Filmes em revista sumária #505
A verdade é que os irmãos Dietrich e Anna Brüggemann, realizador e argumentista de «Estações da Cruz», sabem do que falam por via da sua própria experiência na lefebvriana Sociedade São Pio X, e talvez por isso o filme tenha um tom tão intimista e sofredor.
Seja como for, trata-se de um filme magnífico. Um filme duro e violento. Que lembra Dreyer e Bergman, na narrativa e nos rostos, nas cores e nos matizes, nos compassos entre estações, na câmara estática, de cujo campo de visão entram e saem personagens e falas, mas que só se move propositadamente em alguns finais de cena – veja-se o admirável movimento de câmara acompanhando o padre catequista e a mãe (superlativa Franziska Weisz) com o irmão ao colo, aquando do milagre, detendo-se por fim nuns rostos magníficos. É um filme sobre a abstinência vs. a anorexia, corpo vs. alma, fé vs. crença. Um “não nos deixeis cair em tentação mas livrai-nos do mal” interiorizado ao mais ínfimo detalhe.
Um filme que sufoca e que incomoda. Um filme que só podia ser germânico. Um filme em que à medida que o suspense avança damo-nos conta que sofremos pela despojada Maria, mesmo que lhe adivinhemos o final, porque as Escrituras assim o garantem. E um filme que passa ao lado dos aconselhamentos do Dr. Spock, não o vulcânico do «Caminho das Estrelas» mas o outro.
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