quarta-feira, março 02, 2016

Filmes em revista sumária #536


«Cavaleiro de Copas» (não confundir com Rei de Copas) fala sobre nada e sobre tudo durante duas infindáveis horas, pelo que se aconselha de antemão os espectadores não devotos de Terrence Malick a irem em vez à cartomante de serviço no parque de diversões mais perto de suas casas, para que elas lhes expliquem, de turbante na cabeça, olhos esbugalhados de rimmel e unhas bem pontiagudas, o que a carta em apreço significa, coisa que terão todo o gosto e fortuna em fazer, claro, em tempo bem mais curto, quiçá segundos, ainda que a custo mais elevado para o utente do que o de um bilhete de cinema, pois tempo é dinheiro e o que é barato sai caro.

Mais a sério, e muito (mesmo) sinceramente, teme-se que o autor do ainda inesquecível, e insuperável até ver, «Dias do Paraíso» (1978), ande irremediavelmente perdido no meio de tanta e demorada levitação em torno do que é a vida e o que fazemos neste Terra, brain storming que dura, lembre-se, desde os tempos do já longínquo «A Barreira Invisível» (1998), ainda que aí profusamente intervalada por cenas bélicas, aliás magníficas. Por sinal, Mallick, que até recentemente tinha vindo a alimentar a (vã) tentativa de se prefigurar junto de muitos como “o” herdeiro de Kubrick, no tempo e no modo, decidiu agora produzir em ritmo mais “frenético” (ainda que só a pós-graduação deste seu novo filme tenha demorado dois anos…), facto que até lhe podia ser benéfico mas não tem sido, infelizmente.

Em «Cavaleiro de Copas», lá volta tudo a estar muito bonito e enquadrado (não fosse a fotografia de Emmanuel Lubezki), imaculado, etéreo até, cabendo desta feita a Christian Bale o papel de cavaleiro solitário na pesadíssima demanda pelo “Santo Graal” – tentando ser como o “pinta” a carta em apreço: sólido e emotivo, sereno e conciliador, bom entendedor da natureza humana! -, e a Cate Blanchett e Natalie Portman (esta a espaços), o de Guinevere, leia-se partenaire.

As “cenas explosivas” ficam a cargo das festanças malucas das criaturas extravagantes ligadas à indústria do cinema, e aos achaques sexuais do protagonista. O resto é paisagem e muita câmara em diálogo não se sabe muito bem com quê ou quem. Pessoalmente, gostava que se pudesse ter ouvido o que tinha a dizer Brian Dennehy.

Há sempre quem goste, como de caça aos gambozinos, e alguns muito.

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