quarta-feira, dezembro 21, 2005

Oliver Twist, de Polanski, apenas belisca o de Lean

A primeira impressão com que se fica desta adaptação de Polanski do clássico de Dickens (aconselho leitura atenta à edição velhinha das Edições Romano Torres!), é que estamos no meio das cores acinzentadas da ruralidade cruel, e da exploração infantil e de tudo o mais que ele nos deixou, ele, de quem disseram um dia ser o exemplo vivo da diferença que existe em ir à escola e ter educação. E Polanski, nesse aspecto, fá-lo na perfeição, tal qual o havia feito com Hardy e "Tess", aliás, provando que a cor não é inimiga da ficção dickensiana, muito pelo contrário.

Mas feitas as contas finais, e uma vez chegados à Londres vitoriana, o filme começa a cair aos poucos e poucos, ao ritmo de cada golpe que os fedelhos ladrões dão no mercado de bairro. Será por culpa das extravagâncias de Ben Kingsley, que compõe um Fagin a pensar em acabar com a concorrência imbatível de Guiness, dos anos 40? Ou será daquele Bill Sykes que quer fazer o mesmo em relação a Robert Newton, e que acaba por perder o protagonismo para o cão? O certo, certinho, é que mal este Oliver Twist passa ao esconderijo da quadrilha de larápios juvenis a mando de Fagin, logo desaparece o brilho dos primeiros momentos, em que autênticas pinceladas de talento de Polanski (algo parecido ao que se passava com "O Pianista", aliás)nos dão momentos de rara beleza, algures entre o romantismo e o neo-realismo.

E é pena, é pena porque a história é belíssima, intemporal mesmo, ainda que por demais conhecida. Pode, por isso, David Lean continuar a descansar em paz, que o seu Twist de 1948 continua a ser a única adaptação que passará à História como sendo "a" adaptação de Twist; até porque a versão musicada, de Carol Reed, essa nunca chegou a contar absolutamente para nada, pese embora a excelência da representação do então pequeno Oliver, e apesar dos Óscares que ganhou.

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