«Assassinos de Férias» (no original Sightseers), de Bem Wheatley, podia fazer parte da série da t.v. britânica de humor corrosivo Little Britain, já que as suas personagens centrais, Tina e Chris, encaixam às mil-maravilhas num dos clichés favoritos de que a série usa e abusa com tremendo sucesso: o ‘subúrbio’. Ou então ser a transposição para o real, em carne e osso e brutal e politicamente incorrecta das tropelias sanguinolentas, mas sempre ‘ambientais’, de uma outra série tão famosa e de culto quanto aquela, mas americana e de animação: Happy Tree Friends.

Com efeito, os autores deste road movie independente (só podia), inglês (idem) e de baixo custo, i.e., o realizador e os argumentistas (os próprios actores principais Alice Lowe e Steve Oram, mais Amy Jump) não estão com meias medidas e tornam um passeio de férias em caravana (puxada por uma carrinha Volvo) pela chuvosa mas pacata Midland, por entre um mundo de curiosidades very typical (até há uma visita ao Museu do Lápis) num exercício de requintada malvadez e acintosa sociopatia, que dispara à mínima contrariedade e provocação, e a partir de certa altura, já pós- ‘contágio’ entre personagens, por puro capricho.

As peripécias sucedem-se, o rasto nonsense e gore dos assassinos também, até que alguém lhes põe um ponto final do topo do viaduto ferroviário de Ribblehead, ou seja, ‘querias mas era que, se saltasses de uma ponte, eu saltasse também’.

Há cenas muito bem conseguidas como a passada no cromeleque com o defensor do património, ou as várias com o ciclista que quer retirar Chris a Tina, e claro, a da primeira de todas as violências: o primeiro atropelamento. Há gargalhadas como só o humor britânico provoca mas também há espectadores a sair a meio, como na minha sala em que alguém disse: ‘vou-me embora antes que me matem também’.

Moral da história: a mãezinha era quem tinha razão em fazer-se doente e não querer deixar a filha ‘inocente’ entregue a um ‘perigoso’ ruivo saído do nada. Tivesse esta lhe dado razão e não haveria Sightseers para ninguém, mas isso seria uma pena.

In O Diabo (23.7.2013)

«The Bounty» (1984), revisão em baixa:

I hope never to see Fletcher Christian again. Unless it is to see him hanged.

«Freaks» (1932)

«Dracula» (1931)

«The Unknown» (1927)

E só com estes 3 títulos pertence-lhe um Lugar na História. E há mais uma dúzia deles na prateleira.

Não sendo particular fã deste pas-de-deux existencialista entre Julie Delpy e Ethan Hawke (talvez porque a francesa me irrite vai não vai), o facto é que há qualquer coisa que me vai tentando irrevogavelmente sempre que estreia mais um acto da até agora trilogia de Linklater (tetra se lhe acrescentarmos a ‘versão’ cartoon de 2001…). Não sendo tão original quanto o … original «Before Sunrise», este «Before Midnight» mantém viva a chama, não tanto pelo tom mais ou menos pedante e de pendor helenístico de algumas das suas conversações (apesar dos diálogos continuarem a ser o ponto mais alto cinematograficamente falando), ou pela ida à marquesa do casal (rotina oblige), mas pela simplicidade e verosimilhança do casal de personagens centrais, na realidade uns quaisquer ‘eu e tu’ ou ‘tu e eu’, interpretados tão naturalmente que melhor seria impossível. Se vier um 4º, e vai vir, lá estarei/emos, em princípio.