quinta-feira, outubro 24, 2013

Filmes em revista sumária #421


Abbas Kiarostami por terras do Sol nascente é obra, dirão quase todos, e realmente assim é com «Like Someone in Love», que bem que podia ser realizado por um nipónico (Ozu?), que ninguém veria a diferença. Puro engano, por sua vez, aquele que levar o espectador a pensar que está apenas perante as peripécias resultantes de um ‘serviço’ de uma juvenil prostituta (ela não teria sempre aquele sono oportuno?) a um velho professor (ele não quereria apenas jantar com ela e vê-la dormir?); isso será puro defeito de pré-formação ocidental. Aqui estamos no Japão das gueixas (que estão longe de vender sexo, como se sabe) e dos velhos que se deixam morrer junto a uma jovem só para aspirarem, textualmente, alguma da juventude irremediavelmente perdida, e que Kawabata tão bem descreve em «A Casa das Belas Adormecidas», por exemplo.

É disso que trata este filme, de um Japão que subsiste apesar da americanização do sistema, de que Ella funciona como o hitchcokiano MacGuffin. E, depois, há toda aquela maneira muito própria e bela (e bem conseguida) de Kiarostami nos dar a acção das personagens principais com estas ausentes do campo visual para gradualmente ocuparem toda a objectiva, que se vai adivinhando em pequenos detalhes (visuais e auditivos) de terceiros elementos: os ruídos da rua, os vidros que filtram a imagem, etc. Isso e aquele ritmo pausado, de quem conhece o desfecho como inevitável, humor negro. Puro orientalismo.

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