quarta-feira, outubro 24, 2007

Filmes em revista sumária # 62


«A Estranha em Mim», fica muito melhor tratada na fotografia se a tratarmos por The Brave One, pois é disso que se trata: uma simples cidadã que, à imagem, de Bronson, em «Death Wish» (tinha desejos de matar, mas foi traduzido por «O Justiceiro da Noite»), resolve empreender uma luta desigual contra os bandidos, reais e imaginários,. O interessante do filme não é tanto a brutalidade ou a violência das cenas, mas o case study que se revela, talvez paradigmático, do estado de coisas entre os nova-iorquinos, desde o 11 de Setembro. Aqui não está a vingança, tout court, de um médico - Bronson - que resolve fazer justiça pelas suas próprias mãos, depois de ver ser assassinada a sua mullher, mas antes uma mulher que vive a cidade, respira os sons e as imagens de uma cidade, cada vez mais irreconhecível, para um programa de rádio, sem interactividade com os ouvintes. De um momento para o outro cai na real: tudo aquilo que ela era, deixou de o ser. Até mesmo o programa passou a ser de diálogo com os ouvintes. E que cidade se lhe revela, e que humanos.

Não se pode dizer que Jordan seja um autor nosentido clássico do termo, até porque muitos dos seus filmes podiam ser realizados por qualquer outro dos seus colegas (europeus ou não), desde que capaz e com bom gosto, atributos que Jordan tem, sem dúvida, aliados a uma invulgar capacidade de direcção de actores e construção de ambientes. Neste filme, o toque indelével de Jordan aparece aqui e ali, mormente nos flashes, entre «crises» de Jodie, nos grandes planos, verdadeiros raios-X sobre a protagonista, e na mistura de câmara e telemóvel, sempre exímia e oportuna, bem ajudada por uma iluminação a preceito. Há um elemento central: Central Park (tal como em «Death Wish», aliás), que resulta como labirinto de minotauro, onde as transformações se vão fazendo, sem dó nem piedade.


Uma palavra para Jodie. Ela faz parte de um selectivíssimo pequeno lote de actores e actrizes que me fazem ir sempre ver os seus filmes, quando estreiam. Até hoje nunca fiquei desiludido. É uma actriz extraordinária. Só espero que não se restrinja a uma Sigourney Weaver, Parte II, pois tem talento a mais para ficar refém de personagens violentas.

1 Comentários:

Blogger Cataclismo Cerebral disse...

Boa crítica! Parabéns

10:10 da manhã  

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