Filmes em revista sumária #434
Se dúvidas houvesse sobre se o filão criativo dos irmãos Coen tinha ou não chegado a um bêco sem saída, elas ruem por completo com «A Propósito de Llewyn Davis», pois, embora seja mais um filme em que os irmãos judeus do Minnesota nos contam a história (e como os autores de «Fargo» sabem contar histórias…) de mais um anti-herói americano - um cantor ‘folk’ irremediavelmente falhado, incapaz de superar o desaparecimento do parceiro de duo, decididamente não talhado para ser figura de cartaz - tudo é tão naturalmente fluído, simples e renovado, que não podem restar dúvidas a ninguém: o bom cinema Ethan e Joel Coen está para dar e durar.
Estamos, é certo, longe do espavento alucinado do escritor bloqueado de «Barton Fink», ou, não tão longe assim, da inabalável e teimosa honradez de «Um Homem Sério», mas esta peregrinação interior de Llewyn Davis toca-nos fundo, como poucos filmes tocaram nos últimos tempos, muito por culpa, também, de Oscar Isaac, aqui voluntariamente despido de qualquer carisma. Neste sentido, é um filme sobre a vida de alguém vulgar de Lineu.
É também um filme de pormenores: da inimitável e ainda genuína Greenwhich Village ao ’MacGuffin’ daquele lindo gato amarelo aventureiro (chama-se Ulisses!), que atravessa a narrativa e a própria personagem central; daquela banda sonora que só podia ser americana (nota: não sou fã, mesmo nada, da música ‘folk’) àquele que é o mais bonito W.C. déco filmado nos últimos anos pelo cinema norte-americano, coroando uma sequência toda ela estranha e surreal com a personagem ‘overacted’ de John Goodman.
No resto: a usual excelência dos manos Coen na direcção de actores, na fotografia, na montagem, etc. Fica por decifrar quem faz de marido da cantora insultada por Llewyn , que dá a este uma verdadeira coça nas traseiras do bar; ah, como gostava que fosse Kris Kristofferson...
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