sexta-feira, março 31, 2006

Parem de torpedear Griffith!

Igualmente salutar é a discussão inter-galaica com FCA em torno de quem deu maior contributo ao Cinema: se Griffith, que defendo, se o dinamarquês Benjamin Christensen. Eu sei das correntes anti-DWG que se têm manifestado aqui e acolá (por exemplo, no newsgroups sobre filmes mudos, há este comentário: "One has to take only one look at a film from a Danish or Swedish filmmaker from this time period to come to the conclusion that D.W. Griffith was NOT "the man" but was only one of several brilliant filmmakers on earth at the time making films that look like they were made much later then their production dates. Victor Sjostrom and Maurice Stiller made films in the teens that were very sophisticated, mature and compelling works that (what survives) have stood the test of time."), ao longo dos últimos 100 anos.

A questão de fundo é sempre a mesma: DWG era um autoritário, um explorador de talentos alheios, e tinha tendências evidentemente racistas. O homem provoca paixões acesas, e a coisa é difícil de gerir. A minha melhor resposta para ti, amigo Fer, é injectarmos doses diárias de estrabismo divergente, num e noutro, a fim de nos possibilitar visionar ao mesmo tempo, de um lado. 0 punhado de filmes do dinamarquês que ficaram até aos nossos dias, e do outro, outros tantos filmes de DWG. Eu sei que o risco de avariarmos a retina é grande, por força da disparidade total em termos de duração média dos filmes de um e doutro. Mas acho que é um risco necessário. Será que algum dos demónios de «Häxan» nos pode dar semelhante poção ... por 24h?

Blogues franco-obsessivos

Tão salutar quanto a obsessão de AA pelo formalismo re-inventado de Rivette, é a minha outra pelo romantismo irreverente de Resnais. De franceses vivos estamos falados. Talvez não, que exagero. Mas quando quer, Resnais é insuperável. Basta ver-se aquela cena de amor, de La Guèrre est Finie (1966), quando menos se esperava e filmada como se da Via Láctea se tratasse: sublime.

Plutão fica assim tão longe?

Baseado numa novela homónima do escritor e dramaturgo irlandês Patrick Mccabe, «Breakfast on Pluto» torna-se um filme irresistível (mais um de Neil Jordan) à medida que se nos vai entranhando aquele ser estranho, inadaptado e terrivelmente provocador que dá pelo nome de Saint Kitten; o outro lado do espelho de Dorothy, em busca por Plutão, a outra face do arco-íris. Jordan já abordara o hermafroditismo noutros filmes da sua mui meritória carreira, mas desta vez tentou uma extravaganza, assente numa panóplia de ingredientes únicos: uma fabulosa novela a condizer, a Irlanda, fonte de todas as contradições; um conjunto de argumentos técnicos e artísticos de se lhe tirar o chapéu, e uma interpretação de Cillian Murphy absolutamente fantástica, compondo uma personagem tão extravagante e delirante quanto fascinante; só possível nos 70's? Talvez.

O tema de Legrand só passa 2 vezes ao longo de todo o filme, por sinal nas suas melhores sequências, sempre que entra outro actor fabuloso: Stephen Rea, e a magia e a féerie tomam conta do filme. Mas como o resto da banda sonora é de encher o ouvido, podemos passar sem a omnipresença de «Windmills of your Mind».

Antes fosse preciso chá a Alvalade ...

Por causa dos magníficos chás (sobre os scones, não comento) desta casa de chá da Luís Palmeirim, à Avenida da Igreja, volvi a um perímetro que me é grato de infância e adolescência, mas a que não voltarei tão rapidamente. As razões são duas: aquela escola que ali está já não é a minha Eugénio dos Santos (onde estão os pátios dos recreios amplos, sem vedações nem carros estacionados? onde param os meninos e as meninas brincando nos relvados dos canteiros e nos corredores empedrados junto ao portão principal? onde páram as aulas de música? e as 2ªs matinés do Alvalade, ali em frente?), e repugna-me ver o que dois despachos idiotas e provincianos saídos dos gabinetes do ex-ministro Santos Silva e do ex-autarca J.Soares fizeram ao meu Alvalade, em prol do "progresso" de alguns empreiteiros. Um bairro mutilado, é o que é.

quinta-feira, março 30, 2006

Hoje: ida obrigatória ao cinema

Hoje estreia-se «Breakfast on Pluto». Por nada deste mundo perderia este filme. Está lá a melhor música que alguma vez ouvi num filme: «The Widmills of your Mind», de Legrand. É razão suficiente? É.

Los olvidados #9: Silvana Pampanini(1925-)

Se me perguntarem se Nini Pampam(como acabaram por tratá-la) foi a raínha do cinema italiano, digo "no", porque esse título pertence a um dos seguintes colossos: Bertini, Magnani, Mangano, Loren ou Gina. E por que carga de água me lembrei desta senhora, que por acaso foi Miss Itália (por aclamação do público, contra a decisão do júri, por ser demasiado sexy para a altura!), em 1946? Por nada, em especial. É um nome que fixei na altura em que devorava os filmes realistas de De Santïs, que perturbavam as mentes puritanas, sem sequer desvendarem um cm2 de nudez feminina, de quem «Um Marido para Anna Zaccheo» (1953) é exemplo melhor. Começou por querer imitar a tia, cantora lírica, mas acabou na tela, para bem do cinema italiano, sobretudo da década de 50. Frontal, sem papas na língua, vê-se em decréscimo logo a partir da década seguinte, nunca mais recuperando o estrelato alcançado: culpa do seu carácter? culpa dos filmes medíocres que Itália passou a produzir? Já entradota voltou a alguns papeís de sucesso esporádico. Mas o comboio passara. Entre os muitos apaixonados contou-se Fidel, de quem não gostou: "demasiado barbudo", disse recentemente.

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Avião? Barco? Bicicleta? Carro? Triciclo? Trotineta? Ou, simplesmente, comboio?

De vez em quando dá-me na cabeça pensar em filmes passados em meios de locomoção. Ou melhor, qual o transporte que permite tudo ou quase tudo em termos cinematográficos? Qual o mais fotogénico, a bem dizer? E a resposta sai, rápida: o comboio. Esse demónio em movimento, como o polaco Stefan Grabinski o descreve (ler edição da Cavalo-de-Ferro), de forma transcendental. Esse demónio que nos tem levado, a ti e a mim, a tanto lugar de peregrinação interior; o comboio serve para tudo e continua sempre a andar: aventuras, assaltos, romances tórridos, crimes e mistérios, catástrofes e descarrilamentos, almas do outro mundo e deste, miragens, despoletares vários.

E se eu tivesse que eleger um filme sobre comboios? Oscilo, depois de percorrer muitos ramais secundários oscilo entre 3 carris principais que seguem em linha recta, cruzando-se algures no infinito: «Runaway Train» (1985), «Strangers on a Train» (1951) e «La Bête Humaine» (1938). O primeiro porque dele não consigo esquecer os prisioneiros incentivando e gritando por Manny, uma prestação assombrosa de Jon Voight. O segundo porque é quase impossível recusar-se uma proposta àquele Bruno (Robert Walker). O terceiro porque sempre que o vejo me faz desejar ser maquinista de locomotivas a carvão, como Gabin, rumo ao além, sem medo.

quarta-feira, março 29, 2006

Humanize-se a pequenada, já!

A propósito do penúltimo post, acho que o que faz falta aos meninos e meninas de 6-9 anos de idade é menos computador e mais magia e imaginação. Claro, caso que isso aconteça um dia, correrão o risco de se tornarem pequenos brutos dos antípodas, tal qual o escriba cá do burgo. Mas porque sou tão fundamentalista? Com as novas tecnologias, os pequenotes da Primária, perdão, que me esquecia do politicamente correcto; os pequenotes do Ensino Básico, podem pedir aos seus papás que lhes comprem os DVD das minhas séries preferidas antes do copo de leite e da sanduíche de fiambre ou queijo (era fiel amigo do Limiano da mercearia da esquina, ainda antes do deputado do queijo pensar que podia ser deputado, claro): «O Carrossel Mágico», «Os Meus Sobrinhos», «Kimba», «Os Beatles», «Os Vingadores», «A Família Partridge», «Skippy», «Thunderbirds», «Os Flinstones», «Daktari» e «Os Pequenos Vagabundos». Atenção, papás, esta lista não tem ordem absolutamente nenhuma, caso contrário, os últimos seriam os primeiros...

terça-feira, março 28, 2006

O terror oriental doentio, ao seu melhor

«3...Extremos» são 3 segmentos de um mesmo terror asiático, assinados por 3 dos mais cotados realizadores do género, Fruit-Chang (Hong Kong), Park Chan-wook (Coreia do Sul) e Takashi Miike (Japão), que oscilam entre o mais grotesco terror nonsense e as assombrações tipicamente nipónicas. Ao extraordinário e chocante argumento do primeiro conto, em que os bolinhos feitos a partir de ... são afrodisíacos e tonificadores perversos; junta-se a encenação sádica e operática (opera buffa) do sul-coreano, ainda e sempre obcecado por machadinhas. No fim, vencem a estética e a prodigiosa gestão de silêncios de Miike, numa pequena metáfora terrífica e claustrofóbica sobre pêsos na consciência. Um filme feito de episódios, terrivelmente encadeados e de difícil indigestão para mentes conservadoras...

segunda-feira, março 27, 2006

Ah, como os meninos da actualidade precisam desta ama...

Emma Thompson virou argumentista e intérprete de filmes para crianças, e elas agradecem, e nós também se for esta a única forma de vermos e ouvirmos esta excelente actriz. Mesmo que esta «Nanny McPhee» seja pouco mais que uma revisitação de Mary Poppins, aqui muito mais pop star e com muitos efeitos especiais em estado de arte. Os actores ingleses (Firth, Landsbury, Jacobi, etc.), e a fortíssima veia humorística e criativa tanto da encenação como da fotografia, fazem o resto, neste filme coloridíssimo e engraçadíssimo, genérico inclusive.

Los olvidados #8: Pier Angeli (1932-1971)

Com uma média de quase 1 filme por ano de vida, esta morena da Sardenha, de metro e meio, mana de Marisa Pavan, cedo foi descoberta para o grande écran, primeiro em Itália, depois por Hollywood, cuja MGM idealizou nela a sua estrela do futuro. O seu rosto angelical era filão ideal para filmes de adolescentes. Mas depois veio Dean e a paixão de que nunca iria recompôr-se, apesar de ter encontrado no casamento com Vic Damone um porto de abrigo momentâneo, e disso lhe ter custado vários filmes. Mais casamento viria. E depressões também. Até à overdose final (acidental?), paradoxalmente na ante-véspera de um regresso à TV e ao cinema. Em memória RAM ficam as suas interpretações como mulher do soberbo Newman de «Rocky Graziano», e em «História de Três Amores», como bailarina obsessiva, baloiçando em baloiço de parque infantil. I have loved one person in my whole life, and that was James Dean, afirmou.

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«Underworld Evolution» vs. «V for Vendetta»: dois em um?

Duas borracheiras é o que são «um» e «outro». A primeira, mais do que a segunda, apesar de tudo. Em monotonia computorizada, decalcomania pura e dura, sem respeito pela memória, sem respeito pelo espectador nem vergonha pela ausência de talento de quem se afirma argumentista. No primeiro, o jogo de computador desenrola-se entre alcateias de lobisomens estupidificados e vampiros anfíbios, perdão, híbridos. No segundo, mistura-se no mesmo panelão o Grande Irmão de Orwell com o Fantasma da Ópera (opereta, neste caso), com tiques de Zorro. O primeiro vale pelo fato-macaco justinho e avant-garde da Kate Beckinsdale. O segundo, pela fotogenia de Natalie Portman. Quer num quer noutro, registe-se o esforço gigantesco de dois gigantes ingleses do palco e da tela: Derek Jacobi e John Hurt ... dinheiro a quanto obrigas.

Obituário: Richard Fleischer (1916-2006)

Filho de peixe sabe nadar. Filho do criador de «Betty Boop», Max Fleischer, Richard Fleischer nunca terá sido um daqueles nomes obrigatórios no olimpo dos realizadores, mas pertence àquele pelotão de segundos-plano (juntamente com Siegel, Schaffner, Aldrich ou Jack Lee Thompson, por ex.), tão competentes como apagados, fazedores de filmes que nunca esquecem, por mais ingratos que sejam os críticos. Pela parte que me toca, apenas cito de memória um punhado de filmes da sua autoria que me recuso a esquecer, e que transitam do espólio lá de casa em VHS para DVD, e deste formato para o que há-de vir, não sei quando: começo pelas minhas melhores recordações em tela de cinema, «20.000 Léguas Submarinas» (de um Tivoli em grande!), «Tora! Tora! Tora!» (de umas férias por Marbelha, há muito tempo), «Mandingo» e «Soylent Green» (o primeiro num Roxy em queda livre, pela Almirante Reis abaixo, e o segundo na sala oval do Apolo 70, ambos ainda contigo, cãs da minha saudade!), e acabo nos melhores de todos, no antigo serviço público da TV: «The Spikes Gang», «Fantastic Voyage».

Já há cannoli e mafiosi esperando por mim?

Nos últimos dias, nos altifalantes do Metro, tenho ouvido a magnífica partitura Carmine Coppola, de «O Padrinho». Imaginação delirante? Ou simples premonição para a desejada viagem a Taormina e Palermo?

A Primavera chegou!

As andorinhas já andam no ar. As folhas despontam. As flores estão quase. E eu aconselho a todos quantos iniciam a sua primavera a visionarem «Summer of 42». Por Jennifer O'Neill, pela música de Legrand e pelo talento esquecido de Mulligan. Mas acima de tudo, por tudo o resto.

sexta-feira, março 24, 2006

«O Mundo», ou a Pequim de um novo mundo

Do autor de «A Plataforma», Jia Zhang-ke, este «Mundo» é uma bela e dramática história de amor, passada na Pequim da actualidade, mas pautada pela presença tutelar do já enterrado Grande Timoneiro; história de amor passada entre dois jovens funcionários de um parque temático de Pequim - uma espécie de Disneylândia para adultos, que possibilita aos visitantes viajarem pelo mundo inteiro sem nunca sairem de Pequim (como chega a dizer a personagem central, Tao), ou seja, permite fazer um circuito cultural por entre os mais variados pontos do globo terrestre, do Taj Mahal à Torre Eiffel, num perímetro de poucas centenas de metros.

É um filme bonito, prenhe de saudade de uma China que já não volta (será um bem? será um mal?), em que o elemento onírico é a fuga da realidade do quotidiano urbano da Pequim dos nossos dias (de que os espectáculos feéricos de desfiles e coreografias temáticas são exemplo maior), tentanto penetrar desenfreadamente algures no desenvolvimento industrial e tecnológico de Taiwan, Coreia do Sul, Hong Kong e Japão. Trata-se também de um filme muito bem realizado em termos técnicos, que não fica nada a dever aos dos grandes vultos do cinema chinês contemporâneo.

E há um ano que o meu cuco não se engasga!

Citando Welles, aliás Harry Lime: Like the fella says, in Italy for 30 years under the Borgias they had warfare, terror, murder, and bloodshed, but they produced Michelangelo, Leonardo da Vinci, and the Renaissance. In Switzerland they had brotherly love - they had 500 years of democracy and peace, and what did that produce? The cuckoo clock.

Pois é, fez agora 1 ano de garantia, ou seja, fez agora 1 ano que o meu relógio de cuco voltou a trabalhar que nem um maluco, tentando recuperar o tempo que levou silenciado, arrumado entre velharias lá de casa, 40 anos. Mas a grande notícia é que o meu cuco da antiga fábrica de A Reguladora contradiz o que Lime diz, pois prova que também no norte de Portugal se fizeram bons relógios de cuco.

E com quem é que tiveram a melhor gargalhada?

Com Abbot & Costello? Com Benny Hill? Buster Keaton? Chaplin? Fernandel? Harold Lloyd? Harry Langdon? Jacques Tati? Jerry Lewis? Laurel & Hardy? Louis de Funès? Marx Bros.? Max Linder? Monty Python? Peter Sellers? Totò? Ou foi com W.C.Fields? Se me esqueci de algum, digam, S.F.F.! Pela minha parte, julgo que não, a não ser que se conte com Sordi, Gassman e tantos outros que sendo cómicos fizeram muito mais que comicidade.

quinta-feira, março 23, 2006

Como o Exorcista bate a Noite pelo triplo dos votos

Your mother's in here, Karras. Would you like to leave a message? I'll see that she gets it.

Na sequência do oportuno comentário ao post imediatamente anterior ao anterior a este, é oportuno encerrar a sondagem galáctica "Qual o melhor filme de terror de sempre?", aos 87 votos, que deram a vitória a «The Exorcist», com 17% dos votos expressos em urna!! O 2º lugar ex-aequo, aos honrosos «The Shining» e «Alien», com 13%. Confesso que a sondagem não foi como eu queria. Eu queria que «Night of the Living Dead» tivesse ganho. Nunca tive tantos suores frios de noite, como depois de ver esse filme pela primeira vez... mas a pequena Regan merece, pronto.

quarta-feira, março 22, 2006

Is it safe?

Anteontem, e na próxima 3ª Feira, fui e serei Hoffman, tremendo de pavor, por debaixo daquele Olivier portentoso, de broca em punho, questionando-me ininterruptamente: But, is it safe?

All work and no play makes Jack a dull boy

Há bocado, depois das dores na articulação voltarem, senti-me Jack Torrance, mas arrastando o meu pé esquerdo; vociferando obscenidades a tudo e todos, furioso com os deuses e os demónios, próximos e ausentes, perdido no labirinto do Hotel Overlock, tiritando de frio e de machado na mão.

Parabéns a você: Jerry Lewis

Fez ontem 80 anos de idade! E se descontar os primeiros 6, de pura brutalidade animalesca, há 36 que o bom do Jerry me faz rir. As minhas melhores recordações dele na tela são «O Homem das Mulheres» e «Enfermeiro sem Diploma», ambos no Berna (hoje sede da junta de freguesia de N.Srª Fátima), e «Dr.Jerkyl» e «Onde Fica a Guerra», ambos no Cine-Caleidoscópio, também extinto. Depois disso, só mesmo um papel sério, por Scorsese. O resto é Jerry-dependência, sempre que aparece na TV, por muito lixo que por lá passe.

terça-feira, março 21, 2006

Uma excelente história da violência de Cronenberg

«History of Violence» é uma magnífica revisitação do passado, ou seja, dos filmes policiais de culto das décadas de ouro de Hollywood, dos policiais negros de Jacques Tourneur e de outros, de que «The Killers», de Siodmark (aliás, a fabulosa revisitação de Siegel, com Marvin, Cassavettes e Angie também o foi) é o melhor exemplo; a história do renegado, fugido do passado, que é obrigado a revivê-lo, enfrentá-lo e resolvê-lo.

Só que este é também o filme mais «normal» de todos que o autor de «Crash» (o outro!) tem realizado, mas nem por isso menos Cronenbergiano: a violência e o sangue não saem a jorros, mas estão lá, à espera de um click. As obsessões do mestre canadiano não estão tão presentes, mas existem, ainda que de forma latente. O ser humano e as suas profundezas animalescas e fóbicas.

E ainda temos uma câmara sempre no local certo, no ângulo perfeito. Temos planos que se tornam sequências, naturalmente. Em que o grande-plano se torna objecto de culto. E acção dispara brutalmente. Desde a dicção underacted de William Hurt, à cicatriz cabotina de Harris. Um filme feito a régua e esquadro, com várias perspectivas angulares à exacta medida do transferidor que usarmos. Uma bela história de violência esta, seca e galopante, mas que dá lugar à redenção... o que nem sempre acontece na vida real.

segunda-feira, março 20, 2006

5 dias, 5 filmes / Dia 5

O encontro estava marcado desde 1997 e a véspera de partida assim o exigia. O nome fascina-me desde que nasci. E este «Relais Odéon» não sendo um prodígio de restaurante, é-o em decoração e charme Arte-Nova. Desta vez tivemos um espectáculo extra, quando entraram pela porta adentro transeuntes chorosos, fugitivos do gás lacrimogénio da manif da Ruas St.Jacques e do Boulevard St.Michel, em que muitos teimaram ver milhares em vez de centenas.

5 dias, 5 filmes / Dia 4

Ainda não foi desta que descobri o lago subterrâneo na Ópera Garnier, onde Leroux criou o seu fantasma, e Chaney e Rains deram corpo e alma às melhores versões do Mudo e do Sonoro. Mas à mesma fiquei contente, pois mais à frente, passado o Café de la Paix, pude encontrar uma bola de cristal, com neve caindo sobre os três monumentos mais famosos de Paris; uma bola de fazer inveja a Charles Foster Kane. Assim, sempre que adormecer defronte à tv, poderei murmurar Rosebud.

5 dias, 5 filmes / Dia 3

Montmartre acima, Montmartre abaixo. Em busca de Amélie Poulain. E lá se descobriu a mercearia / frutaria do filme de Jeunet. Bancas fartas, coloridas em prédio de gaveto. Foi por acaso e por causa do gnomo gigante à porta e das fotos que lá puseram da patusca e excelente actriz Tautou. Como já me doía o pé, já não deu para procurar o bistrot da mulher da caixa e do escritor reguila. Ainda deu tíbia e tarso para procurar Kidman no seu trapézio, mas a coisa foi mais que desilusão, foi embuste. Aquele moínho vermelho que ali está, no meio de lojas de sexo mal amanhadas e de mil e um chiqueiros, não vale mais do que 5 segundos de mirada, quanto mais menção em guia turístico. Oh tempo, volta para trás!

5 dias, 5 filmes / Dia 2

Ida vã ao Cinema Max Linder Panorama para ver «New World», o grande filme do momento. Mas como a sala não merecia que a minha bunda se lá sentasse, Malick ficou para Lisboa, pois então. Retemperei forças na velinha Chartier, onde pensaste que eu faria como a desajeitada Roberts, em «Pretty Woman», bombardeando os convivas do lado com um escargot mal pinçado; puro engano.

5 dias, 5 filmes / Dia 1

Busca vã pela banda sonora de «5x2», de Ozon; mas encontro inesperado com Borsalino, na Place des Voges; não com o melhor fabricante de chapéus do mundo (que esse já o conheço de Roma), nem com o filme homónimo de Deray (desse já fui figurante nas Calanques de Cassis), mas com um grupo de jazz francês, ao jeito de Django Reinhardt. Vale(ra)m os 8€ da praxe.

Et voilà!, voltei coxo e de gengiva inchada

Não foi 5ª F, mas só hoje. Porque não vi Delon nem Deneuve, muito menos Gabin ou Morgan, e porque estou a analgésico, anti-inflamatório e antibiótico, vou ficar-me por pouca coisa entre hoje e amanhã. Só mesmo o elementar ...

sexta-feira, março 10, 2006

Bom cinema! Eu vou ali e já venho

Não é Maio, mas em Março é igual!

"J'aime Paris au mois de mai
Quand les bourgeons renaissent
Qu'une nouvelle jeunesse
S'empare de la vieille cité
Qui se met à rayonner
J'aime Paris au mois de mai
Quand l'hiver le délaisse
Que le soleil caresse
Ses vieux toits à peine éveillés

J'aime sentir sur les places
Dans les rues où je passe
Ce parfum de muguet que chasse
Le vent qui passe
Il me plaît à me promener
Par les rues qui s'faufilent
A travers toute la ville
J'aime, j'aime Paris au mois de mai

J'aime Paris au mois de mai
Lorsque le jour se lève
Les rues sortant du rêve
Après un sommeil très léger
Coquettes se refont une beauté
J'aime Paris au mois de mai
Quand soudain tout s'anime
Par un monde anonyme
Heureux de voir le soleil briller

J'aime quand le vent m'apporte
Des bruits de toutes sortes
Et les potins que l'on colporte
De porte en porte
Il me plaît à me promener
Dans les rues qui fourmillent
Tout en draguant les filles
J'aime, j'aime Paris au mois de mai

J'aime Paris au mois de mai
Avec ses bouquinistes
Et ses aquarellistes
Que le printemps a ramenés
Comme chaque année le long des quais
J'aime Paris au mois de mai
La Seine qui l'arrose
Et mille petites choses
Que je ne pourrais expliquer

J'aime quand la nuit sévère
Etend la paix sur terre
Et que la ville soudain s'éclaire
De millions de lumières
Il me plaît à me promener
Contemplant les vitrines
La nuit qui me fascine
J'aime, j'aime Paris au mois de mai
"

(Charles Aznavour)

À jeudi!

Calista sem dor nem terror

«Fragile» é mesmo isso: um filme frágil, cuja estrutura se quebra ao primeiro embate, totalmente «déjà vu» e previsível, e completamente desinteressante (há mesmo momentos involuntariamente cómicos como, por ex. o facto de todos os meninos internados terem um ar perfeitamente saudável).

Balagueró deixou de lado os resquicíos das seitas terrivelmente demoníacas de «Los Sin Nombre», para se deixar levar pelo «copy paste» de macaquinhos no sótão, neste caso, no 2º andar de um hospital pediátrico em vias de fechar... Fraquito.

quinta-feira, março 09, 2006

Haverá alguém que ainda rode um filme sobre corridas de caricas?

Bons tempos em que o mundo era gigante, e eu virava Jackie Stewart, Peter Revson ou Niki Lauda sem ter que destruir qualquer miniatura da Gorgi. De cócoras, sem sentir cãibras, nem me importando com os dedos sujos, buscava na esplanada caricas em bom estado, lisinhas (se não estivessem, ali mesmo as limava de encontro ao lancil do passeio mais próximo) e acabadinhas de saltar do gargalo de uma gasosa, de uma Laranjina-C, de uma Canada Dry. E depois procurava rolhinhas de plástico, saídas de algum Magus ou similar. E encaixava-as nas caricas: o bólide estava pronto. Depois? Eram os bancos corridos das esplanadas do Hotel das Arcadas, do Estoril, circuitos de mil provas de F1, entre amigos que nunca mais vi, e esqueci os nomes, da maioria, pelo menos. E no Verão, era a areia da praia mais perto: pegava-se nas cadeiras de madeira, perdidas por debaixo do toldo, virava-se-las de pernas para o ar e, com as costas, desenhava-se a pista na areia semi-dura, feita de rectas e curvas, túneis e muito relevée.

Como eu percebo Angie ...

Acabo de sair de um elevador que me lembrou a «minha» Angie Dickinson, na cena mais imortal de algumas em que entrou: esfaqueada sem apelo nem agravo, por um Michael Caine travestido, demente e no auge da forma. Não que seja o melhor filme sobre ascensores, que esse é este, de Louis Malle, mas sim porque é de facto a cena mais terrífica de que me lembro, quando dou por mim dentro destes elevadores de nova geração, forrados a chapa e totalmente asfixiantes.

quarta-feira, março 08, 2006

Carnaval: um filme datado?

Tens razão, como sempre. Que diacho, esta coisa do Carnaval é cada vez mais confrangedora. Pobres crianças. Pobres adultos. Não há caraças como dantes, não há estalinhos, não há garrafinhas de mau cheiro, nem sequer os papelinhos coloridos e as serpentinas são feitos do mesmo papel, antes parecendo mal feitos, feitos de bocados de papel grosseiro, de restos de bilhetes picotados por fiscais de comboio. Não há festas em cinemas, porque não há cinemas. Tudo é bera, desde os carros alegóricos aos disfarces, e agora disfarçar-me só mesmo de Zorro, porque de cowboy estamos falados. Pobre criançada, pobres papás...

Los olvidados #7: Deanna Durbin (1921-1999)

Pois é, por causa do Óscar a Reese, por força de June Carter, lembrei-me do ícone da meninice e adolescência de minha Mãe, a actriz-cantora, Denna Durbin, criatura terna e feminina, sempre de sorriso sincero, que encantava plateias de lá e de cá do Atlântico. Uma esquecida na voragem dos tempos, que ressuscitou pela Net, e ainda bem, pois esta namorada de Winnipeg, que vendia bonecas, vestidos, fotos autografadas e recuerdos como nenhuma outra ao seu tempo, tinha, além do mais, uma voz efectivamente magnífica, pura e cristalina, agradável aos tímpanos, e um encanto em cena único. Foi pena que abdicasse da carreira tão cedo, em prol do casamento, que, ao contrário de outros casos de sucesso, viria a revelar-se desastroso. Viria a morrer no Sul de França, em regime de semi-reclusão, após várias negas a desafios a regressar.

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No Dia Mundial da Mulher, a «Mulher Mais Bonita do Mundo»: Hedy Lamarr (1913-2000)

Assim apelidada pelo star system, e com razão (quem disso duvide, que a veja aqui); cativou-me no dia em que a vi no extinto Cinema Berna (hoje sede de junta de freguesia!!!), fazendo de Dalila. E desde aí é figura de altar do meu Cinema; uma santa-de-roca, se quiserem, que se veste de espia, mulher fatal, anjo celestial, fruto proibido, esposa cobiçada, e de tudo quanto quiserem, quando a quiserem ver num dos seus 30 e poucos filmes.

Mas Hedwig Kiesler foi também uma cidadã exemplar, criando, inclusive, uma fundação dedicada aos jovens, e inventando, a partir do mecanismo da pianola, um sistema de comunicação de espectro alargado que foi de extrema utilidade na espionagem da 2ª Guerra Mundial, especialmente eficaz a detectar torpedos da Marinha de Guerra Alemã.

A sua casa perto de Salzburg serviu de rodagem a «Música no Coração». E a sua casa em Hollywwod viria a ser vendida a Leslie Howard. Teve a virtude de abandonar Hollywood a tempo. Mas tinha um defeito: era cleptomaníaca. Não há bela sem senão?

Se virem «Êxtase», então não têm que seguir à letra esta sua afirmação: If you use your imagination, you can look at any actress and see her nude, I hope to make you use your imagination!

Obituário: Diana Reeve (1961-2006)

No Dia Mundial da Mulher, um exemplo de mulher. Pela sua dedicação ao marido, Christopher. Pela sua luta em vão, por ele, por si.

segunda-feira, março 06, 2006

Stanley Kubrick morreu há exactamente 7 anos!

The most terrifying fact about the universe is not that it is hostile but that it is indifferent, but if we can come to terms with this indifference, then our existence as a species can have genuine meaning. However vast the darkness, we must supply our own light.

Continua em frente, Clooney!

«Good Night and Good Luck», o mui-falado projecto pessoal de George Clooney, é um filme simpático, honesto e dedicado, feito de revivalismo de um tempo de caça às bruxas, que resulta muito eficaz mas algo hermético, por causa disso mesmo. No entanto brilha uma fotografia sem mácula, e há um conjunto de interpretações acima da média. McCarhy já se calou, mas nunca é demais falar dele, mas também se deve falar naqueles de sinal contrário, que também os houve e bem perto de nós. Enfim, trata-se de um filme que só é possível na América, esse gigantesco caldeirão de culturas e contradições, onde lado a lado com a Democracida em todo o seu esplendor (onde existe, por exemplo, o efectivo primado da iniciativa privada; e onde o pequeno consegue vencer o grande) convive(ra)m curiosidades antagónicas, como por exemplo, o Ku Klux Klan vs. Black Power, o Código Hayes vs. Woodstock, ou Alger Hiss vs. o casal Rosenberg.

Quando é que eu posso ser Orson?

A questão é simples: não fumo charuto, mas já rodei na roda do Prater; isso chega para ser Welles? Ou terei que me alojar no Mamounia com a minha Dama? É que se for só por isso ...

Um Kim acima da média

O cinema sul-coreano e os inevitáveis Kim vão de vento em popa no que concerne a popularidade e tomada de mercado, entrando de forma galopante até no imaginário dos filmes japoneses, e, mais ainda, público-alvo adentro. Os seus filmes são, regral geral, bem feitos, sólidos e de grande impacto visual. E não sendo Kim Jee-woon, o sentimentação e poeta Kim Ki-Duk, o certo é que «A Bittersweet Life» (prodigiosamente traduzido por «Doce Tortura») é um filme cheio de emoções, muito humor e alguma estrutura narrativa, que vai para além da simples história de um guarda-costas violento que se torna mole por causa do amor, apaixonando-se pela namorada do patrão, que não lhe perdoa e o quer matar; e que ao escapar de morte(s) certa(s) se vingará de todos, um a um, até cair por terra. A realização é um prodígio de encenação. Uma boa surpresa.

Quando um aventureiro vira uma casa

Entre filmes, entre escadas, ergue-se um cartaz de estreia próxima, Casanova, de seu nome. Passam 3 jovens, diz ela para eles: «Ah, A-Casa-Nova deve ser giro».

Coisa ruim, ou assim assim?

No seguimento de recente e boa experiência com o cinema português, por via de «Alice», resolvi arriscar e aventurar-me por terras daquela casa assombrada que lembra Raúl Lino e tudo o mais de antanho familiar. Erro meu. Os tiques do cinema português mantêm-se, os defeitos também (má utilização do claro-escuro, alguns actores vão muito mal, os estereótipos do Portugal rural de Torga ou Aquilino, etc.) e as virtudes (a saudade, o encantamento, a superstição, etc.) , idem. O argumento de RGC é engraçado, porque cinéfilo, mas tudo quanto é demais chateia, e, neste caso, plagia (e o copyright?), para o bem e para o mal ... bem que era evitável a analogia da família de Ismael (bem, Miguel Borges) com os três pastorinhos, por ex. Surpreendentemente, a sonoplastia vai bem. Coisa ruim? Assim assim.

domingo, março 05, 2006

Boas surpresas na atribuição dos Óscares:

«Crash» (melhor filme), Reese Whitherspoon (melhor actriz principal, por «Cash») e Rachel Weisz (melhor secundária, por «The Constant Gardener»).

sexta-feira, março 03, 2006

Óscares: aposto nos seguintes cavalos, mas queria que ganhassem aqueloutros

Melhor filme: «Brokeback Mountain» / idem.
Melhor realização: Ang Lee / idem.
Melhor actor principal: Philip Seymour Hoffman / idem.
Melhor actriz principal: Felicity Huffman / idem.
Melhor actor secundário: George Clooney / Matt Dillon (ressalvando William Hurt no filme de Cronnenberg, que não vi ainda).
Melhor actriz secundária: Frances McDormand/ Rachel Weisz.
Melhor argumento original: Paul Haggis e Bobby Moresco («Colisão») ou Woody Allen («Match Point»)/ idem.
Melhor argumento adaptado: Larry McMurtry e Diana Ossana /«Brokeback Mountain» / idem.
Melhor Filme de Animação: «A Noiva Cadáver» / «Wallace & Gromit: A Maldição do Coelhomem»

Advinhe quem vem jantar!?

Foi você que pediu um jantar ao lado de uma celebridade? Se sim, é só escolher o restaurante de Beverly Hills por celebridade, entre mil chineses, tailandeses, italianos, franceses e até cor-de-rosa, aqui.

Desconfio que há por aí muita terra nortenha

A história de «North Country» não é nova (a desigualdade de oportunidades homem-mulher - desta vez nas minas da América profunda -, a luta por isso e pela segurança e higiene no trabalho), nem é o seu modus operandi (a denúncia, contra tudo - os próprios colegas - e contra todos - os mais fortes; a formação de jurisprudência a partir desse facto ... o caso e o filme sobre Erin Brokovicht são-lhe similares, etc.), e muito menos a chancela «baseado em factos verídicos» (se bem que neste caso a coisa seja realmente verdade, embora com nomes diferentes a algum pó ficcional, noblesse oblige). Mas o filme não cansa e é interessante.

Não cansa porque, embora previsível, é um filme leve, com personagens bastante ricas, umas mais apagadas que outras, e tem uma banda sonora agradável e uma Charlize Theron em mais um papel escolhido a dedo, longe da imagem da marca, e, por isso, candidatável. E é interessante porque são os homens (bons) que conseguem ajudar a que tudo se resolva neste filme, aparentemente, feito de e para as mulheres. Registe-se ainda a curiosidade de Sissy Spacek ter sido «A Filha do Mineiro», lá pela década de 80.

Los olvidados #6: Montgomery Wood (1938-)

Também conhecido pelo seu nome de registo, Giuliano Gemma; confesso que nunca fui muito fã deste que é considerado o rei dos actores de western spaghetti (alguém já imaginou «Brokeback Mountain» nesses tempos?), pois sempre preferi o vice-rei (se assim se pode dizer), Franco Nero, actor muito mais para além desse sub-género tão popular nos anos 60-70. A vida de Gemma/Wood é bem recheada de pormenores curiosos, desde a sua entrada na berlinda, em «Il Gattopardo» (por sinal também outra celebridade daquele sub-género aí havia de saltar para a berlinda - Mario Girotti/Terence Hill), até à sua tentativa de com um pseudónimo inglês poder conquistar Hollywood, até à sua recente vocação como escultor. Falando de filmes que preencheram tardes e tardes do imaginário de miúdos e graúdos, por essa Lisboa feita de Éden, Odéon, Avis, Royal, Politeama e Capitólio, o seu filme mais célebre por entre quase 100 filmes de cowboys a fingir (e também de capa e espada e policiais, que também os fez, diga-se!), um ficará para a história: «Um Dólar Furado» (1965).

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quinta-feira, março 02, 2006

Enquanto isso no Canal Hollywood da TV Cabo ...

Continuava a sua boa prestação em prol da divulgação do bom cinema, de ontem e de hoje. Ontem à noite foi a vez de «Manhunter» (1986) que, recorde-se, é talvez o melhor de todos os filmes feitos ao derredor da saga de Thomas Harris (talvez a de Demme a bata, mas muito por culpa de Hopkins e Jodie, parece-me), pelo menos muito superior à novísima versão de «Red Dragon», com Ralph Fiennes. Que seria de nós sem TV Cabo?

Exemplo de (mau) serviço público

Terça-Feira passada, estreia da 2ª série de «Lost», às 23h15. Antes, houve o concurso mentecapto «A Herança», seguido de biografia de Pauleta, «O Goleador dos Açores.

quarta-feira, março 01, 2006

«TransAmerica», uma boa surpresa, sem ser politicamente correcta

Confesso que não esperava muito deste filme até porque o tema não me interessa por aí além. Mas a expectativa de uma boa interpretação e a possibilidade de haver um argumento mais credível do que aqueles que costumam estar por debaixo deste tipo de filme, fizeram-me ir ver «TransAmerica». E não saí defraudado. Passo a explicar:

Primeiro, porque a televisiva Felicity Huffman tem uma interpretação absolutamente de arromba, verdadeiramente insuperável enquanto palco de confronto entre homem (obrigado) e mulher (desejada), nesta sociedade de contrastes e opostos. Ela está soberba, física e emocionalmente. Segundo, porque o marido, o actor mametiano e produtor do filme, William H. Macy, e o realizador do filme em apreço, Duncan Tucker, não deixam nunca cair o filme em toada de dramalhão em três actos, apesar de todas as tentações de sinal contrário que uma abordagem tradicional a este tema poderia descambar.

Obituário: Dennis Weaver (1924-2006)

Que diacho, ele era mesmo um amigo do peito, pois acompanhava-me desde os tempos da Primária e do Preparatório, altura em que delirava com o McCloud. Mas há outros dois momentos da sua carreira que me marcaram, e a ele também: o seu «Duel» com aquele TIR malvado e obcecado (ui, aquele plano em que a cara de Weaver se reflecte no retrovisor vendo a frente do camião, é um dos planos mais bem conseguidos de sempre de Spielberg); e a sua prestação enquanto responsável, falsamente aparvalhado, do motel para onde o grupo de delinquentes leva Janet Leigh, em «Touch of Evil», de Welles. Ainda por cima era uma boa alma. Vou ter saudades dele.