segunda-feira, dezembro 03, 2007

Filmes em revista sumária # 71



Exímio, é o que se pode chamar a Cronenberg nesta sua nova faceta de realizador de policiais; pois se a sua anterior abordagem ao género, em «Uma História de Violência», era quase perfeita, esta é-o sem sombra de dúvida. Além disso, «Eastern Promises» não só é o melhor filme jamais feito sobre a máfia russa, como mantém intactas todas as deformações físicas e morais que o ser humano acarreta consigo, e que o cinema cronenbergiano de antanho nos habituou a ver. Intensamente dramático, superiormente realizado e com aquele traço meio gótico que convém aos filmes do autor de «The Brood», o melhor que se pode dizer deste filme é que o restaurante «Trans Siberian», mesmo fictício, fica a fazer parte do roteiro turístico do South Bank de Londres.

Os actores estão soberbos, dos principais aos secundários (talvez tenha sido uma grande ajuda ao canadiano a presença do realizador polaco Skolimowski... ), do primeiro ao último momento: Mortensen (o melhor trabalho da sua carreira, a lembrar De Niro em «Taxi Driver»), Naomi (mais uma excelente prestação na sua curta, meteórica e justa ascensão ao estrelato), Vincent Cassel (mesmo que entregue aos maneirismos do costume, é talvez a primeira vez em que eles são apropriados à personagem), Müller-Stahl (um dos melhores actores secundários vivos), etc. Em nenhum deles a interpretação se resume a uma maior ou menor apropriação do sotaque russo.

Cenas de antologia deste filme tremendamente actual? A execução no barbeiro do turco, a amputação dos dedos do morto, o bébé recém-nascido e o corte do cordão umbilical, os «Olhos Negros», cantados, tocados e encenados à la Chekov (muitas semelhanças com «The Dead», de Huston); a cerimónia de iniciação/exame de Mortensen, perante o júri mafioso. A melhor sequência? A da inevitável sauna, com alguns dos momentos mais bem conseguidos do cinema do ano 2007; numa espiral de violência em que a luta entre Mortensen e os dois chechenos, luta desigual, violentíssima e assombrosamente real, se vai desenrolando como que num bailado brutal, cada pas-de-deux sucedendo ao outro, segundo após segundo, filmados como se fora Norman McLaren (por coincidência outro canadiano...). Um filme a não perder.

1 Comentários:

Blogger C. disse...

Alguém que concorda comigo, estamos perante um grande filme!

1:30 da tarde  

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