sábado, janeiro 28, 2017

Obituário: John Hurt (1940-2017)


Oh, Krapp... Actor fabuloso, voz fabulosa, presença fabulosa. Papéis inesquecíveis, em personagens inesquecíveis, em cada uma das rugas do seu rosto, esculpido a talhe de foice, i.e., nicotina e álcool. Ah, aquele seu Calígula, de I,Claudius! Ah, o heroinómano do sufocante Comboio da Meia Noite! E o assassino a soldo no fabuloso The Hit, de Frears! E o seu louco, de Lear, ao lado do maior de todos, Olivier? Ou John Merrick, que só podia ser ele e mais ninguém? Ou aquele inesquecível Krapp, do monólogo homónimo sobre a solidão, de Beckett? Ou Alien, ou, ou...

quarta-feira, janeiro 25, 2017

Filmes em revista sumária #552


Cinco (5) estrelas para “La La Land”, que é disto que os sonhos são feitos e, já agora, o Cinema também. Trata-se de um musical - na verdade uma história de amor - absolutamente soberbo, e que é a prova provada de que a renovação no cinema americano está aí e augura coisas boas, e que as lufadas de ar fresco hollywoodescas são possíveis sem ser sequer preciso recorrer à produção independente, ou seja, também o pode ser com produtoras robustas, orçamentos elevados e elencos de estrelas.

“La La Land” é um regresso pela porta grande ao sempre teremos Paris de “Casablanca”, revisita com evidente amor tudo quanto é memória cinéfila de espectador que se preze (não é preciso recorrer a centrum), fazendo-o sempre com bom gosto e continuada imaginação, tanto nos números musicais como nos cenários, como só Demy sabia fazer, até ao dia em que Coppola realizou uma obra-prima chamada “One from the heart”.

Há sequências admiráveis, como a da abertura, antes mesmo do título do filme; ou a da ida nocturna ao planetário e a da onírica história de vida a dois que podia ter sido e não foi, porque os sonhos de menino de um e de outro se sobrepuseram a tudo o resto, mas são-no quase todas, porque é raro o momento em que o filme nos larga, tempos mortos não tem e tem panache para dar e levar.

Emma Stone e Ryan Gosling fazem chispa desde a cena da buzina e do “dedo” até à despedida à Ilsa & Rick, e a primeira pode já começar a limpar o pó à vitrine lá de casa porque não só o Óscar não deve fugir-lhe como outros se lhe seguirão: está fantástica, e faço mea culpa porque não a suportei no penúltimo de Woody Allen. Damien Chazelle, esse, prometeu mundos e fundos com o poderoso “Whiplash” e começou já a cumprir a promessa com esta sua segunda realização.

Quanto aos inevitáveis botas-de-elástico detractores do filme, lá está, aplica-se-lhes a velha máxima do samba (sem tapas) de João Gilberto: “quem não gosta de samba, bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé”.