terça-feira, agosto 25, 2015

Filmes em revista sumária #512


«Lugares Escuros» está muito longe de ter o interesse, a garra e a capacidade de incomodar o espectador (no bom sentido do termo) de «Parte Incerta», apesar do ponto de partida de ambos os thrillers – a pena da já endeusada escritora Gillian Flynn - ser o mesmo, e mau grado termos agora Charlize Theron como cabeça de cartaz, em vez do inerte Ben Affleck (apesar de aí ser Rosamund Pike a verdadeira estrela) do filme de 2014.

Mas, por outro lado, a verdade é que tomara que os filmes que os estúdios norte-americanos vão fornecendo às pazadas todos os anos, especialmente os que giram em volta de “quem matou?”, tivessem a qualidade deste filme do francês Gilles Paquet-Brenner, o qual, coitado, não é David Fincher, bem entendido, nem de perto nem de longe.

Talvez que o problema de «Lugares Escuros» seja, afinal, o de ter prometido demais e resultar em pouco, talvez por culpa de uma má gestão dos vários tempos da narrativa (má montagem? Culpa dos 33 produtores!?), fazendo inclusive com que as diferentes narrações ao longo do filme (que são uma excelente lembrança, aliás como a história da família ter como apelido Day) se tornem confusas e surpreendentemente desinteressantes quando deviam ser exactamente o contrário.

A páginas tantas o que interessa é seguir Charlize, o seu trauma e as suas emoções, que valem meio filme, muito mais do que os traumas alheios ou saber quem matou quem e porquê, coisa que se adivinha mais cedo do que seria conveniente. Pelo meio há um subaproveitadíssimo clube dos “maluquinhos dos crimes”, que valia um outro filme só para si, e algumas personagens dispensáveis. Nota alta para uma secundária chamada Chlöe Grace Moretz, em clara ascensão, e para a música, a cargo de Gregory Tripi.

Está acima da média? Sim. Sabe a pouco? Sabe. É um daqueles casos em que o filme não faz jus ao livro? Talvez, não lemos.


In O Diabo (25.8.2015)

terça-feira, agosto 18, 2015

Filmes em revista sumária #511


O amor à pátria tem destas coisas, pelo que ninguém leva a mal a Nicole Kidman ela ter-se metido nesta alhada intitulada «Em Terra Estranha», mesmo sabendo-se de antemão que ela se teria saído bastante melhor, física e artisticamente falando, se o tivesse feito em Honolulu, onde nasceu efectivamente, em vez de na aridez e no pó da sua Austrália, autóctone e profunda.

Mais, este é um daqueles filmes em que o carimbo do prestigiado Festival de Sundance mais parece resultar de um pedido de cunha, do que propriamente da justeza em certificar um filme de qualidade, o que não é manifestamente o caso.

Pode ser que Kim Farrant, a realizadora (aqui estreante em longas-metragens), venha a ter um futuro radioso (oxalá), mas «Em Terra Estranha» não conseguiu passar das boas intenções, parecendo ceder em toda a linha à previsibilidade e à redundância da trama, e à tentação de chocar o público com um certo grau animalesco e escabroso da coisa...

Valem a este “thriller” de segunda duas ou três cenas dignas de nota, com realce para a da tempestade de areia, nomeadamente quando o grupo de fedelhos irrompe cenário adentro e desata aos tiros de fulminantes e aos berros, por entre a areia e o casal de protagonistas desesperadamente à procura dos filhos no meio de um deserto a 50 graus centígrados (calcule-se!), propiciando um momento surreal de invulgar e verdadeira inspiração criativa.

Do resto fica aquela imensidão natural e potencialmente fatal em volta de Alice Springs, bela e brilhantemente fotografada (a que não será indiferente o currículo de documentarista de Kim Farrant), e o duelo de actores, não entre Nicole e Joseph Fiennes (ainda se fosse o irmão Ralph…), mas entre aquela, ou melhor, entre os seus imensos e ainda expressivos olhos e Hugo “Agente Smith” Weaving, que mete no bolso todas as cenas onde entra. Obrigatório, por Nicole, apenas.


In O Diabo (18.8.2015)

He Ran All the Way (1951)


Mrs. Robey: If you were a man, you'd be out looking for a job.
Nick Robey: If you were a man, I'd kick your teeth in.

quarta-feira, agosto 12, 2015

Filmes em revista sumária #510


Com um «A Face do Amor» como título em português (e em inglês, que desta vez o busílis não está na tradução…), era perfeitamente natural que o filme do israelita Arie Posin fosse rotulado pelo público, ab initio, como algo a evitar por se poder tratar de um mais que provável tear-jerker digno do nosso folhetinesco vetusto, de revistas inesquecíveis como a “Maria” ou o “Capricho”, o que é uma perfeita injustiça, diga-se, mas as coisas são como são e a culpa é de quem assim o baptizou.

Como se isso não bastasse, e o filme tenha ainda estreado entre nós com três anos de atraso em relação à sua rodagem, ele ainda tem um problema adicional, já mais de carácter estrutural: a ideia de que é possível encontrarmos alguém exactamente igual a outrem, física e espiritualmente falando, no raio de acção do nosso quotidiano, no supermercado, perdão, no jardim ou no museu da esquina, é perfeitamente estapafúrdia e de probabilidade praticamente nula, mesmo numa cidade como L.A., e nem precisamos de Laplace para o certificar.

No entanto, a verdade, pelo menos para quem assina a presente crónica, é que apesar desses 2-3 óbices sérios, «A Face do Amor» tem qualquer coisa que cola e que faz com que não desistamos do filme. Esse je ne sais pas quoi talvez resida no facto do realizador ter conseguido desenvolver a narrativa num ambiente de suspense à Hitchcock, a que a belíssima banda sonora (nymaniana?) de Marcelo Zarvos e a fotografia de Antonio Riestra (ui, aqueles planos na cena final na piscina!) ajudam e de que maneira.

Por outro lado, o filme conta com dois contributos notáveis a nível da interpretação e entrega às personagens principais, as dos talentosos e anti-plásticas Annette Bening e Ed Harris, sobretudo a primeira, que está brilhante a todos os níveis. Já em relação ao malogrado Robin Williams fica a pergunta: que está ali ele a fazer?


In O Diabo (11.8.2015)

quarta-feira, agosto 05, 2015

Sommarlek 2015 #7


Väfflor, as melhores são no Café Ektorpet.
Tack så mycket, Amigo Júlio Amorim, pelo itinerário imaculado, pela Nave do Bom Gosto.
Lineu manda saudades de Uppsala, também ;-)


Foto: Foodspotting

terça-feira, agosto 04, 2015

Filmes em revista sumária #509


Já há uns anos largos, em 1970, Billy Wilder entrara (sem grande sucesso) pela vida privada do detective privado mais célebre do planeta, Sherlock Holmes, essa personagem inventada pelo não menos célebre escocês Conan Doyle – e é sempre bom frisar este facto não vá haver alguém que pense que o homem existiu em carne e osso, só porque tem uma casa-museu na londrina Baker Street.

Portanto, isto de se entrar na vida “pessoal” de Holmes não é exclusivo nem novidade do presente Mr. Holmes, filme que conta com o sempre superlativo Ian McKellen enquanto actor principal e é realizado por Bill Condon a partir de um livro de Mitch Cullin – refira-se a este propósito que realizador e actor já tinham também feito algo parecido com outra figura, essoutra bem real, a do realizador James Whale, em «Deuses e Monstros» (1998).

Agora, a acção desenrola-se a dois tempos: o passado, contemporâneo ao dos livros, das séries e dos filmes sobre Holmes que todos conhecemos e amamos; e o da sua reforma (ou será retiro?), presa a uma dupla dicotomia - entre abelhas e vespas e a “verdade histórica” (da pena do Dr. Watson ou do próprio detective), por um lado, e, por outro, na necessidade de Holmes corrigir determinado erro de avaliação, cujo desenlace resultaria em tragédia, necessidade essa a que uma outra tragédia real, a de Hiroshima, se presta como espoleta.

Não que Holmes queira reescrever um caso extremamente intrigante ou de desenlace rebuscado (as suas novelas são sempre extraordinariamente singelas). Não, o que importa mais uma vez são os detalhes do fascinante universo cerzido por Conan Doyle, aqui marcadamente vincados pela excelência das prestações de McKellen (ainda que seja impossível superar Jeremy Brett enquanto Holmes – e que me perdoem Peter Cushing e Basil Rathbone), Laura Linney e do pequeno e expressivo Milo Parker). Não fora isso e o filme seria dispensável, ainda que interessante enquanto exercício de imaginação.

Ou seja, fica mais uma vez provada a tese: mais vale cingir Holmes às histórias de Conan Doyle e não inventar muito. Elementar, Bill Condon.


In O Diabo (4.8.2015)

Sommarlek 2015 #6


As fabulosas fachadas da Strandvägen


Foto: Peer Gynt

segunda-feira, agosto 03, 2015

Sommarlek 2015 #5


O arquipélago e as casas grená


Foto: Infohostels

domingo, agosto 02, 2015

Sommarlek 2015 #4


A Câmara e o génio de Ragnar Östberg


Foto: Lindman Photography

sábado, agosto 01, 2015

Sommarlek 2015 #3


O espectacular Vasa e o não menos museu


Foto: Vasa Museet