segunda-feira, junho 26, 2006

Oh!, tanto Klimt desperdiçado

O que à partida seria um duplo miscast revela-se em «Klimt» um desastre absoluto, o que é pena, muita pena, face à matéria prima disponível. Com efeito, nem Malkovich poderia ser à partida um Klimt fidedigno (não bastaram certas parecenças fisionómicas, nem o indiscutível talento do actor), já que representar o autor de «O Beijo» exigia força, arrebatamento, fúria e não moleza, tiques e pantufas. Nem o c.v. de Ruiz podia prever nada de bom, que não fosse um imenso pastelão, pretensioso aqui, abusivo ali, omisso acolá, mas sempre embrulhado em papel celofane, como convém. Podem ser ambos, tal como os produtores, admiradores do pintor, mas isso muitas vezes não chega...

E foi o que aconteceu: a partir de uma figura única como é a do líder da Secessão, o que nos dá Ruiz é apenas alguém atormentado com as suas alucinações e a tendência apoplética da família, metido num espartilho entre a ameaça da sífilis e as ninfas do seu atelier/boudoir, por um lado, e a crítica na terra natal, por outro. Da idolatria que Schiele lhe dedicava, das ondinas, da fase dourada, das flores, das discussões políticas e artísticas da Viena do pré-Grande Guerra (que a pena de Karl Kraus tão bem caricaturava), nada disso fica senão alguns momentos, poucos (valha-nos os magníficos chapéus das paixões de Klimt) e, regra geral, confusos (alguém acredita que Méliès fosse aquele palerma?). Por isso, e para isso, se aconselha uma leitura rápida da biografia de Klimt mais à mão, e, se a bolsa o permitir, uma viagem relâmpago ao Belvedere ou ao «Friso de Beethoven».

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