terça-feira, janeiro 30, 2007

Os meus 10 favoritos de 2006:


No prestigiado site Cinema 2000, «Munique», de Steven Spielberg, foi o mais votado pelos seus visitantes, tendo o Top 10 ficado assim. Eu poria:

1. «Marie Antoinette» (Sofia Coppola)
2. «Match Point» (Woody Allen)
3. «Babel» (Alejandro González Iñárritu)
4. «Little Miss Sunshine» (Jonathan Dayton e Valerie Faris)
5. «Hard Candy» (David Slade)
6. «Uma História de Violência» (David Cronenberg)
7. «O Segredo de Brokeback Moutain» (Ang Lee)
8. «Munique» (Steven Spielberg)
9. «A Senhora da Água» (M. Night Shyamalan)
10. «Volver» (Pedro Almodóvar)

Enquanto isso, na TCM:


«All the Fine Young Cannibals» (1960) , um dramalhão de Michael Anderson bem ao jeito dos anos 50-60, com um bonito par-de-jarras: Robert Wagner & Natalie Wood. E com o amigalhaço George Hamilton a dar uma forcinha. A coisa é datada e faz bocejar.

Mauzinho para a Pé, me confesso!


Pelo que aqui fica a devida homenagem, não sem esforço de auto-censura. Ela acaba de conseguir 2 feitos numa só semana: ser a primeira espanhola a ser nomeada para os Óscares, e ganhar um Goya. Tudo pela sua prestação no filme de La Mancha, «Volver». Contrariado.

E por sugestão do meu amigalhaço FCA e do seu Herr Graf:

Com Mário Peixoto, cuja escassíssima filmografia desconhecia por completo. Fiquei curioso!

«“Límite”, el único filme dirigido por Herr Mario Peixoto ( este director desarrollaría a lo largo de su vida, varios e inacabados proyectos cinematográficos ), está considerado por los jóvenes melenudos del mundo entero, como el mejor filme brasileño producido en la historia de dicho país y tras haber visto y disfrutado este Conde germánico esa sorprendente y vanguardista obra, una importante representación provinciana y aristocrática, esto es, este Conde germánico, comparte también esas alabanzas melenudas cinematográficas acerca del filme de Herr Peixto, otro sorprendente hecho éste en si mismo, ciertamente

Ontem, por sugestão de Lovecraft:

Deparei com «The Carpet Crawlers» (Genesis, 1971)

He returns from his mixed-up memories to the passage he was previously stuck in. this time he discovers a long carpeted corridor.

There is lambswool under my naked feet.
The wool is soft and warm,
- gives off some kind of heat.
A salamander scurries into flame to be destroyed.
Imaginary creatures are trapped in birth on celluloid.
The fleas cling to the golden fleece,
Hoping theyll find peace.
Each thought and gesture are caught in celluloid.
Theres no hiding in my memory.
Theres no room to avoid.

The walls are painted in red ochre and are marked by strange insignia, some looking like a bulls-eye, others of birds and boats. further down the corridor, he can see some people; all kneeling.
Broken sighs and murmurs they struggle, in their slow motion to move towards a wooden door at the end. having seen only the inanimate bodies in the grand parade of lifeless packaging, rael rushe
Talk to them.

The crawlers cover the floor in the red ochre corridor.
For my second sight of people, theyve more lifeblood than before.
Theyre moving in time to a heavy wooden door,
Where the needles eye is winking, closing in on the poor.
The carpet crawlers heed their callers:
Weve got to get in to get out
Weve got to get in to get out
Weve got to get in to get out.

Whats going on? he cries to a muttering monk, who conceals a yawn and replies its a long time yet before the dawn. a sphinx-like crawler calls his name saying don
K him, the monk is drunk. each one of us is trying to reach the top of the stairs, a way out will await us there. not asking how he can move freely, our hero goes boldly through the door.
D a table loaded with food, is a spiral staircase going up into the ceiling.

Theres only one direction in the faces that I see;
Its upward to the ceiling, where the chambers said to be.
Like the forest fight for sunlight, that takes root in every tree.
They are pulled up by the magnet, believing theyre free.
The carpet crawlers heed their callers:
Weve got to get in to get out
Weve got to get in to get out
Weve got to get in to get out.

Mild mannered supermen are held in kryptonite,
And the wise and foolish virgins giggle with their bodies glowing
Bright.
Through a door a harvest feast is lit by candlelight;
Its the bottom of a staircase that spirals out of sight.
The carpet crawlers heed their callers:
Weve got to get in to get out
Weve got to get in to get out
Weve got to get in to get out.

The porcelain mannikin with shattered skin fears attack.
The eager pack lift up their pitchers - they carry all they lack.
The liquid has congealed, which has seeped out through the crack,
And the tickler takes his stickleback.
The carpet crawlers heed their callers:
Weve got to get in to get out
Weve got to get in to get out
Weve got to get in to get out.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Filmes em revista sumária # 32

«Contado Ninguém Acredita» é um filme surpreendente, mesmo para quem acompanha a carreira de Marc Foster, realizador de talento e de autenticidade. Basicamente, o que ele desta vez coloca ao espectador são as seguintes perguntas: seremos nós todos apenas personagens de ficção? poderemos nós alterar o nosso destino? A partir daí é ver como uma comédia melodramática nos pode fazer ver a nossa rotina de forma diferente, e como um bom argumentista (lá em cima, e cá em baixo) pode fazer a diferença, na nossa cabeça e no resultado final de um filme, como o em apreço.

Acresce que os actores (sobretudo o contido Will Ferrell, a irresistível Maggie Gyllenhaal e a nevrítrica Emma Thompson) estão impecáveis na pele de personagens verdadeiramente desconstruídas. Um filme bem, bem interessante, com curiosidades prodigiosas, desde um "descubra onde pára Tom Hulce, o Amadeus de Forman!" até aos inserts computadorizados, que revelam a forma automática e programada de pensar de Crick, antes da "lobotomia" de que será alvo.

Enquanto isso, na 2:



She tried to sit in my lap while I was standing up.

(Philip Marlowe, The Big Sleep, 1946)

Gostava de rever «Local Hero»


Porquê? Porque ao ouvir ontem os belíssimos acordes de Knopfler, em «Alchemy», lembrei-me que desse filme de 1983 apenas recordo a Escócia e a aurora boreal envoltas naquela música e o duelo entre o jovem herói e o velho magnate, interpretado por Lancaster.

Filmes em revista sumária # 31

Ou bem que Neil LaBute volta às comédias dramáticas de mulheres ridicularizadas e escravizadas pelo malvado do homem, ou então aquelas abelhinhas todas o que merecem mesmo é que os zângãos vão cantar para outra freguesia, pois nesta colmeia com sabor a «Twilight Zone», de Rod Serling, o mais que há a dizer é que os dotes do realizador de «Nurse Betty» parecem ter-se esgotado, e a presença de Nicholas Cage e Badalamenti, como actor e autor da música, respectivamente, um tremendo de um desperdício. «The Wicker Man» é uma fitosa pegada sem pés nem cabeça, do princípio ao fim, e faz tanto terror como a Abelha Maia.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Afinal, ainda há vida animal em Lisboa ...

Há pouco, na pior avenida do mundo, junto ao muro do único jardim a sério em toda a artéria, caiu-me aos pés, vinda da vedação do muro, uma belíssima gata branca malhada, segurando pelo pesçoco um gatinho minúsculo. Assustei-me e assustou-se ela comigo, pois de imediato segurou pela boca o filhote e zarpou para donde viera, muro acima, não evitando um tropeção do outro lado, caindo com o filhote por entre um pequeno canteiro de bambús verdinhos em folha. Espero que não se tenham magoado...

In an hour or so it will be daylight, and then I can sleep.


A «Hora do Lobo»?

Um dia hei-de ir a casa de Howard Phillips, em Providence!


De regresso ao universo tenebroso de Lovecraft, dou por mim imerso em Cthulhu, essa criatura das estrelas, meio cefalópode, meio quadrúpede, escamosa e ao mesmo tempo inominável; que repousa nas profundezas da Terra, à espera que o Homem a desperte para que reine de novo sobre nós.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Curiosidade: Itinerário Pagnol

Uma das coisas que me dão gozo fazer é seguir itinerários de gente de que gosto, de preferência facilmente acessíveis em termos físicos e financeiros. O deste multifacetado francês torna-se obrigatório em terras de Provença.

Un secret, ce n'est pas quelque chose qui ne se raconte pas. Mais c'est une chose qu'on se raconte à voix basse, et séparément.

W-A-L-D-O!


Cada vez me convenço mais que somos todos Mr. Magoo!

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Acabados de sair de entre Vidor e Welles


Da discussão infantil de «The Big Parade» (1925) à reconciliação apertada de «Touch of Evil» (1958), daí saímos nós, qual Adorée e Gilbert, ou Leigh e Heston.

terça-feira, janeiro 23, 2007

«Na morte de Elena Muriel»

É o título de mais um belíssimo texto do meu amigo RAA, desta vez dedicado à viúva de Ferreira de Castro. É um prazer ler-te, homem!

De View-Master encostado ao nariz


Num ápice, coloco no meu velho modelo G, de 1966, roda dentada de cartão branco e quadradinho de filme colorido, uma após outra, e zás: imagens infindáveis do Ursinho Pooh, da Formiga Atómica, do Super-Rato, do Carrossel Mágico e das figurinhas Disney.

O meu reino por uma porta?


Hoje, a Cinemateca exibe, pelas 19h30, «O Último dos Homens», um dos melhores filmes de Murnau, ou seja, um dos melhores filmes de sempre. Ou seja, também, a prova como um uniforme e um chapéu de porteiro de hotel podem ser um pilar de auto-estima. Além disso, tem um Jannings insuperável, uma porta-giratória memorável e uma casa-de-banho que deve ter servido de inspiração às filmadas por Kubrick. Um must.

Et-voilà a lista de nomeados para os Óscares deste ano!

Mas se os meus preferidos são Cate Blanchet (Actriz Secundária, por «Babel»), Alan Arkin (Actor Secundário, por «Little Miss Sunshine»), Forrest Whitaker (Actor Principal, como Idi Amin Dada ... mesmo sem o ter visto, é o meu preferido), Helen Mirren (Actriz Principal, em «The Queen»), Marty (Melhor Realização ... mesmo sendo um filme menor na sua filmografia, é um prémio que só peca por tardio), «Little Miss Sunshine» (Melhor Argumento) e «Babel» (Melhor Filme) ... se é certo tudo isso, mais certo ainda é que o grande vencedor deste ano é já «Little Miss Sunshine», e o grande perdedor «Marie Antoinette», decididamente uma tremenda de uma injustiça.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Filmes em revista sumária # 30


I was born of the Hebrew persuasion, but I converted to narcissism.

Quanto mais não fosse, bastaria esta deixa memorável de Woody Allen em «Scoop» para fazer deste regresso do autor de «Manhattan» à comédia, pura e com diálogos e em ritmo alucinantes, um filme de visão obrigatória para quem gosta de cinema.

«Scoop» pode não ser tão bom (e não é) quanto «Match Point», o seu argumento pode ser trivial q.b., a direcção de actores estar abaixo da média (Jackman está mesmo fraquito ... saúda-se o regresso de McShane - o saudoso Disraeli) e o «furo» jornalístico que lhe dá título ser apenas uma história de humor negro, mais ou menos evidente. Mas é um filme de Allen, e isso significa sempre dar-se o dinheiro por bem gasto, o que neste não foge à regra: ritmo, ritmo e mais ritmo.

Quanto a Scarlett, mais palavras para quê: é a naturalidade em pessoa.

Aviso à navegação, especialmente a Walter Raleigh:


A série televisiva Isabel I, chancela HBO e recentemente galardoada com um Globo de Ouro para Helen Mirren, está já a passar na RTP2, às 5ª Feiras, pelas 22h. Fui surpreendido na semana passada, e por isso aviso os menos atentos!

sexta-feira, janeiro 19, 2007

E Sundance,

... o maior e melhor festival de cinema independente do mundo acabou de começar!

Brinco perdido por Marlene Dietrich há 70 anos é encontrado

Esta curiosidade reza assim:

"Funcionários de um parque de diversões na Inglaterra encontraram um brinco que seria da lendária estrela de cinema Marlene Dietrich. A atriz alemã perdeu o brinco de ouro e pérola há mais de 70 anos, durante uma volta numa montanha-russa na cidade litorânea de Blackpool, onde estava apresentando um show na época. Como gostava muito da jóia, Marlene Dietrich pediu que as pessoas procurassem o brinco. Agora, 15 anos depois de sua morte, o brinco finalmente apareceu, depois que operários drenaram um lago durante trabalhos de construção no local do parque.

"Comparámos (o brinco) com fotos tiradas na época da visita da atriz e certamente é parecido. E parece ter resistido muito bem ao tempo", disse uma porta-voz do parque de diversões à agência de notícias AFP (...)
"

Filmes em revista sumária # 29

Esta primeira parte do díptico de Eastwood - o último dos ícones americanos - sobre a terrível e determinante batalha de Iwo Jima, de nome «Flags of Our Fathers», está impregnada de ... Spielberg do princípio ao fim (não será por acaso o seu estatuto de co-produtor, para o bem e para o mal):

A primeira parte (e mais poderosa) é uma réplica monocromática da invasão da Normandia, de «Saving Private Ryan»; e a segunda, a dos bastidores back home, à volta da «encenação» propagandística montada por causa da fotografia e do efeito nefasto que isso traz a uma relação de camaradagem entre 3 soldados (e também semelhante à do filme mencionado, no que toca ao ambiente familiar dos soldados, às hierarquias militares, às aparições de personagens verídicas, etc.).

O argumento, não sendo banal, não é transcendental e Haggis já fez melhor. Estética e tecnicamente perfeito, o melhor mesmo deste filme, por vezes aborrecido, é a capacidade que Clint tem em estilhaçar a áurea dos heróis, remetendo-os a «simples» mortais. Espera-se pela segunda parte do díptico, «Letters from Iwo Jima», aqui com muito mais expectativa pois tratará da perspectiva do lado do Império do Sol Nascente.

«The Cincinnati Kid» (1965)


Pelo final infeliz às cartas, e porque o lúdico se deve sobrepôr ao bluff, sempre preferi o Bridge ao Poker. Além disso nasci 2 anos antes.

«O Idiota»

Comovo-me com os meus verdadeiros amigos. É uma honra para mim que outros me apelidem de Príncipe Michkin, o eterno ingénuo, cândido, do colossal romance de Dostoievsky, que tanto sofre por o ser, mas que me faz amar a alma russa.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Ainda Walden

No rescaldo deste épico, de repente, vi-me nas Penhas Douradas. Na Vivenda Anita, de traço de Cassiano (à antiga portuguesa ... o que a 1.700 m de altura constituiu erro crasso), com portadas encarnadas de madeira. Vi-me na galeria, tomando o pequeno-almoço, longe de preocupações e mirando a vista a perder de vista. Depois, no terreiro de gravilha, saltando no baloiço encarnado por entre roseirais e sofrendo pavores por causa daquelas aranhas-de-cruz, que me ameaçavam ... tão menos que outras, de agora. E esperava que minha Avó tocasse a sineta: almoço pronto (quem sabe se não seria um bife com molho de azeite ... como fugia das trutas com batata de murro). Passei, depois, a mesa redonda de pedra, o tanque (que havia de ser uma piscina, um dia) e fui passeando por entre pinheiros e pedras, rumo ao Fragão do Corvo. Inolvidável, o campo. Acredito piamente em Thoreau.

Filmes em revista sumária # 28

Será o Christopher Nolan de «Prestige» o mesmo de «Memento»? A dúvida permanece ao longo do filme; porque, se é certo que a manipulação da montagem e a colocação da câmara têm o seu toque, já o argumento e a acção mais parecem os de qualquer filme dos estúdios Disney. O encanto da revisitação de uma época em que os teatros, a magia e o exotismo faziam parte do dia-a-dia das populações, de forma tão intensa quanto a das parvoeiras novelescas da actualidade; esse encanto dissipa-se pouco antes do meio do filme, dando lugar apenas a um show de representar de Michael Caine, aqui e ali bem acompanhado por Bale. No resto, há papéis que nem se entende o porquê dali estarem, e há um final demasiadamente evidente, ou seja, o filme falha mesmo é no «terceiro passo», no da revelação do enigma. O melhor do filme é mesmo a alusão à espionagem científica-industrial que estaria a ser manobrada por Edison contra Tesla (soberbamente caracterizado por Bowie), na disputa pelo(s) domínio(s) da electricidade.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Deverá um homem enforcar-se por pertencer à raça dos pigmeus, em vez de ser o maior pigmeu que puder?


Finalmente, tive tempo e disponibilidade física e mental para acabar a fabulosa lição de Ciências da Natureza que é «Walden», de Thoreau.

Mas, para além de ao longo das suas quase 400 páginas ter tido vontade de pegar numa malita e zarpar rumo a Lincoln; ou de pegar num caderno diário da Escola Salesiana e desatar a desenhar o que li, colando, aqui e ali, bocados de papel vegetal, no dito cujo; o final deste livro do transcendentalista pôs-me a matutar uma série de vezes, senão veja-se:

. Cada dia, de regresso ao lar, deveríamos vir de l onge, de aventuras, perigos e descobertas, com nova experiência e de carácter renovado. (pág. 233)

. Um papagaio também me pousou certa vez no ombro, durante um segundo, enquanto eu sachava num quintal do povoado, e com isso senti-me mais importante do que se usasse dragonas. (pág. 302)

. Não vale a pena dar a volta ao mundo para contar os gatos de Zanzibar. (pág. 349)

. Se uma pessoa avançar confiadamente na direcção dos seus sonhos, se se esforçar por viver a vida que imaginaou, há-de deparar com um êxito inesperado nas horas rotineiras. (pág. 351)

. O senso mais comum é o dos homens adormecidos, que o exprimem roncando. (pág. 352)

«Babel» ganhou o prémio de melhor filme nos Globos de Ouro


Mais do que merecido. Realce ainda para Helen Mirren, que ganhou 2 globos, por interpretar duas Isabéis: a I, numa série televisiva da HBO, e a II, no filme de Frears... curioso.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

I don't know, General. If I had the choice between mice and Mausers, I think I'd take the mice every time!


Há quem me julgue em trincheira, tal qual os camaradas de armas do Coronel Dax, do fabuloso «Paths of Glory», de mestre Kubrick. Enganam-se. Eu não gosto de trincheiras. Quando muito, prefiro uma bela janela alta, um varandim de sniper, atirando com a Mauser sobre ratos, não de trincheira, mas de esgoto.

He's dead. They stuffed him with pages torn from his favourite book. Could you cook him?


Perdoem-me a ignomínia, mas, neste momento, gostava de me tornar neste ladrão de Greenaway (soberba interpretação de Michael Gambon), e devorar certo judas menor, que duvido leia mais que os manuais escolares. E a acompanhar-me no repasto demorado aquela música de Nyman.

Filmes em revista sumária # 27

«The Holiday» (que é como quem diz «Amor não Tira Férias»), sendo, como é, uma comédia romântica despretensiosa e mero verbo de encher mealheiro das estrelas que lhe dão voz e corpo, tem, no entanto, dois ou três momentos dramáticos de se lhes tirar o chapéu: falo de quase todas as cenas em que Eli Wallach intervém (e quanto daquilo que diz é pura verdade!), e falo do momento tearjerk de J.Law & C.Diaz. Fitosa dispensável.

Coboiadas #4

Finalizando esta brevíssimia incursão pelos duelos à torrina do sol, pelos guardas-pó, pelo cancan misturado com o poker, e pelo Dixie Lane; convém aqui deixar uns quantos nomes de alguns actores secundários maiores que imensos principais:

Eli Wallach, Cameron Mitchell, Walter Brennan, Walter Huston, Arthur Kennedy, Jack Elam, War Bond, Charles Grapewin, Dan Durea, Ralph Meeker e Woody Strode. Por exemplo.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Filmes em revista sumária # 26

Filme polémico, este «Apocalypto» de Mel Gibson. Polémico porque fazer-nos crer de um momento para o outro que os índios maias eram uma raça de assassinos e violentíssimos debochados que, tal como os romanos perante os bárbaros, tiveram o que mereceram dos conquistadores espanhóis; é duro de ver, demasiado duro para ver e crer, em apenas 2h de película. Por muito boas e bem fundadas historicamente (o que nem sequer é verdade) que tenham sido as intenções de Mel a verdade é que custa a engolir esta faceta madmaximina do seu filme, e é melhor imaginarmos os maias como povo culto e desenvolvido, nem que seja via Wikipedia.

Por isso, o melhor mesmo é ver este filme como aquilo que ele é: um filme de aventuras, um «Último dos Moicanos» tingido a sangue e kitsch, cuja violência chega por vezes a ser desnecessária, é certo, mas tão verosímil como qualquer outra ficção feita filme. Os actores, na sua maior parte amadores, estão bem, mas, tal como no aramaico dos diálogos do penúltimo filme de Gibson, também aqui ignoro se a língua dos últimos dos maias foi dita na perfeição. O filme é por vezes pesado, não tanto pelo verde esmagador da paisagem nem pelo pêso das construções (não confundir com reconstituição) dos templos e da cidade maias, mas pela saturação que a infatigável e omnipresente câmara de Gibson vai fazendo no espectador.

Filmes em revista sumária # 25

O maior problema de «Babel» é querer ser babilónico, i.e. globalizado. Que faz ali o episódio nipónico (um caçador japonês em Marrocos??!!) senão estragar a festa com que Iñárritu nos brinda ao longo dos outros dois episódios, sobretudo nos dois expoentes do filme, que são a boda mexicana e o drama junto à fronteira; e os tiros do acaso sobre Cate Blanchett e o drama daquela família marroquina?

O autor de «Amor Cão» está um excelente de um realizador e director de actores (todos eles brilhantes ... mas é justa uma especial distinção àquele pai e àqueles rapazes marroquinos), especializadíssimo em histórias cruzadas, e por isso não precisava de imitar Sofia com os néons que escondem a infelicidade congénita dos japoneses.

Para mim, a melhor sequência desta excelente história de amor, irremediavelmente dramática e de nos fazer secar a boca como se estivessemos no Sahara, é aquela antes de praticamente entrarmos na história, propriamente dita, ou seja; como a simples introdução de uma arma no nosso quotidiano pode deitar tudo (mesmo o muito pouco) a perder.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Filmes em revista sumária # 24

Este «Déjà Vu» vale pouco mais que o pacote de pipocas que uma redonda senhora na minha fila, deixou cair inteirinho no chão, depois de se desviar de um pretenso encontrão do espectador do lado. Ficou o tempo todo a chorar as pipocas, pouco se importando com o filme. A mim, deu-me vontade de rir; essa situação e o final do filme, que é do mais idiota que há memória - onde pára o Denzel Washington? Quanto a Tony Scott, continua na mesma: sabe filmar a acção, tudo o mais, não.

Obituário: Yvonne De Carlo (1922-2007)


Mais uma morte que o Inverno nos traz, desta vez a a canadiana que foi uma das belezas mais celebradas pela cor de Hollywood, a quem recusaria mais salamaleques por causa de uma história de amor. Ela que só filmou a P/B quatro dos seus 100 filmes. Ela que nunca se livrou de escândalos, os mais diversos. O seu papel em «Os 10 Mandamentos» valeu-lhe 25.000 dólares.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Coboiadas #3


No canapé, o confronto foi entre cerca de 60 índios, das tribos Apache, Cheyeene e Comanche (pelo menos, assim são identificáveis pela Timpo,Britains e Details), e rostos-pálidos em igual número, repartidos pela 7ª Cavalaria, cowboys e mexicanos (os sulistas ficaram de fora, por não caberem no plateau improvisado).


A cena era um assalto dos peles-vermelhas à cidade, às diligências e carroças e ao forte da 7ª. Pelo meio estavam também 2 tendas de índios, 2 fogueiras e 2 pirogas. Infantaria e cavalaria; 2 prisões, 2 saloons e um banco. O resultado foi que ninguém saiu ferido da contenda, e todos voltaram felizes para as respectivas caixas.

Coboiadas #2

Sondagem "Qual o melhor cowboy de todos" é finita. Vencedor indiscutível: Clint Eastwood, com 12 milhões de votos ... de entre os 42 milhões expressos. A alguma distância, grande, mesmo, ficaram John Wayne, com 5 milhões, Jimmy Stewart, Henry Fonda e Lee Van Cleef, ambos com 3.

Obituário: Carlo Ponti (1912-2007)

Como mais de 150 filmes no activo, uma vida bem cheia e uma mulher de pêso, Ponti é um dos últimos produtores, magnates e lendas do cinema. Não vale a pena falar dos filmes, pois bastaria saber que aquele close-up de Hemmings, em «Blow-Up», ampliando e investigando o detalhe naquela fotografia, que tanto mistério desponta, foi pago por Ponti, para lhe agradecer eternamente os seus préstimos cinematográficos.

Coboiadas #1

Desculpem a demora. As razões são simples: duelo com vilão, febre e chuva. Até já. E, já agora, BOM ANO!

quarta-feira, janeiro 03, 2007

How can you trust a man who wears both a belt and suspenders? The man can't even trust his own pants.


Regresso aos westerns, ao meu preferido de todos, «Once Upon a Time in the West», neste dia em que farias 98 anos!, sabendo que também este era o teu. Nunca Cardinale esteve melhor, nem Fonda, tampouco, encarnando Frank, esse matador implacável que apenas cai ao som de uma harmónica. O filme é verdadeiramente notável, ultrapassando o estatuto de mero western spaghetti. E é-o desde a música de Morricone ao guardas-pó amarelos omnipresentes em quase todo o filme. A eleger uma sequência, teriam que ser três: a longa espera e o duelo na estação ferroviária; a matança da família como se fosse tiro às perdizes; e a do duelo ao sol, final, memorável. Um beijinho, grande.