terça-feira, julho 03, 2007

Filmes em revista sumária # 51


Confesso que não estava à espera de ver nada de relevante em «Lady Chatterley», não tanto porque não goste do cinema de Pascale Ferran (agora regressado) mas tão só porque acho que D.H.Lawrence é genuinamente inglês, ou seja; adaptações dele só ... inglesas ... veja-se a desastrosa transfiguração de Danielle Darrieux! ... por muitos argumentos que a sensibilidade, a poética e a câmara francesas consigam sempre fazer vingar em adaptações literárias. Só que a frigidez inglesa, a separação de classes, a melancolia congénita, entendia eu que não poderiam ser filmadas a não ser por um britânico. Puro engano.

Esta adaptação é fabulosa e muito melhor que a de 1981, com Kristel, e só peca mesmo por trazer algumas originalidades apimentadas ao imortal romance, e em ter uma dupla de actores principais que, tendo óptimas prestações nos papéis da Lady e do couteiro protagonistas, não tem, comprovadamente, aquele traço inglês tão sui generis ... a começar pelo idioma, mais ela do que ele, diga-se. Mas Marina Hands está soberba: frágil e delicada, sonhadora mas perversa, déspota, mesmo. Também Jean Louis Coullo'ch o está: boçal mas sensível, bruto mas envergonhado.

Realce sobretudo para as soluções criativas de Pascale Ferran, quer no que toca a dar vida aos Elementos (ar, água, fogo, terra), à carnalidade reprimidade, à descoberta dos sentidos (todos eles elementos tão característicos da obra de Lawrence), quer às soluções técnicas da própria realização e montagem, com destaque para o uso da narração (off vs. intertítulos), para a síncope entre capítulos, etc.

Melhores sequências do filme: a viagem com a irmã e um amigo a Menton, já no final, como que a meter o espectador num filme de família, de época, literalmente, a correria à chuva, nús, e o da primeira aproximação, debruçados sobre a capoeira dos pintos.

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