Filmes em revista sumária #417
«Como Um Trovão» (tradução estapafúrdia mas em sintonia com a ‘tradição’ das nossas luminárias), de Derek Cianfrance, marca o encontro por breves segundos entre, quiçá, as duas maiores estrelas masculinas do atual cinema norte-americano, Ryan Gosling e Bradley Cooper, ainda que o primeiro seja canadiano e uma coisa é ser-se estrela outra bem diferente é ser-se actor de primeira água, e neste particular o epíteto cair muito melhor ao segundo, é um facto. Outro facto indesmentível é: cabe a Eva Mendes (a do anúncio da Vodafone, lembram-se?) e não aos rapazes de serviço, meter o filme no bolso. Avante.
No rescaldo deste filme intensíssimo, que vai encadeando progressivamente as personagens num drama irrevogável e tripartido - o ladrão (acrobata destemido sem eira nem beira), o polícia (filho de papá, que se quer afirmar por si próprio) e os filhos de ambos (fruto das circunstâncias e, afinal de contas, o verdadeiro leit motiv do enredo) - a imagem-choque que fica é a daquele belíssimo plongée, com o primeiro estatelado de costas no passeio e a poça de sangue sob o crânio a crescer. O olhar fixo, a expiação. Um pouco de nós esvai-se com Gosling. A partir daí será a outra face da mesma moeda, com Cooper a desenvencilhar-se de uma teia tremenda, entre os internal affairs e o sentimento de culpa, ambos a puxarem-no para baixo. Só algures, naquele local para lá dos pinheiros, onde tudo é terrivelmente verde e a música nunca foi tão bela, é que tudo se resolverá. Com os filhos tornados protagonistas, contudo, o filme liberta-se da teia mas cai a pique, num déjà vu como com os pais de verdade. Inevitável.
Do ponto de vista cinematográfico, «Como Um Trovão» também é tripartido: Cianfrance mostra que sabe ‘explorar’ os actores. A fotografia é especialmente virtuosa, feita de cores saturadas, sufocantes, grandes-planos nos rostos de Rosling e de Cooper, as fugas de moto, a perseguição policial e o desfecho na casa sequestrada. Terceiro: a música e que música! No resto é a quadra: «com três letrinhas apenas se escreve a palavra mãe, que é das palavras pequenas a maior que o mundo tem.
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