sexta-feira, agosto 31, 2007

Sarah Connor?


Hoje, se tudo correr bem, lá irei buscar o posterzinho que irá pôr radiante o primo Tomasito, tenho a certeza. Depois é só esperar pelo volta do correio.

Entre o mistral e a lavanda #5


Entre o cénico plein d'eau de Sisteron e um mergulho nas Gorges du Verdon, lá mesmo por debaixo da corniche cublime, onde me veria verdadeiramente aflito em içar-me de volta a uma gaivota ... deu tempo para o espanto em Moustiers-Sainte-Marie:


História mistura com lenda. Aldeia incrustrada na rocha e trespassada por um riacho. Faiança (requintada), alternando com arte de rua, flores e mais flores, e muito verde. E o som das cascatas, sempre, escorrendo desde lá de cima, para lá da última das capelas. Outro cenário único.


De volta à pacatez dos telhados de Sisteron (quem diria que a cidadela, lá em cima, conheceu dos mais violentos bombardeamentos durante a 2ª GM?), ainda houve tempo para perdoar àqueles pobres monges, aos penitentes de Mées (outra das curiosidades geológicas da região), assim feitos em pedra por um dia se terem enfeitiçado por uma bela princesa moura.

Terça-feira, na Cinemateca:



«Le Genou de Claire» (1970)

quinta-feira, agosto 30, 2007

I have crossed oceans of time to find you.

Entre o mistral e a lavanda #4


Ninguém sabe ao certo como é que a água começou a brotar de Fontaine de Vaucluse, mas o que eu sei é que, seja ela curiosidade geológica, ou não; por detrás da casinha de Petrarca e do morro com os restos de castelo de antanho, está um dos locais mais fascinantes e comoventemente verdes que alguma vez vi.


Mesmo sem estar cheia até cima, daquela cratera jorram por dia milhões de m3 de água cristalina, fresca e de miríades de matizes verdes, para deleite das bonitas casas e dos poucos habitantes e milhares de turistas (patos e trutas incluídos), diria mesmo peregrinos, daquela vila digna de Tati.


E também sei que, podias ter sido tu a Bibi Andersson e eu o Max Von Sydow, do fabuloso e inesquecível «A Fonte e a Virgem», de Bergman, tivesse ele sabido antes deste poiso.


Franco Nero e Vanessa Redgrave no 1º da Biennale (*):

Quão longe vão os tempos de «Camelot» (1967). Saudades!

(*) Calendário da mostra, aqui!

quarta-feira, agosto 29, 2007

Filmes em revista sumária # 54


Tarantino está de regresso e traz com ele as suas memórias, que são também muitas das minhas. Por isso, mal estreou «Death Proof», rumei ao cinema mais próximo ... de écran minimamente compatível, claro, que o cinema de Tarantino assim o exige! - mesmo sabendo que o filme é uma parte de um díptico (perdoem-me os críticos de arte, mas os filmes do rapaz são mesmo obras de arte). Sinceramente, para quem gosta das memórias cinéfilas que tem, como é o meu caso, cada um dos filmes dele sempre foi um momento mágico, e é-o desde «Reservoir Dogs» (só mesmo naquela patuscada de há uns anos, em que Tarantino resolveu colaborar em 4 episódios manhosos, é que dei por mal empregues tempo e dinheiro).


Ultimamente, porém, os seus vícios (artes marciais, policiais anos 70, série-B, sangue com fartura, corpos estilhaçados, tratamento de choque, o sexo fraco que não o é, o kitsch, etc.) e as suas virtudes (uma capacidade de filmar a acção como mais ninguém tem; uns diálogos positivamente do outro mundo, quase a fazerem inveja a Allen - talvez sejam mesmo a outra face da mesma moeda? -; uma direcção de actores impecável, uma memorablia enciclopédica, uma notável capacidade em tirar do baú velhas glórias dos filmes de acção, bandas sonoras escolhidas a dedo, etc.) têm vindo a superar-se, a refinar-se, filme após filme, pelo que melhor é (quase) impossível; e, daí, talvez, tanta crítica ingrata.


Desta vez é Kurt Russell (não seria ele uma reincarnação do saudoso Snake Plissken, de «Escape from New York»?) que é repescado do baú, e logo para suar as estopinhas, feito gato-sapato de um trio de mulheres de arromba, imediatamente depois de ter recarregado baterias de adrenalina, imagine-se, refastelado que esteve com um lap dance capaz de derreter aço, e autorque foi de um choque frontal que não envergonha a «Vanishing Point» (aliás omnipresente em todo o filme ... mais um atestado do bom gosto de Tarantino).


Dança e choque que, juntamente com aquele diálogo arrastadamente sensual e interminável, e com a frenética perseguição que faz jus à máxima «virou-se o feitiço contra o feiticeiro», são as 4 cenas fulcrais do filme, que se vê, revê e torna ver. Personagens imperdíveis são as dos dois polícias/rangers que investigam o «acidente». Insuperável é o «faz de conta» que é antigo: os riscos na película, os saltos, as cores desbotadas ... só faltou mesmo o «pedimos desculpa pelo incómodo, o programa seguirá dentro de momentos», ou algo parecido.

Que dizer então de «Death Proof»? Ora! Que é imprescindível, pois então!

Entre o mistral e a lavanda #3


Em Roussillon, lida que foi, em parede vermelha, cópia impecável da declaração de De Gaulle, apelando à resistência dos franceses à ocupação alemã, desembocámos num desfiladeiro ocre, a fazer lembrar «Il Deserto Rosso», de Antonioni.


Caminhando mais de 1h por cima de pó amarelo-laranja-vermelho, fizemos as vezes de Monica Vitti e Richard Harris, sob as ordens do autor de «Blow Up», e vestimo-nos do «male di vivere» da dupla de protagonistas.


No entanto, aquela paz, o ar e as cores puseram-nos a milhas dos problemas sociais do «deserto» de Ferrara, pelo que não consegui dar qualquer grito, pelo que não se repetiu o diálogo:


«... all’arrivo del medico sulla nave:
Ugo: “Il medico.”
Linda: “Allora vengono a prendere quello che gridava.”
Max: “Chi gridava?”
Linda: “Non so … prima, quel grido.”
Ugo: “Scusa, quale grido? Se la nave non era ancora arrivata.”
Linda: “Come non era arrivata?”
Ugo: “No, è arrivata quando sono andato a guardare il fuoco.”
Emilia: “Ma tu sei matto. Era lì da mezz’ora.”
Max: “Ha sentito un grido lei?”
Corrado: “Non ci ho fatto caso.”
Linda: “Ma dico … Vogliamo scherzare?”
Max: “Sarà stato nel tuo romanzo.”
Linda: “Dici? … Può darsi.”
Giuliana: “Io l’ ho sentito.”
Ugo: “Lasciamo perdere questa storia, per piacere. Grido o non grido, che importanza ha?”
Giuliana: “No, invece, che l’ ha! Qualcuno ha gridato … è vero, non se l’è inventato Linda …”
Ugo: “Va bene, Giuliana, c’è stato …”
Giuliana: “No, non dovete dirmi di sì tanto per dire … come se io fossi una …”
Max: “Scusa, Giuliana, chi vuoi che si sia messo a gridare qui? Praticamente siamo in mezzo al mare …”
Giuliana: “Ma santo Dio, Linda, perché hai detto può darsi?”
Linda: “Io ho detto può darsi?”
Quante sono?”
Giuliana: “Una. E’ vero. Ma guarda un po’

terça-feira, agosto 28, 2007

Filmes em revista sumária # 53


Sejamos claros: sem a face obscura, o grilinho falante (mau), de «Mr Brooks», que é como quem diz, um portentoso William Hurt (para quando o seu regresso a papéis principais?), o filme no pagaria la pena! Porquê? Porque o argumento mata o filme, antes mesmo do matador matar a sua última presa. A introdução aos dois protagonistas (leia-se um) é óptima, o primeiro crime ... até que começam a chover intrigas paralelas (a filha, os criminosos atrás da polícia interpretada por Demi Moore, o divórcio desta, a chantagem parva do fotógrafo) que desnorteiam o filme e que o fazem andar aos solavancos, aqui e ali voltanto ao acerto, muito por força do frisson (há que dizê-lo) de algumas cenas, em que o vício de Mr.Brooks dispara, por demais incontido. Disparos acompanhados de imaginativo humor negro, sobretudo em alguns diálogos muito bem achados entre os dois Brooks. O pior mesmo é a previsibilidade do final, pesadelo inclusive. Distrai, mas peca por pretensioso.

Ai, esta juventude...


A notícia é de ontem, mas hoje confirma-se que Owen Wilson está livre de perigo, depois da tentativa gorada de suicídio com comprimidos. Motivo? Depressão, por causa do rompimento com a malandreca da Kate Hudson.

Entre o mistral e a lavanda #2


No Poète, entre juras de amor de Petrarca a Laura, dei por mim ligando a TV, deparando-me com «Le Château de ma Mère» (1990), baseado nas memórias de infância do incontonável Marcel Pagnol. Filme muito bonito, independentemente da fragilidade das interpretações e da mise-en-scène.

Começa assim o filme: «Chaque fin de semaine et l'été le jeune Marcel et sa famille passent leurs vacances dans les collines au-dessus de Marseille. Le passage par les berges du canal à travers des domaines de châtelains est une véritable aventure...»

Fiquei a conhecer mais um destino turístico de eleição: o castelo e o canal de La Buzine, designado no filme como Château de l'Effroi, em que Pagnol e a sua família viviam autênticas aventuras para os atravessarem. E episódios comoventes da vida do autor de «La Femme du Boulanger».


«Ce n'était pas un monument historique, mais l'immense demeure d'un grand bourgeois du Second Empire : il avait dû être assez fier des quatre tours octogonales et des trente balcons de pierre sculptée qui ornaient chaque façade...», diria Pagnol do castelo de sua mãe, ele que o acabaria por comprar, sem saber, em 1941, já realizador afamado.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Filmes em revista sumária # 52

«Jindabyne» até parte de um pressuposto interessante: até que ponto os locais submersos por força da construção de barragens podem virar maldição para quem mora agora nas suas redondezas, moldando espíritos e feitios. Mas passada a primeira meia-hora de filme, em que tudo o que está latente e parece pronto a explodir deixa de o estar e passa a estereótipo monocórdico (o elemento rácico, o passado escondido, o isolamento, a depressão omnipresente, etc.), este filme, baseado em conto de Carver, torna-se num autêntico soporífero, com Gabriel Byrne e Laura Linney a tentarem virar o bico ao prego ao rumo dos acontecimentos, o que nunca conseguem. Melhores momentos: o brinde dos amigos na véspera da partida para a pesca; e encontro de Byrne com o cadáver (a fazer lembrar «Deliverance») e as brincadeiras perigosas dos miúdos dentro de água. Para esquecer é o crime, seu motivo e sua resolução.

Entre o mistral e a lavanda #1


No pacato Estelou, em Sommières (de que Durrell havia dito nunca ter visto outra tão bela), li a morte do grande actor de «Les Fantômes du Chapelier», trazido, tardia mas merecidamente, para a ribalta dos grandes actores principais franceses, desde o espalhafatoso e inesquecível travesti Zaza, de «La Cage aux Folles» (1978). Por coincidência, la femme du patron houvera privado com Serrault há alguns anos, e comprovara que ele era, além de óptimo actor, um excelente homem, e que tocava jazz, quand-même.

Muito triste o final de Julho!




A melhor homenagem que se pode fazer a estes três vultos que se foram quase em simultâneo; Michel Serrault (1928-2007), Antonioni (1912-2007) e Bergman (1918-2007) é ... ver os seus filmes, revê-los e voltar a vê-los.