Filmes em revista sumária # 183
Do bem e do mal, sinal de cruz e cruzes canhoto; o universo de Lars von Trier é mesmo esse, e «Antichrist» não podia escapar nem a essa nem a outra das “regras” do cinema do autor de «Dogville»: a capacidade de surpreender o mais fiel dos seguidores. E a surpresa, ou inovação, desta vez, passa não só pelo facto de estarmos perante um filme apenas com duas personagens, em permanente jogo, duelo, brutal, de uso e posse, sexual e não só, uma da outra (talvez o lado escuro e terrífico do bergmaniano «Cenas da Vida Conjugal», por exemplo); como pelo recurso a planos e perspectivas pouco habituais nos filmes do realizador.
Visualmente perfeito, o filme é ainda uma alegoria completa e poderosa, a fazer lembrar as pinceladas da pintura de um Brueghel, por exemplo (vejam-se os corpos nus espalhados pelo chão e pelos troncos raízes das árvores, ou as almas libertas das mulheres vitimizadas subindo o monte), sem que isso signifique recorrer ao explícito violento e ousado, com o propósito de escandalizar quem quer que seja. O par Dafoe / Gainsbourg constitui uma absoluta surpresa de química e eficiência. A melhor cena do filme? A fusão de Charlotte Gainsbourg no verde purificado das ervas, leia-se da Natureza. A pior? O tom piroso, dispensável, da sequência inicial.
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