quarta-feira, junho 20, 2007

Parabéns a você:


Nicole Kidman completou hoje 40 anos de idade. Faço minhas as palavras de Eurico de Barros, no DN: «Nicole Kidman faz 40 anos e pode fazer o que quiser

O sisudo escritor inglês Philip Pullman exigiu que fosse para ela o principal papel feminino em The Golden Compass, primeiro filme tirado da sua trilogia de livros fantásticos His Dark Materials. Stanley Kubrick, que a dirigiu e ao então marido Tom Cruise no seu derradeiro filme, De Olhos Bem Fechados (1999) disse-lhe para dedicar menos tempo à família e mais tempo a desenvolver o talento dramático. Gus van Sant, que lhe deu o primeiro grande papel nos EUA em Disposta a Tudo (1993), e lhe valeu um Globo de Ouro de Melhor Actriz numa Comédia/Musical, disse que ela podia ir onde quisesse em termos dramáticos. E de certeza que se Alfred Hitchcock, o calmo fanático de louras, fosse vivo, não descansaria enquanto não a metesse num filme.

Nicole Kidman, que faz hoje 40 anos, disse numa entrevista que tinha passado os seus 20 anos a tentar arranjar um marido e a constituir uma família, e os seus 30 anos a gerir a carreira e a encaixar o sucesso. Chegada agora ao início da quarta década da sua existência, Kidman pode começar a fazer o que bem lhe apetecer.

Além de ser a actriz mais bem paga do cinema americano e a mulher mais rica da Austrália, e ter marido novo em folha (o cantor country Keith Urban), já conseguiu praticamente tudo o que se propôs, quando ainda adolescente, na Sydney dos anos 80, e enquanto os amigos iam para a praia ou para os bares, se isolava em salas escuras para ensaiar papéis imaginários e sonhar que estava num palco ou numa tela.

Duas décadas mais tarde, em 2003, já estrela ofuscante do firmamento de Hollywood e vedeta à escala planetária, e recém-divorciada de Tom Cruise, ex-motor de arranque da sua carreira nos EUA, Nicole Kidman recebia o Óscar de Melhor Actriz. Paradoxalmente, por um dos seus papéis menos felizes, o da escritora Virgina Woolf em As Horas, usando um ridículo nariz postiço que foi confundido com uma interpretação.

Adereços de latex embaraçosos à parte, Nicole Kidman nunca duvidou que o seu destino fosse outro senão ser actriz. Ou não teria desistido do liceu aos 16 anos, apetrechada apenas com as aulas do Philip Street Theatre de Sydney, e começado à procura de papéis onde os houvesse. Houve-os, bem como prémios e também um agente americano que lhe abriu as portas de Hollywood em 1989. Um ano mais tarde, casava com Cruise após entrar com ele em Dias de Tempestade, onde os carros da NASCAR iam bem melhor do que ambos.

Mas ao contrário da sua ambiciosa personagem no brilhante Disposta a Tudo, Nicole Kidman, não estragou tudo dando os passos errados. Até porque tem mais na cabeça do que cabelo louro, e mais para mostrar na tela do que um corpo e uma cara to die for.

Já fez a sua quota parte de filmes infrequentáveis, indiferentes ou infelizes, é certo. Mas também já se transcendeu, e sem precisar de se disfarçar ou escamotear a beleza, em Disposta a Tudo, De Olhos Bem Fechados, Os Outros, de Alejandro Amenábar (2001) , no notável Dogville, de Lars von Trier (2003) ou em Birth-O Mistério (2004), de Jonathan Glazer.

Para ela "o cinema é um meio do realizador, e portanto ser actor significa sermos capazes de nos adaptar - fisica e emocionalmente", e não se importa de passar as passas do Algarve - fisica e emocionalmente - às mãos de um von Trier, por exemplo, se isso "valer a pena". Aos 40 anos, Nicole Kidman pode fazer o que bem lhe apetecer. Esperemos que, de vez em quando, continue a fazer o que vale a pena
».

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