Filmes em revista sumária #540
Não admira, portanto, que alguns romanos de hoje dele tenham sentido vergonha ou ficado ofendidos, mesmo sabendo que é apenas ficção. Ou dele tenham dito que não convence, pois. Ou que chamassem cabotinas às gloriosas interpretações daquele naipe de belíssimos actores, que nos fazem salivar no babete e pedir ancora di più. Por aqui, pu troppo, apenas podemos esperar que tamanha narrativa, mesmo que ficcionada, não colha senão nos espectadores, mas nem isso acontecerá, dado o quase anonimato com que ingloriamente está a ser exibida nas nossas salas, com lotações médias a rondarem os 30% da sala, talvez porque a promoção dos filmes continue soberbamente enviesada para os mesmos do costume (suburra?).
Sollima dá-nos um fabuloso western por terras de Ostia, a estância que todos querem transformar na Las Vegas do Tirreno e onde não faltam clãs e padrinhos das altas esferas, rixas e duelos a solo, cobardes que viram heróis (grande papel o do “sempre em festa” Sebastiano), vilões disfarçados de honoráveis deputados, traição e jogo sujo, ganância, poder, dinheiro, droga e prostituição. E muita música numa banda sonora fabulosa, de M83. E uma fotografia de Paolo Carnera (discípulo de Carlo di Palma) assombrosa, sobretudo quando trata as cenas com Numero 8 e Viola, o par de jovens tão criminosos quanto sonhadores, nas quais ele e Sollima conseguem escrever autêntica poesia. No final apoteótico, o derradeiro episódio de um filme contado em contagem decrescente, o apocalipse digno de Peckinpah. A melhor cena? A do assassinato do ex-presidiário à saída da discoteca.
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