Filmes em revista sumária # 250
Sejamos claros: tentar reduzir «Black Swan» a um thriller psicológico em redor da descoberta sexual é não querer ver (para não dizer mais) o que ele é, um filme soberbo sobre uma Avis rara, ponto. Natalie Portman tem um papel de arromba (dir-se-ia que um biscuit de dupla face) como alguém que, de tão obsessivamente procurar a perfeição, neste caso por via da ascensão a prima ballerina, descamba numa espiral alucinante e num vórtice de quase demência, em que o sonho vira pesadelo, a ficção, realidade, com consequências físicas e trágicas inevitáveis; será o preço da raridade. A segunda parte deste filme é de facto poderosa, a última meia-hora será mesmo um assombro de filme, que só não arrebatará aos inertes.
Darren Aronofsky continua igual a si próprio, que é como quem diz, sendo um realizador, aparentemente, também ele à margem, sabe como cativar e desbravar beleza por territórios à partida incompatíveis, em filmes aparente mas só superficialmente doentios … um pouco como Tchaikovsky para o ballet, afinal de contas. A câmara, o granulado da imagem, os planos em claro-escuro, a montagem “à la” Schoonmaker, os néons do camarim que vira câmara de confessionário, os “esqueletos no armário”, e a capacidade de Aronofsky em rodar um filme praticamente em 2-3 cenários; enfim, é também ele quase perfeito, este filme, pese embora os inevitáveis clichés e a mais que obrigatória comparação com «Red Shoes» (neste capítulo, Vincent Cassel é cilindrado por Anton Walbrook, claro). Prova disso mesmo, é a relutância em termos que aceitar que o filme acabou…
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