terça-feira, janeiro 24, 2006

Excelente jogo de rede de Woody Allen

Depois de vermos «Match Point» aquilo que nos ocorre de imediato é que os ares da Velha Albion fizeram bem a Woody Allen. Devolveram-lhe a inspiração dramática, a pontos do seu filme lembrar continuadamente um filme do saudoso Losey. Desta vez o que temos não é uma comédia sentimental ou de costumes, mas um filme denso, no bom sentido, carregado de pinceladas de talento na procura das razões da sorte, ou da falta dela; do acaso, do fortuito, da queda da bola para um dos lados do court, quando bate na tela, e que tudo determina, para o bem ou para o mal.

E Allen serve(-se) como ninguém neste jogo de ténis, neste jogo de pares mistos, em que tudo vale, porque todas as linhas do court são para ser jogadas. Nesse campo, trata-se de um território habitual em Allen: pares que trocam de par, enganos e desenganos, amuos e caprichos, Europa versus América (só faltam mesmo os judeus); diálogos perfeitamente encadeados como se fossem trocas de bola na rede. E ainda há lugar para uma realização soberba (ai aqueles grandes-planos!), uma direcção de actores, idem, e algumas sequências fabulosas como aquela em que os protagonistas passeiam e se beijam num campo de trigo, sob uma imensa chuvada, a lembrar os mais clássicos dos clássicos.

Um grande filme, esta variante de Raskolnikov assinada por Allen, sempre acompanhada pela voz incrível de Caruso, e em que é só pena que Scarlett se apague deliberadamente em favor de Jonathan Rhys-Meyers e Emily Mortimer, a quem devemos seguir de perto em futuros papéis.

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