terça-feira, fevereiro 03, 2009

Filmes em revista sumária # 131


A sensação com que se fica depois de se ver «Revolutionary Road», de Sam Mendes, é: onde será que já vi este filme? Terá sido lá em casa, ou na casa do vizinho? Que é como quem diz: aquele drama já quase todos o viveram, vivem ou viverão ainda que com desfecho diferente, até porque aquele desenlace trágico só por acaso acontece, seja porque a isso obrigou a pena do autor, seja porque o tempo tudo apaga. A verdade é que quer seja nos anos 50 ou nosso tempo, a questão de fundo é sempre a mesma, isto é, quem vê caras não vê corações. Mais, cada um de nós comporta em si uma tal dimensão onírica que, uma vez não alcançada, pode descambar no maior dos dramas (morar numa rua com aquele nome só poderia dar no que deu…), mas também pode, simplesmente, ser substituída por outra, logro a logro, ou aparência a aparência.

Este filme do marido de Kate Winslet é, sem dúvida nenhuma, o melhor filme estreado por aí desde que começou o novo ano. Trata-se de um intensíssimo drama, rodado com uma sensibilidade de ‘auteur’, e em que Kate e Leonardo têm interpretações a todos os títulos espantosas. Ela, em todo o filme (que dizer da dança provocadora, chispando o vizinho? Ou dos grandes planos em que o seu rosto é transparente?), e ele, a partir da última e violenta discussão (representar com os olhos não é para todos … Scorsese é que sabe!), merecem todos os encómios e mais alguns. Assim como o realizador e o argumentista, director artístico e todos os demais que rodaram e levaram até ao grande público esta oportunidade de ver bom cinema, do que para além de entreter, esmaga.

A primeira parte de «Revolutionary Road» faz lembrar o mítico mudo «The Crow», de Vidor, em que o protagonista se encontra diluído na rotina do transporte público colectivo e de um emprego maquinal, entre mil secretárias, em 'open space', mas desta vez sem remédio. A segunda parte é um revisitar de «Os Amantes de Maria», de Konchalovsky, um drama magistral sobre um amor mortificante. As sequências mais belas de todas são as que envolvem a personagem do ‘looney’, que matraca verdades de forma crua e terrífica. O final do filme, esse, então, diz tudo: aquele mesmo drama, aquela mesma escolha, vivera-a o surdo e aparentemente senil marido da agente imobiliária. Seja como for, trata-se de um excelente filme.

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