A nossa Canção de Lisboa
O mistério de semelhante e irrepetível êxito terá mais que ver com o facto de que talvez aquela comédia, aquela “canção”, bem vistas as coisas, ser o nosso fado: o fado de um país do e que faz de conta muitas vezes, demasiadas aliás. Se compararmos «A Canção de Lisboa» com o decalque do “pátio”, de Ribeirinho, em 1942, este outro perde claramente para o primeiro em todas as vertentes e mais algumas.
Ao invés, cada vez que se revê (haverá alguém que nunca o tenha visto?) o único filme realizado pelo Arq. Cottinelli Telmo [e para quando as pazes com o legado do multifacetado e injustiçado José Cottinelli Telmo (1897-1948)? É que por mais exposições e menções que se promovam, e promovem, a verdade é que, por exemplo, a fabulosa estação fluvial Sul e Sueste, ao Terreiro do Paço, continua vergonhosamente abandonada!], entra-nos uma revoada de ar fresco, um tónico particularíssimo, que não só dura integralmente a hora e meia da película como perdura durante alguns dias.
Que se acuse quem nunca foi às lágrimas com os “diagnósticos” do Vasquinho aos bichos do Zoo, ou com o sentimentalão “fado do estudante”. Haverá alguém que possa ficar indiferente ao triunfo apoteótico do cábula no exame de medicina, coroado com o esternocleidomastoideu? Ah, e aquele número musical de antologia, tão singelo quanto provocadoramente libidinoso, da filha-costureirinha (Beatriz Costa) e do pai-alfaiate (António Silva): “Ai chega, chega, chega, chega à minha agulha; afasta, afasta, afasta, afasta o meu dedal”.
Cai sempre bem «A Canção de Lisboa».
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial