparecimento é uma perda para o meu imaginário, pois muitas das minhas alegrias desportivas da década prodigiosa (anos 70) se devem a este suíço de bigode e ar simpático, ao volante da sua (minha) Ferrari. Não importa se podia ter ganho mais corridas que aquelas que efectivamente ganhou (talvez a sua abnegação em assumir-se como 2º...), mas sim o destino, que nada quis com ele, uma e duas vezes.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Nestes dias dou por mim assobiando e trauteando Marlène


Assez:

Moi je suis la fille que tu as oublié
Moi j'étais timide et tu m'as fait pleurer
Un peu blessée
Des rêves cassés
Le coeur brisé
Assez
Moi
je suis la fille que t'as fait rigoler
C'etait érotique, pourquoi tu m'as quittée?
Un peu blessée
Des rêves cassés
Le coeur brisé
Assez
Moi je suis la fille qui t'as une fois aimé
Moi je suis la fille que toi tu veux manquer
Un peu blessée
Des rêves cassés
Le coeur brisé
Assez
Le coeur brisé
Assez
Des rêves cassés
Assez
Un peu brisé
Assez

Conversa entre 3 estarolas, fiscais da EMEL


1º para o 2º- É pá, ainda me lembro de tu dizeres que o Ronaldinho Gaúcho vinha para o Sporting. (risos)
2º- Oh!
1º- Ele é parecido é comigo, a jogar, claro. (risos)
3º- Pois eu acho que ele é parecido é com o Jar Jar Binks.
1º- Quem?
3º- O Jar Jar Binks, da Guerra das Estrelas! (galhofa)
1º- Olha, tenho que ir com a minha mulher ver a exposição no Museu da Electricidade. Mas não sei onde fica aquilo.
2º- Fica em Belém, junto ao rio.
1º- Em Belém, onde? Ao pé do Aquário Vasco da Granja, da Gama?
3º- Granja? (risos)
1º- Aquário Vasco da Gama!
2º- Não. Fica na Avenida Brasília, ali ao pé da estação de Belém.
1º- Oh, e disseram-me que era na 24 de Julho. (palavrões)
3º- E o Granja, meu, onde estará? Se calhar morreu.
1º- Era giro o programa. O pior eram aqueles filmes de leste.
3º- Pois, só mesmo os da Warner Brós é que eu via.

Saí da carruagem.

This is just a dirty little village in the middle of nowhere. Nothing that happens here is really important.


Para efeitos do devido acompanhamento à sondagem ao lado, a partir de hoje e até dia 3 (por razões sentimentais), serão colocados stills de westerns ao gosto da gerência. Se não gostarem, digam! O primeiro filme é «High Noon», de 1952, tem realização de Fred Zinnemann e conta com Gary Cooper no papel de um velho sheriff, relojoeiro nas horas vagas.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Obituário: Peter Boyle (1935-2006)


Quem diria que este matulão e truculento actor, de ascendência irlandesa, tinha sido monge numa irmandade cristã? E que até tinha boa voz? Peter Boyle tornou-se famoso na década de 70 com dois papéis míticos: o colega de De Niro em «Taxi Driver» (1976) e a criatura-monstro que um inspiradíssimo Gene Wilder resolve criar a partir de uma paródia extremamente bem apanhada por Mel Brooks: «Young Frankenstein» (1974), onde aliás conheceu a sua futura mulher, Loraine Alterman. Afilhado de casamento de Lennon, sempre foi um actor secundário, e como bom secundário que foi em mais de 80 papéis, tanto no cinema como na tv, diversas vezes o nomearam, e bem, para os Emmy, pelo seu desempenho na série televisiva «Everybody Loves Raymond» (1996-2005), série onde aliás teve um ataque cardíaco em 1999. Recusou muitos filmes por os achar violentos em demasia. Parecia ter mais do que 71 anos, quando morreu no dia 12.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Los olvidados #21: Gino Cervi (1901-1974)


Este foi talvez um dos maiores e mais carismáticos actores italianos de sempre, mas nem sempre as pessoas se lembram dele a não ser pelos 5 Peppone que tornou inimitável, lado a lado com D.Camillo, de Fernandel. Com efeito, este bolonhês, forte e roubusto, mas de fino recorte, que é reverenciado na sua terra natal até com festivais, e que começou no palco (interpretando Pirandello, Goldoni, Bernard Shaw e muitos outros) e acabou na tv (interpretando Maigret, aos sessenta e tal anos), como é usual nestas coisas dos actores; ficou para a história do cinema com aquela personagem do político comunista e comicamente severo, que fez as delícias de muita juventude, inclusive a minha, quando o via na falecida RTP, degladiando-se com o seu amigo padre, interpretado pelo francês. No cômputo geral ficaram 120 filmes para além da série de Duvivier, realizados, entre outros, por Comencini, Guitry, Blasetti, Clément, Verneuil, De Sica e Antonioni. Chegou a dobrar celebridades como Gable e Olivier. Cervi terá dito um dia: la più diffusa malattia degli occhi è l'amore a prima vista. Totalmente de acordo.

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Que tem de comum o magistral tema musical de «O Padrinho» com a «A Crise dos 40»?

Nada, aparentemente. No entanto, essa música toca nas estações do Metro, suportando um anúncio do canal de publicidade da Media Capital, a uma peça (que suspeito ser execrável) designada assim, em cena no pseudo-Teatro Mundial, explorado pelo mesmo grupo empresarial.

Frequentei muitas vezes o antigo Cinema Mundial. Nunca foi do meu encanto, apesar de lá ter visto alguns belos filmes, a começar por «E.T.», que por sinal foi o último bom a lá passar enquanto sala única. Depois, veio o famigerado Coronel Silva para a Lusomundo, uma sala virou três, vieram as pipocas, o cheiro insuportável a esgoto na sala principal, a má insonorização, etc., etc. Até que fechou, para bem dos nossos pecados. Agora, dizem que é teatro. Só para rir.

Nestas alturas em que todos precisamos de férias de Natal ...

aqui ficam 3 sugestões de passeata pela Net dedicada ao cinema:

1. Nos clássicos Cahiers du Cinéma, uma oportuníssima discussão ao derredor de Jean Eustache, esse cineasta tão esquecido quão original: Jean Eustache, Sexta-Feira 15, em directo às 17h.

2. No periódico mais interessante que por aí se vai fazendo, Senses of Cinema, a «discussão séria e ecléctica sobre cinema».

3. As notícias e a «fofoca» sobre o que vão fazendo por aí as estrelas de cinema, como, por exemplo, os processos de que vem sendo alvo Borat, perdão, Sacha Cohen, ou a vocação social de algumas delas.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Por esta data recordo-me quase sempre de 2-3 filmes de me encher a alma, por razões diversas:

Um, porque projectado vezes sem conta no cinema dos Salesianos:


«The Greatest Story Ever Told» (1965)


Outro, porque projectado vezes sem conta na TV:


«It's a Wonderful Life» (1946)


E um outro, porque projectado vezes sem conta no Monumental:


«The Sound of Music» (1965)

Querido Pai Natal, deste-mos um dia e eu estraguei-os, podes voltar a dar-mos?

Por falar em prendas, aqui fica a minha listinha (*), sabendo de antemão que a época é de crise:

1. Colecção inteira dos clássicos Disney, pela Lello, em formato grande e com lombada de tecido vermelho.
2. Caderneta de cromos da História de Portugal, de 1963.
3. Colecção Série TV Thunderbirds.
4. Kit 007, composto por pasta de executivo preta, pistola Beretta preta com silenciador, caneta de tinta invisível, passaporte, etc.
5. Um saco imenso de peças Lego, da mais minúscula e mais estreita, de um só buraco, às que formavam telhados, finos e maleáveis.
6. Jogos Majora: Glória, Volta ao Mundo, Sherlock Holmes e Combate Naval.
7. Meccano, de preferência em material plástico.
8. Jardim zoológico completo, da Timpo.
9. Decalcomanias das colecções vermelha e amarela da Action Transfer, de preferência por encetar.
10. Kits da Corgi Toys, do 007 e do Batman, e das séries tv «Os Vingadores» e Daktari.
11. Rádio-gira-discos portátil, anos 60, em branco e verde.
12. Coelho saltitão gigante, em borracha cor-de-laranja, com os olhos e focinho desenhados à frente, e as orelhas servindo de suporte para as mãos.
13. Kit de médico, composto por mala de médico branca, seringa, algodões, tesouras, pinças, estetoscópio, lupa, luz, etc.
14. Máquina de projectar filmes, com os respectivos da Formiga Atómica, Zorro e Pica-Pau.
15. A minha trotinete de ferro maciço pintado de encarnado, suporte ondulado em tons de prata, guiador com aplicações de plástico preto, e rodas de borracha amarela dentada.

(*) Lista sem qualquer ordem de preferência.

Uma Casa Portuguesa perto de si!


Fica no Chiado, na Rua Anchieta, Nº 11 (a seguir à Livraria Bertrand), é a primeira (de muitas, espero!) loja d' Uma Casa Portuguesa, é uma lufada de ar fresco no comércio lisboeta, e ninguém consegue resistir a sair de lá de mãos a abanar. Além disso, a loja em si é fabulosa, pois é uma antiga fábrica de perfumes, da extinta "David & David". Um grande beijinho à CP, que ela merece!

Está de volta o terror em português:

Trata-se, segundo me informa Margarida Campelo, da organização, de um "projecto televisivo que alia a beleza da película 16mm à eficácia do digital de alta definição de última geração" e chama-se «Um Mundo Catita». E tem ante-estreia agendada para Janeiro de 2007.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Blasfémia

É escutar-se «She», por Elvis Costello, no sítio mais feio e repugnante do mundo, sabendo que ninguém ali faz a mais ínfima ideia que o tema seja de Aznavour, aliás, nem fazem ideia de quem este seja.

Sabores de Natal:


As tuas filhós (tenho particular carinho pela terminação "oses", que me lembra a Primária), com calda e feitas em ripas de massa frita em azeite. Como adorava ajudar-te a fazer aquela massa, até que aparecessem as bolhas de ar, e tu dissesses "está pronta", Avó que Deus tem.

Mas agora são o teu Pitiviers de ameixas e as tuas fabulosas pirâmides de gengibre e pinhão. As trufas de chocolate, de amêndoa, que me enchem as medidas.

Gosto de perú assado, com batata palha e puré de maçã, mas sonho com ganso, em homenagem a Selma Lagerlöf. Abomino o bacalhau cozido, bem como aquilo que nos restaurantes tratam por filhós, e sonhos.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Obrigado, JA, é lindíssima!


O carteiro toca sempre duas vezes e, à segunda, abriu-se-lhe a porta e ele pôde entregar, juntamente com um especialíssimo acessório de cozinha, uma pequena e preciosa colecção de sêlos com Greta Garbo.

Mulheres ao volante, perigo constante?


Recuso-me a aceitar este provérbio como infalível, mas há pouco: apitadela monumental, carro a guinar junto ao lancil do passeio, transeuntes ofendidos - Betty Boop estica o dedo. É o progresso.

Promessa ao incrível almadense

Meu pneu Michelin, está prometido: se algum dia te atravessares à minha frente, indo eu ao volante, não hesitarei nem por um segundo em espalmar-te ao jeito dos cartoons da Looney Tunes. Prometido.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

L' Atalante


Um dia partiremos numa barcaça, num batelão, rios acima. Só conta a partir do canal de Luís XIV, entre o Atlântico e o Mediterrâneo. Depois, é sempre a subir. Não contaremos é com Vigo para nos filmar. Je suis desolé.

E a resposta à adivinha é:


Loretta Young (1913-2000)


Foi ela, por sinal uma das minhas actrizes preferidas, a estrela de «The Farmer's Daughter», quem viveu ali, naquela casa perto de Peniche! E aquela menina é a sua neta, e, portanto, também neta de Clark Gable. E esta, hein?

terça-feira, dezembro 05, 2006

- Maybe Paris has a way of making people forget.

- Paris? No. Not this city. It's too real and too beautiful to ever let you forget anything.



«An American in Paris» (1951)

Filmes em revista sumária # 23

«Paris, Je t'Aime» é uma compilação de 18 abordagens aos «arrondisements» parisienses, sob a forma de 18 curtas, por 20 realizadores. Não estão lá todos os bairros, mas estão realizadores a mais. Como compilação ou mosaico, há sempre alguns elementos dissonantes: os episódios do cabeleireiro chinês e da Binoche são disso exemplo. E há profundas decepções: é o que acontece, desta vez, a um maçador Van Sant (quando é que se cala com o Kurt Cobain??). Mas, neste filmes para amantes de Paris, e cinéfilos, em geral (aquela monumental homenagem de Depardieu a Cassavettes, via Gazzara & Rowlands, é uma delícia), são mesmo os americanos, paradoxalmente, a assegurarem os melhores trechos, vide manos Coen, Natalie Portman (via um agora inspirado Tom Tykwer) e, sobretudo, o episódio final, o trecho de Alexander Payne, sublime de profundidade. No cômputo geral, poderia ter sidor pior, melhor, mas mesmo assim; e replicando à deixa do título, não seguirei Gainsbourg & Birkin, e digo: Moi aussi!

Luc Besson filmará mais se Artur for um sucesso

«O realizador francês tinha anunciado que só faria dez filmes e, com Artur e os Minimeus, onde cruza animação com imagens reais, atingiu o número. Mas o menino solitário que cresceu no Club Med está pronto para contar mais histórias de outro menino solitário que descobriu miniamigos no meio das ervas.»

Assim começa um artigo no Público de hoje. Eu, por mim, rezo para que Besson nunca mais filme nada, nadinha. Nunca me convenceu com as suas parvoíces americanizadas. Nestas coisas de filmes, e não só, é sempre preferível o genuíno à cópia.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Porque gosto quase tanto do tigre como do leão


II n'y a pas de plus profonde solitude que celle du samouraï; si ce n'est celle du tigre dans la jungle, peut-être ...

(«Le Samouraï», de Jean-Pierre Melville)

Beetlejuice, beetlejuice, beetlejuice!

Enquanto o exorcista de humanos não aparece e realiza um acto de misericórdia, o incrível almadense oscila entre dois amores: o pandeiro alargando-se no assento, e o faz-de-conta que é para levar a sério. Assumidamente obeso, à espera do cutelo.

I'm the ghost with the most, babe.


«Beetlejuice» (1988)

Filmes em revista sumária # 22

«Borat, Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan» é a maior pedrada no charco do cinema politicamente correcto de que há registo na minha memória. De uma assentada, Sacha Baron Cohen (de ascendência judaica, portanto), escalpeliza e arrasa com os preconceitos rácicos, sexuais e demais. Comprova o paradoxo da sociedade norte-americana, que de tão permeável e polida, é ainda mais bárbara do que a Cazaqui (e nem sequer é subliminar essa perversidade em Borat). Compreendo a reacção anti-Borat pelos excessos verbais e físicos, obscenos e primariamente mentecaptos, que não são para o comum dos estômagos. Não a compreendo se pretende definir Borat como «não cinema», e exemplo da morte anunciada da 7ª Arte, já que isso daria «pano para mangas», já que exemplos de colagens de sketches do modelo televisivo é coisa que não falta por aí, pasme-se, desde os primórdios da TV. Por sua vez, lembremo-nos que um écran negro com narração off foi já considerado como cinema de fino quilate ... coisa que colide com a própria de cinema como cenas animadas ou em movimento!