Sendo que a melhor forma de celebrar Hitchcock é ver o seu cinema e, no caso presente, rever «Psico», de preferência no grande écran (aproveitando, até, a reprise que aí vem… ), este «Hitchcock», estreia do jornalista-documentarista Sacha Gervasi, não se pode dizer que seja um objecto a menosprezar na secção ‘filmes sobre filmes’, nem mesmo na dos biopic mais recentes sobre realizadores, actores, etc. É certo que ao tentar meter o imenso Hitch num episódio da sua vida (ainda que decisivo), ou seja, nas peripécias em redor do imortal filme da ‘cena do chuveiro’; Gervasi sabia que correria o risco de reduzir um génio a uma garrafa, e foi o que aconteceu. Independentemente da verdade jornalística, insuspeita, aliás, o filme rapidamente começa a marcar passo, mas distrai. Hopkins não consegue estar mal em nenhum papel mas parece esquecer-se por vezes de… Hitch (este não podia ser só uma imensa barriga, um lábio inferior saliente e um registo mais ou menos infantil). Já Mirren, embora sem a fisionomia de Alma, ganha-lhe aos pontos, sendo que acaba por ser Scarlett, pois claro, a enfiar todos no bolso, no papel da Leigh e com uma naturalidade a todos os títulos notável. No cômputo geral, o filme é uma delícia enquanto objecto de cinefilia, e isso é coisa importante, certo?