O Rei da Comédia
E se ”Rei da Comédia” pode ser exagerado, se nos lembrarmos de Chaplin e Keaton, ou Lloyd, as referências maiores do cinema de comédia (e muito do demais, já agora), e é verdade que continua a haver quem deteste as “caretas” de Jerry Lewis, o facto é que é no sonoro, e de forma ainda mais evidente na passagem do p/b à cor, onde há um antes e um depois de Lewis. Para isso não terão contribuído apenas a sua presença assídua na rádio e na televisão, os shows que fez pelo mundo depois do arranque em Atlantic City, o seu filantropismo ou a sua nomeação ao Nobel da Paz.
Jerry Lewis desfez tabús e revolucionou a mise-en-scène (a este propósito veja-se a obra-prima que é «O Homem das Mulheres», de 1961, ainda que inspirada em Tati). Lewis teve a ajuda preciosa de Tashlin e Taurog mas foi (é), como a Cinemateca tão bem o apresenta, «o último do “cómicos totais” do cinema americano, controlando os seus filmes ao mais ínfimo pormenor, e dominando, com a sua presença, o que se passava diante da câmara». Apenas o público contava para Lewis. E o público contou sempre com Lewis e o seu contorcionismo.
Por isso há que aproveitar a oportunidade que a Cinemateca nos dá em o (re)vermos, pois já não há nem Caleidoscópio nem Berna e a RTP olvidou-o.
Ah, e se há filme de Lewis que se deva levar para uma ilha deserta, é escolher sem hesitar «Jerry no Grande Hotel», de 1960, o seu primeiro enquanto realizador.
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