Filmes em revista sumária #386
Finalmente, o velhinho «Young Mr. Lincoln», de Ford e com Fonda e o melhor filme jamais feito sobre aquele presidente americano (que está em permanente homenagem em Washington, aboliu a escravatura e foi morto num teatro), tem um digno competidor neste «Lincoln», de Spielberg e com Day-Lewis.
Não se trata, contudo, nem de um filme de tiroteios e perseguições, nem de qualquer panfleto com grandes tiradas filosóficas, muitos menos pode ser “a” biografia definitiva do estadista, pois apenas relata uma série de peripécias de um período muito concreto da sua vida e obra: o fim da Guerra da Secessão e a abolição da escravatura, e tudo quanto levou a que isso fosse possível. Ele é acima de tudo um filme sobre os bastidores da política e, sendo assim, mais teatro filmado, mas nem por isso menos cinema. Trata-se de um filme onde os diálogos assumem o papel central, na política e na intriga dos gabinetes, no acerca da “arte da manipular” vontades e votos em prol de um objectivo, aqui, nobre.
Filmado de forma magistral e plasticamente um assombro (basta ver a sequência do pesadelo, só possível no Mudo, ou aqueloutra, em que pai e filho assomam à janela para verem o fogo-de-artifício; ou, logo a primeira de todo o filme em que Lincoln dialoga com um grupo de soldados, sentado como se estivesse naquela cadeira imensa no seu memorial; ou a cena da visita a cavalo, e a passo aos despojos de guerra, ou, ainda, a da “deposição” do seu corpo na cama, qual mortalha, retorcido e inerte), é um filme, ainda, de Day-Lewis, soberbo e cada vez mais superlativo, da expressão do olhar às variações de voz, aos gestos e à postura do corpo, enfim, um verdadeiro tratado sobre representação.
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