quarta-feira, junho 25, 2014

Obituário: Eli Wallach (1915-2014)


Morreu um dos maiores actores de todos os tempos e um dos que mais vezes se cruzou connosco no cinema e na tv, a maior parte das vezes em papéis inesquecíveis, a que não são alheios os míticos Actors Studio. Está superlativo ao lado da amiga Marilyn em «The Misfits» (1961) e como ele já não se fazem. Acerca dos seus habituais papéis de vilão, disse: I always end up being the evil one, and I wouldn't hurt a fly. Acredito.

terça-feira, junho 24, 2014

Filmes em revista sumária #458


Mais do que assistirmos à paixão melancólica entre Adão e Eva, o par de vampiros diletantes e eruditos que protagoniza este melodramático «underground» intitulado «Só os Amantes Sobrevivem», o que interessa reter para a posteridade é que, afinal, os escritos do velho bardo de Stratford-upon-Avon não foram escritos por este mas sim por um vampiro (!) de nome Campbell, interpretado no filme pelo sempre superlativo John Hurt.

Mais, ainda, a realidade histórica que nos tem sido administrada ao longo de décadas já não é o que era, passou a ficção virtual, senão veja-se: os vampiros são, eles sim, os responsáveis pela evolução do conhecimento e da espécie humana. As descobertas científicas, a poesia de génio, a música, etc. (e o futebol?), que originaram carreiras e patentes inolvidáveis foram, antes, obra de vampiros (supõe-se que de alguns eleitos…), e não de quem nos dizem ser nos calhamaços enciclopédicos; esses mais não foram (e continuam a ser) que «zombies». É o mundo às avessas? Sim, mas é divertido.

Pelo meio daquele visual gótico irrepreensível, de influência claramente germânica, e daquela «música de enterro» (belíssima, aliás), os humanos são tão «zombies» que eles próprios se têm encarregado de contaminar das mais variadas formas (drogas, poluição, químicos, tráfico, o abandono de cidades, fábricas, cinemas…) a própria espécie, pela incontinente conspurcação do precioso líquido vermelho que lhes (nos) corre nas veias e tonifica os vampiros, acabando antes por os matar, eles a quem só uma estaca de madeira cravada no coração ou um raio de Sol matava.

Paradoxalmente, contudo, está na inocência dos humanos ainda puros (por inerência no Amor), o milagre de garantir «ad aeternum» a sobrevivência do génio vampiresco.

O rosto andrógino de Tilda Swinton ajuda ao festim de melancolia em que o filme se desenrola, os «décors» também, mas o grande trunfo do filme de Jim Jarmush (ou será de Jozef van Wissem?) é mesmo a sua banda sonora, pelo que prateleira com ela, já.


In O Diabo (24.6.2014)

terça-feira, junho 17, 2014

Filmes em revista sumária #457


Que o cinema indiano tem especial queda para o melodrama, que mete grandes histórias de amor, regra geral dificultado por entrave familiar ou social, mais contradições cidade-campo, etc.; disso ninguém nunca teve dúvidas, e bastaria uma espreitadela aos clássicos de Satyajit Ray (mais inspiração, menos inspiração nos escritos do laureado Tagore) para quem disso duvidasse tirar a efectiva prova-dos-nove, e as coloridas e sempre bem engalanadas super-produções de Bollywood estão aí para o provar, mais ou menos «ad nauseam».

Eis, contudo, que, desse imaginário digno de Taj Mahal, aparece agora «A Lancheira», vinda directamente da grande Bombaim, dessa imensa metrópole de comboios apinhados e engarrafamentos vários, ainda que com certo «cheirinho» à chancela do Canal ARTE.

A marmita, que dá título ao filme e que se extravia a certa altura (culpa de Parvati?), no meio de uma sofisticada logística que suporta o refinadíssimo serviço de entregas, Dabawallahs, e que Harvard quer imitar; serve de cupido a quem parecia já se ter resignado a nunca mais reencontrar o Amor.

A marmita; na verdade um conjunto de pequenas marmitas metálicas, encavalitadas umas nas outras, mas recheadas de um manjar capaz de estoirar com toda e qualquer produtividade (conceito em oposição clara ao das nipónicas e espartanas «bento»), mais não é do que o tal «comboio errado que nos pode levar ao destino certo».

A genialidade deste filme reside tanto na sua simplicidade como no modo como nos convence que o mundo, apesar de tudo, não está perdido, e que no meio da globalização e das novas tecnologias, no que toca, pelo menos, ao serviço de reclamações de certa repartição, e, pelo mais, ao Amor; ainda há espaço, tempo e modo para a missiva em papel. Tudo com humor e sensibilidade. Convenhamos que não é pouco.

O estreante Ritesh Batra, argumentista e realizador, está de parabéns, tal como o estão Irrfan Khan e Nimrat Kaur (no amor por correspondência), e os secundários Nawazuddin Siddiqui (ele rouba todas as cenas em que entra) e a voz da Tia, vizinha de cima de Illa.


In O Diabo (17.6.2014)

segunda-feira, junho 09, 2014

Filmes em revista sumária #456


Que o diga o protagonista de «Ruína Azul», aquelo pobre e tristíssimo vadio (anti-herói clássico) que depois de vadiar junto à praia em Delaware durante vários anos, vasculhando o lixo e pernoitando num antigo Pontiac azul (razão do título do filme) aparentemente estropiado, enceta uma vingança de truz, numa autêntica caça de espera contra quem lhe matou os pais e o tornou despojado de afectos, agora acabadinho de sair da prisão.

A vingança assume-se neste magnífico «thriller», escrito e realizado por um surpreendente Jeremy Saulnier, como o centro da narrativa, lembrando, desde logo, os manos Coen de «Sangue por Sangue» (1984) mas sobretudo aquelas matanças em que costumavam resultar as guerras entre famílias (vulgo clãs) da América profunda, entre entrincheirados em fardos de palha e afins, atirando tiros e insultos por todo o lado, e com que Disney costumava parodiar nos seus desenhos animados de boa memória, hoje, quiçá, politicamente incorrectos. Uma vingança que no fim se revela inglória, claro, mas que assume contornos de matança e onde o sangue é coisa que não falta.

A história de «Ruína Azul» não traz nada verdadeiramente de novo mas há qualquer coisa no filme que nos prende do princípio ao fim. Compreende-se o sucesso rápido em que este «indie», aparentemente barato, rodado com actores desconhecidos, se tornou, ao qual a fotografia e o ritmo a que tudo se desenrola ajudam e muito.

A melhor cena (e a mais violenta também), quiçá plagiada em «Henry: A Sombra de Um Assassino», de 1986, é a da casa de banho, onde parece que também nós estamos à espera, por detrás da porta, arriscando sermos descobertos antes de agirmos, prontos para espetar com força aquela faca dê lá por onde der.

NB: A ideia de se poder trocar latas e garrafas de plástico usadas por senhas convertíveis em produtos de supermercado ou outros, seria muito, mas muito bem-vinda por cá. Fica a ideia.


In O Diabo (9.6.2014)
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sexta-feira, junho 06, 2014

Aqui não houve marcianos, foi no Dia-D:


A emissão de «Orson Welles Almanac – The D-Day program of 70 year ago ... one of finest wartime broadcasts. Starring Agnes Moorehead as a mother reading a letter to her son. Almanac was sponsored by Mobilgas and Mobiloil. The 30-minute variety program ran from January 26 through July 19, 1944.». Ouça, AQUI.


Fonte: Paulo Trancoso