terça-feira, março 17, 2015

Filmes em revista sumária #494


Vem o título desta crónica («2 discípulos, 2 génios, 2 filmes») a reboque do ciclo que a Cinemateca Portuguesa dedica a alguns dos colaboradores de mestre D.W. Griffith, que depois de “estagiarem” com o pioneiro, vieram a ser outros que tais, mais ano menos ano, ex. John Ford, Erich von Stroheim, Frank Borzage ou Raoul Walsh, entre muitos outros.

Ora no meio de tanto nome famoso e de tanto título irresistível (por mais que os vejamos pela enésima vez), mudo e sonoro, a preto e branco e a cores, que se vai projectar durante esta dedicatória na Barata Salgueiro, ao longo do mês de Março e que, é bom lembrar, nos chega por efeito colateral da efeméride mundial de «O Nascimento de Uma Nação» (1915) – e por falar em comemorações, não se entende como é que o Cinema São Jorge passa ao lado dos 30 anos de «Tubarão»?! -; há dois filmes, de outros tantos génios, que merecem destaque, no seu título original, bem entendido, porque a tradução que deles fizeram à altura, não se faz: «The Crowd» e «The Unknown». Duas histórias de amor inolvidáveis.

A primeira, realizada por Vidor (King, claro), estreada em 1928 e sem actores de nomeada, retrata a odisseia de alguém a quem a sorte não quer bafejar, apesar de nado a 4 de Julho; atirado que foi para uma secretária, metido entre mil outros iguais (plano dos mais terríveis da história do cinema), indiferenciado numa imensidão de sala de uma companhia de seguros, perdido que foi o sonho de conquistar um lugar ao sol em NYC. Até que o amor o resgata, depois de uma série de agruras, com a poderosa câmara de Vidor sempre presente.

Na segunda, uma daquelas fantásticas paradas de monstros de Tod Browning, quase sempre a meias com Lon Chaney (não confundir com o homónimo Jr.), o “homem das mil caras”, em 1927; Alonzo é louco pela beldade gitana de Nanon (fabulosa Joan Crawford), sua parceira em arriscado número de circo, não hesitando em se decepar ingloriamente de modo a conquistá-la, a ela que persistia em ter medo de braços masculinos mas apenas para ele, afinal. Sublime perversão.

São mudos? Pois são e (re)vê-los vale mais que mil palavras.


In O Diabo (17.3.2015)

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