sexta-feira, junho 11, 2010

Filmes em revista sumária # 209


Verdade seja dita que metade do fascínio de «Io sono l’amore» reside na fabulosa vivenda modernista dos anos 30 que dá pelo nome de Villa Necchi Campiglio e que serve de residência à família ficcionada Recchi. Com efeito, por detrás daquele jardim murado e da fachada austera da casa, há todo um mundo de “décor”, material e humano, feito de folheado a olho-de-perdiz, ao mesmo tempo frio e sofisticado, distante e selecto, onde se vive como que por marcação em agenda mas onde é possível despontar para um “coup de foudre”.

Assim, simultaneamente ao retrato esterotipado e politicamente correcto de uma família milanesa construída em torno de um cavalheiro de indústria (personificado no veteraníssimo Gabriele Ferzetti, e na sempre elegantíssima Marisa Berenson, sua mulher), o inspiradíssimo realizador siciliano Luca Guadagnino dá asas à sua câmara para produzir, a partir de um trágico ruir do castelo de cartas que sobrevivia graças ao patriarca, um magnífico manifesto aos cinco sentidos em que a Natureza e o arte da gastronomia se aliam virtuosamente ao desabrochar amoroso. Um filme ópera? Sem dúvida.

Verdade seja dita, também, que título e “poster” promocional dão a este filme um tom piroso que depois, ainda bem, não se confirma de todo. Verdade seja dita, ainda, que Tilda Swindon está magnífica, enquanto mulher que se arrisca a passar ao lado da vida. Não tanto, porém, quanto os actores que fazem de seu marido e de sua ama. Já o cozinheiro e o filho primogénito mereciam outros actores se bem que, quem sabe, não estará na sua subalternização evidente um dos pontos-chave do sucesso deste filme.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial