Na «reprise» de «Professione: Reporter»
Antes de o rever, a dúvida assaltava-me: chatérrimo filme de Antonioni, também ele perdido na sua identidade? ou obra-prima absoluta do cinema de vanguarda do autor de «Il Deserto Rosso»? Como no meio está a virtude, parece-me que se é verdade que «Profissão: Repórter» é um filme datado (como as camisas justinhas e as calças boca-de-sino de Nicholson, ou a Espanha rural e urbana de há 30 anos), que Nicholson nunca esteve tão amorfo como aqui, e que ele (o filme) é demasiado evidente quanto à mensagem de originalidade narrativa e de montagem, e da procura de identidade (nem que seja como «free rider» ... como é o caso deste «passageiro») como temática central da história, vectores centrais na obra do realizador; a verdade é que o filme é tremendamente actual.
Actual no que concerne ao interesse da trama (policial, q.b., e que se vai agravando a partir de um pequeno pormenor... tal qual «Blow Up», por sinal), actual quanto às personagens perdidas (as tribos, os ditadores africanos, os repórteres-correspondentes, os estudantes em périplo, etc.), e quanto à revisitação de uns quantos planos em que Antonioni se supera a si próprio, sobretudo naquele em que Nicholson ensaia um vôo sobre o porto de Barcelona, ou naquele fabuloso plano-sequência final que nasce e morre no ferro forjado de uma janela de hotel de pó andaluz. Um filme que peca pela lentidão, totalmente assumida e propositada, aliás. Mas soube-me bem revê-lo.
1 Comentários:
confesso que adoro essa lentidão. É mais do que uma imagem de marca. É o contraponto da vida das personagens. Melhor: é a projecção da agonia que as domina.
Li uma crítica na Y onde se dizia que o Antonioni era um chato e isso, só por si, era um elogio. A frase é um bocado bruta. Mas é acertada. Muito mesmo.
E confirma_se: Antonioni é dos que mudou algo no Cinema. Tornou-o,passe o pleonasmo, visual.
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