terça-feira, novembro 30, 2010

Enquanto isso, mais um western:


What are you squeezin' that watch for?
Squeezin' that watch ain't gonna stop time.


Desta vez o mais que leonense «3:10 to Yuma» (1957), em que um Glenn Ford em grande forma faz de pistoleiro prisioneiro de Van Heflin, que o quer meter à hora certa no comboio rumo à prisão, para ganhar a recompensa e pagar a sua dívida soberana. Mais um filme do grande artesão Delmer Daves, a rodar a hora tardia no Canal Hollywood, que ultimamente tem feito um belo serviço público em prol do meu género cinematográfico preferido.

Filmes em revista sumária # 238


«The American», do holandês Anton Corbijn, é a revisita aos filmes policiais de antanho, aos filmes negros de Tourneur & Cia., dos anos 30-40, e que trata de um assassino em vias de fazer o último “serviço”, para ascender a uma vida normal, à redenção. Apresenta um toque de autor, um certo olhar na tradição de um Jean-Pierre Melville – o protagonista semi-silencioso, o refúgio em local remoto, a obsessão pelo perdão, uma mulher na consciência, etc. Aliás, a “sombra” de Alain Delon é omnipresente neste filme, Clooney incluído. Poder-se-á dizer que o filme não tem nada de novo, pois não, não tem, e porque haveria de ter?

Alie-se a isto uma excelente fotografia, fria como as peças que montadas compõem o “instrumento de trabalho” do protagonista (e como a paisagem do Abruzzo a isso ajuda!), e uma música que fica no ouvido instantaneamente, e eis um belo filme em memória dos velhos tempos, de um cinema que já raramente se faz.

Sequência assombrosa é toda a que compreende o falso piquenique entre Clooney e a colega de profissão, a magnífica holandesa Thekla Reuten. Os cruzamentos de olhares; a excitação no manuseamento da arma; a prova de confiança no tiro ao alvo; o juntar o útil ao agradável; a borboleta. Uma grande cena.

Obituário: Mario Monicelli (1915-2010)


Juntamente com Risi representa o melhor do cinema italiano em matéria de comédias corajosas, de Tótó a Gassman & Cia., Lda., (Sordi, Tognazzi, etc.) um sem número de filmes memoráveis. Rebobinar-se a comédia do séc. XX sem Monicelli é impossível. Fica aqui uma das mais saborosas sequências da sua autoria (que sempre desejei imitar), de um filme genial chamado «Oh, Amici Miei». Corajoso também na morte.

segunda-feira, novembro 29, 2010

Obituário: Leslie Nielsen (1926-2010)


Era de facto um amigo cá da casa e a notícia da sua morte é ainda mais triste porque ainda outro dia (e é sempre outro dia) o víramos numa daquelas comédias espalhafatosamente nonsense em que se "especializara" desde 1980, desde o alucinado «Aeroplano» ... ele que começara por ser actor sério, e de cujo imenso palmarés enquanto tal ressalta «Forbidden Planet».

sexta-feira, novembro 26, 2010

Sessões extraordinárias #13


«Maridos e Mulheres»

A deste filme, no defunto Quarteto, em que dormi um sono por vezes profundo e roncado forte, intermitente a cada cotovelada tua, a que respondia com um "deixa-me, eu não estou a dormir", a que o resto da sala acordada (insectos voadores incluídos) não podia ficar indiferente. Um filme sem piada e Woody Allen sem piada é por vezes um sonorífero. Shame on me?

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quinta-feira, novembro 25, 2010

Colados para sempre #23

quarta-feira, novembro 24, 2010

Sessões extraordinárias #12


Decorria a Lisboa'94 e naquela sessão regressei ao "meu" Tivoli, com sala cheia, orquestra tocando Rimsky-Korsakoff e dirigida por Carl Davis, himself, e um dos meus filmes predilectos, «Ladrão de Bagdad», com um dos meus actores preferidos do Mudo, Fairbanks. Um filme magnífico de Walsh, que até aí apenas vira no pequeno écran. Um novo grande bem-haja a Bénard da Costa!

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Filmes em revista sumária # 237


«A Rede Social» pode não ser um grande filme, que não é, e pode não ter nada que ver com o cinema de David Fincher, pelo menos com as suas “imagens de marca” (a única sequência em que isso acontece é a da portentosa regata, aliás), mas é impossível no final deixar de clicar no ícone “Gosto”, tal qual se Fincher e Mark Zuckerberg nos tivessem enviado um convite a aderir à rede que este último em boa hora criou. Porquê? Porque apesar de todos os clichés e a repetição, ad nauseam, do mesmo, é a prova provada de que é possível fazer-se um bom filme apenas com bons diálogos e boas interpretações. Isto independentemente, claro, de se saber até que ponto foi verdade aquilo que nos é dado a ver…

segunda-feira, novembro 22, 2010

Enquanto isso ...


O Canal Hollywood fazia serviço público de madrugada, exibindo mais um belo western do muito mais que simples tarefeiro George Marshall, com o herói-actor Audie Murphy, perdido entre mulheres sós e desprotegidas e índios velhacos e obstinados (como de costume).

Filmes em revista sumária # 236


«Red» i.e., «Retired: Extremely Dangerous», não fora a presença de Bruce Willis, John Malkovich, Morgan Freeman, Helen Mirren, Mary Louise Parker, Brian Cox, Richard Dreyfuss (e que excelente actor se perdeu pelo caminho …) e Ernest Borgnine (nos seus mais de 90 anos!), seria mais uma palhaçada para americano ver, em mais um daquelas “n” adaptações que o cinema norte-americano vem fazendo de obras mais ou menos medíocres de banda desenhada. Deste modo, é impossível dizer-se mal desta divertida screwball comedy do séc. XXI, repleta, portanto, feita de argumento ground zero, acção espalhafatosa e pirotecnia vária, e onde actores de primeiríssima água se divertem até dizer chega!

quinta-feira, novembro 18, 2010

Sessões extraordinárias #11


Desde a coxia lateral da fileira de cadeiras colada ao primeiro espaldar de madeira depois do écran, que em tempo de sala única era o 1º balcão do São Jorge, a vista era deslumbrante naquela ante-estreia à cunha para ver um filme impressionante de pormenores, como todos os de Scorsese, com um De Niro portentoso. A cena de Juliette Lewis mirando desde a janela Max Cady, encostado de forma insinuante, enquanto jorra fogo-de-artifício pelo ar, é assombrosa.



Texto editado graças a R. da Gama

Castelo d'If em Lisboa


Acabam de anunciar que o castelo de má memória de Edmond Dantés acaba de abrir em Lisboa e logo com as belas e grotescas criações de Sara Maia (imagem de «O Colo», retirada daqui). A visitar e relembrar as boas lembranças da ilha.



Texto corrigido no que se refere ao nome da pintora. Obg. a Pedro Gomez;-)

terça-feira, novembro 16, 2010

Filmes em revista sumária # 235


«Devil» começa bem com a encenação à volta do que está prestes a acontecer, a narração (embora algo frouxa), o suicida que serve de chamariz; bem acompanhado com o seu quê de inquietante por se tratar de um elevador. Acena-se à nossa claustrofobia pelos elevadores em edifícios altos (mais ou menos universal), acicatada quando aqueles param sem avisar, sobretudo entre pisos, quando se apagam as luzes e imaginamos que o pior dos demónios nos vai engolir, etc. Só que um filme é mais do que 15’ e logo, logo, se revela infantil, quase feito às três pancadas e déjà vu. É pena.

segunda-feira, novembro 15, 2010

Obituário: Dino de Laurentis (1919-2010)


Segundo o próprio confidenciou à revista LIFE, em 1966, cozinhava tão bem quanto Picasso pintava. Mas o marido da Mangano foi o maior produtor cinematográfico da Europa e um dos maiores do mundo. Produziu Rosselini, Fellini, Lynch, Huston, Visconti, Lumet, Cronenberg, Cimino, Michael Mann, King Vidor, entre muitos outros. Mais palavras para quê?

quarta-feira, novembro 10, 2010

A personal project like anyone else's personal project. Mine's just a little more... personal, I guess.



Há 21 anos. Primeiro Júlio Dinis, depois um Londres à cunha. Pouco tempo depois, Pei Pin e choac. E foi também a descoberta de Soderbergh.

domingo, novembro 07, 2010

Sessões extraordinárias #10


Determinada música tocada e cantada no concerto de Rodrigo Leão anteontem, transportou-me para um Coliseu ainda não aburguesado, sem cobertura de aço, cadeiras pindéricas a arvorar ao lírico, e a parafernália tonta de luzes que cobre o magnífico frontão de palco com as insígnias CR (coincidência). Naquele tempo, também, o camarote presidencial era para respeitar, não havia televisores nas paredes nem elevadores. Transportou-me para o cheiro da areia e da palha suja dos animais fabulosos da melhor das companhias de circo, os ursos gigantescos junto a meus pequenos pés, os felinos imensos que corriam indolentes à volta da arena, e depois se escapavam rapidamente por um túnel de grade ali a centímetros dos meus olhos, a contorcionista curvilínea, os trapezistas intrépidos e, claro, as veias inchadas do pescoço colossal do base que suportava a trupe de equilibristas. Saía-se pela rampa onde os carros e jaulas aguardavam pelos seus artistas inquilinos. Era o Circo Russo, que nunca mais voltou, nem com PREC.

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sábado, novembro 06, 2010

Sessões extraordinárias #9


«Apocalypse Now»


Duas sessões extraordinárias, o mesmo filme extraordinário. A primeira vez, aquando da sua estreia, também no Monumental. Como cartão de visita, o ser a maior das extravaganzas de Coppola. Que melhor referência podia ele ter? O imenso telão pendurado do topo da fachada principal da maior sala de Lisboa dava o mote. Sala cheia também a que se repetiria na estreia, há poucos anos, da versão definitiva, apelidada de Redux, na sala principal do São Jorge, que os outros écrans já se foram. Inesquecíveis sessões.

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Filmes em revista sumária # 234


Sendo embora um filme longe do melhor a que Ozon nos habituou, «Le Refuge» mantém, todavia, todas as valências do cinema do autor de «Sous le sable»: os cambiantes tantas vezes indecifráveis da personagem mulher, as indeléveis relações mas sempre sob fogo, as rupturas, a solidão, a fuga em frente, as reviravoltas da vida, os detalhes físicos, as pausas, os olhares, o mar, a morte. Além disso é um filme triste, e é um filme difícil de digerir, como também quase todos os de Ozon. Ah!, já me esquecia: quase todo o filme é rosto e corpo de Isabelle Carré.

Obituário: Jill Clayburgh (1944-2010)


Actriz com "A" maiúsculo, embora ficasse conhecida por interpretar personagens de mulheres independentemente fortes, era tremendamente feminina e de ar frágil. O meu papel favorito dela continua a ser aquele a que deu corpo e alma em «La Luna», de Bertolucci. Maldita doença.

sexta-feira, novembro 05, 2010

Enquanto isso


Na Cinemateca Júnior (Palácio Foz), uma das pérolas da herança de Bénard à frente dos destinos da sénior, será exibido amanhã, pelas 15h, o melhor filme de animação do mundo e de sempre.

Filmes em revista sumária # 233


Não fora de Neil Jordan e só poderia ser de John Ford, este «Ondine», que mais não é do que uma bela adaptação, aos tempos que correm e às terras da Irlanda e às tradições celtas, da narrativa mitológica e romântica, tão tipicamente germânica, da ninfa das profundezas, celebrizada pela novela fantasiosa homónima de La-Motte Fouqué. Com efeito, Jordan é um irlandês inveterado e por este filme não faltam o típico humor irónico dos diálogos, os elementos naturais que condicionam o pathos irlandês, etc. Collin Farrel está perfeito enquanto pescador que tece a própria “rede” amorosa onde há-de cair, qual peixe enfeitiçado por cântico de alguma selkie, meia mulher meia foca.

quinta-feira, novembro 04, 2010

Sessões extraordinárias #8


«Excalibur»

Lembro-me que foi dos últimos (o último?) grandes filmes que passaram no colossal Monumental. Talvez, pela magnificência da Lenda, da música de Wagner e da câmara de Boorman, tenha sido o filme adequado a servir de epitáfio àquele cinema. Seja como for, nunca esquecerei a sala (salão, melhor dito) semi-vazia, o foyer cheio de pó e aquelas estátuas (hoje na Praça de Londres) como que despedindo-se do público. Tal qual nunca esquecerei a sequência inicial do assalto comandado pelo Rei Uther, bem como o bafo do dragão e o juramento dos cavaleiros da Távola Redonda sob o céu estrelado. Grande filme, grande cinema.

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Filmes em revista sumária # 232


O que seria deste «Let me in» sem o original sueco que lhe precedeu, aí é que está o busílis de uma remake aparentemente oportunista da onda vampiresca (metaforicamente falando até que é real) que assola o universo cinematográfico e televisivo anglo-saxónico, e do fenómeno «bullying» também em voga mas já bem (mais) real. Independentemente de estar fortemente estigmatizado pelo objecto que copia, ou melhor, de que faz «benchmarking», diga-se, aliás, um excelente e claustrofóbico filme sueco com laivos de C.T. Dreyer; e de nunca conseguir nem o mesmo ambiente nem a subtileza aparentemente formal do original; este filme de Matt Reeves não é um mau «thriller», antes pelo contrário.

quarta-feira, novembro 03, 2010

Filmes em revista sumária # 231



Filmar l’amour fou é algo que os franceses sabem por bem fazer, não fossem eles os autores da célebre designação para um amor feito de repentes assolapados, frenesins histéricos e contradições surpreendentes. Yvan Attal e Valeria Bruni Tedeschi estão soberbos no papel dos namorados de sempre que, volta e meia, se separam e voltam a reatar, com e sem arrependimentos ou remorsos, vá-se lá saber porque sim ou porque não. Cédric Kahn, cujo melhor filme continua a ser «Les Feux Rouges», filma agora «Les Regrets» com segurança e savoir-faire uma história tão divertida e irresistível para a dupla de protagonistas, quanto decepção e traição para as respectivas parelhas. Philip Glass dá uma ajudinha com a sua música sabiamente em ritornello.