Filmes em revista sumária #510
Com um «A Face do Amor» como título em português (e em inglês, que desta vez o busílis não está na tradução…), era perfeitamente natural que o filme do israelita Arie Posin fosse rotulado pelo público, ab initio, como algo a evitar por se poder tratar de um mais que provável tear-jerker digno do nosso folhetinesco vetusto, de revistas inesquecíveis como a “Maria” ou o “Capricho”, o que é uma perfeita injustiça, diga-se, mas as coisas são como são e a culpa é de quem assim o baptizou.
Como se isso não bastasse, e o filme tenha ainda estreado entre nós com três anos de atraso em relação à sua rodagem, ele ainda tem um problema adicional, já mais de carácter estrutural: a ideia de que é possível encontrarmos alguém exactamente igual a outrem, física e espiritualmente falando, no raio de acção do nosso quotidiano, no supermercado, perdão, no jardim ou no museu da esquina, é perfeitamente estapafúrdia e de probabilidade praticamente nula, mesmo numa cidade como L.A., e nem precisamos de Laplace para o certificar.
No entanto, a verdade, pelo menos para quem assina a presente crónica, é que apesar desses 2-3 óbices sérios, «A Face do Amor» tem qualquer coisa que cola e que faz com que não desistamos do filme. Esse je ne sais pas quoi talvez resida no facto do realizador ter conseguido desenvolver a narrativa num ambiente de suspense à Hitchcock, a que a belíssima banda sonora (nymaniana?) de Marcelo Zarvos e a fotografia de Antonio Riestra (ui, aqueles planos na cena final na piscina!) ajudam e de que maneira.
Por outro lado, o filme conta com dois contributos notáveis a nível da interpretação e entrega às personagens principais, as dos talentosos e anti-plásticas Annette Bening e Ed Harris, sobretudo a primeira, que está brilhante a todos os níveis. Já em relação ao malogrado Robin Williams fica a pergunta: que está ali ele a fazer?
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