Filmes em revista sumária # 110
Fiel à sua tradição e ao fio condutor evidente em toda a sua obra, este regresso de Lumet (por muitos injustamente considerado ‘apenas’ como um realizador de TV) aos grandes écrans de Lisboa, é de saudar efusivamente. Regresso, acentue-se, com mais um filme eminentemente humanista, desta vez sob a capa de um drama familiar com contornos policiais. Mais uma vez, no cinema (e é cinema do melhor!) de Lumet – seja ele por via de um soldado forçado a construir um monte de areia em pleno quartel («The Hill»), de um advogado alcoólico em fio de navalha («The Verdict»), seja por um detective da polícia em crise existencial («Serpico»), por ex. – o que interessa a Lumet é o Homem: que das fraquezas faz forças; das traições (uma constante dos filmes de Lumet) se auto-flagela, nos vícios busca a redenção; da moral, ou da falta dela, se alimenta; e no final, a espada da lei tudo resolve, muitas vezes dando corpo a uma justiça cega (e quantos filmes de Lumet não são, aparentemente, meros filmes de tribunal?), etc.
Não se pode dizer que «Before the Devil Knows You`re Dead» seja uma obra-prima, nem o melhor filme do veterano realizador, cujo regresso ao grande écran se saúda! Nada disso. 'Apenas' é o seu melhor filme desde «Verdict». Mas que é cinema de primeira água, isso é indiscutível. Pela realização, a régua e esquadro, feita de tempos certos e de uma primorosa direcção de actores (Seymour-Hoffman cada vez melhor); uma verdadeira mise en scène, deixando por vezes desconfortável o espectador (vejam-se as fabulosa cenas de pai e filho, no banco do jardim, ou a da conversa pós-coito entre Seymour-Hoffman e Marisa Tomei (cuja personagem devia ter sido mais aproveitada…). O final do filme é um pouco 'esquisito' na forma, mas tremendamente lumetiano. Cinema que ‘já era’ mas que devia poder ‘vir a ser’.
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