quarta-feira, fevereiro 11, 2015

Filmes em revista sumária #489


Diz quem sabe que 1981 foi um dos anos mais violentos na história de Nova Iorque (não por acaso Carpenter rodou nesse mesmo ano «Nova Iorque 1997», em que a ilha de Manhattan era a prisão, o gueto murado, de todos os seus meliantes), a que não terá sido estranha a ascensão do “crack”.

Seja como for, Jeffey Chandor agarrou nesse ano para nos dar mais um dos seus magníficos filmes, o seu terceiro, agora uma parábola sobre as grandes esperanças de Abel Morales, um emigrante colombiano, que tem como sonho americano uma Nova-Iorque a seus pés.

E se no primeiro filme daquele jovem realizador, o protagonista era asfixiado pela teia da alta finança, e no segundo eram o oceano e os elementos quem ameaçava a sobrevivência do navegador solitário, neste «Um Ano Muito Violento», a personagem central luta desesperadamente (quase sempre de impecável e resistente sobretudo pêlo-de-camelo) por escapar ao jugo da corrupção e do gangsterismo militante, típico da actividade-negócio em que está metido (os derivados do petróleo).

Mais uma vez, Chandor filma a iminência do naufrágio da sua personagem central (uma enormíssima interpretação de Oscar Isaac – há ali qualquer coisa de Pacino), que lhe vai resistindo calma e estoicamente, sem pânico, no equilíbrio de fio-de-navalha, entre razão e emoção, e onde se comprova a velha máxima: “por detrás de um grande homem está sempre uma grande mulher” (e que Jessica Chastain!).

Um cinema minimalista, físico e elegante, em que a reconstituição de época (material e imaterial) e a encenação e os diálogos são fundamentais, um cinema onde valem os gestos, as expressões do rosto e o olhar. Ou como com um argumento linear e uma história simples se faz bom cinema, sem precisão das grandes parangonas e das 3-D. Não esquecer a assombrosa fotografia (também assente no tom pastel) de Bradford Young, e a música de fundo, a lembrar Badalamenti, de Alex Ebert.

Moral da história? «I have always taken the path that is most right», Abel dixit.


In O Diabo (10.2.2015)

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