segunda-feira, janeiro 30, 2006

A quintessência do deboche

Antes de mais, há que dizer que só em alguns pontos este «The Libertine» coincide com a vida escabrosa, debochada, mas, por vezes, genial, de John Wilmot, 2º Conde de Rochester, percursor, de alguma maneira, do Marquês de Sade, e homem admirado por Voltaire e Goehte. Com efeito, o estreante Laurence Dunmore baseou-se muito mais na peça de Stephen Jeffreys do que propriamente nas façanhas mirabolantes deste homem, profundamente culto, que vivia para em equilíbrio de fio-de-navalha.

Como filme de época, «The Libertine» é um brilhante exercício sobre a atmosfera que se viveu no período da Restauração inglesa, no pós-trauma dos Cromwell; para o que contribui decisivamente não só a sua fotografia quase mono-cromática, por vezes assombrosamente saturada de grão, mas também pormenores bem apanhados como as botas dos nobres do Merry Gang atolando-se na lama das ruas de Londres, ou um King Charles Spaniel defecando em plena sala de autos de um solene Charles II.

Mas «The Libertine» é também um filme de actores, e aí, Johnny Depp está assombroso enquanto anti-puritanista primário, rubricando uma interpretação totalmente à margem do seu c.v., feito de personagens românticas, boas e infantis. E há alguns momentos verdadeiramente conseguidos, como sejam o ensaio de uma Samantha Morton feita Mrs.Barry, a encenação verídica de Signor Dildo, ou a intervenção de Rochester salvando (mais tarde, o problema haveria de se agudizar...) a descendência de Charles II, em plena Câmara dos Lordes. Quanto a Malkovich, ele é daqueles actores a que basta a expressão facial para ter o espectador a seus pés, mesmo com nariz postiço.

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