terça-feira, setembro 17, 2013

Filmes em revista sumária #413


Quando Woody Allen resolve desligar o piloto-automático (um risco para quem produz ao seu ritmo), costuma presentear-nos com pequenas pérolas como a que agora se estreou, é protagonizada por uma Cate Blanchett superlativa, e se chama «Blue Jasmine»: de longe o melhor dos seus filmes nos últimos anos, pelo menos desde «Match Point» e porque, além do mais, porque fica um seríssimo nó na garganta.

Não temos Nova Iorque mas temos São Francisco. Não a ‘cidade nua’ dos policiais a p/b, corridas de automóveis e Alcatraz (nesse sentido trata-se agora apenas de uma mudança de cenário), mas uma cidade de personagens reais, com histórias de família que todos conhecemos. Lá estão os diálogos afiadíssimos, como é hábito em Woody Allen, e a sua conhecida arte em dirigir actores que à partida não ‘encaixam’ uns com os outros ou parecem não estar à altura do padrão de qualidade dos filmes por si realizados.

«Blue Jasmine» é todo um drama, digno de novela, mas tem muito humor a pontilhá-lo, inteligente e não poucas vezes subliminar. Não há um único tempo morto nem uma única falha de argumento - e quantas vezes só por isso o cinema do autor de «Annie Hall» nunca cansa. É também um filme em que os homens são secundários (e não o são sempre mesmo quando motivo principal do folhetim?) perante aquela dupla de irmãs adoptadas (fazem sempre questão de o referir) de faísca, quase omnipresente.

Mas «Blue Jasmine» é sobretudo … Cate Blanchett (Óscar garantido?). De facto, a actriz australiana, visivelmente mais velha, nunca esteve tão perfeita quanto como nesta Jasmine caída subitamente em desgraça por força das circunstâncias de um ‘bom casamento’ falhado, e de um snobismo incontinente que a impede de se libertar da neura irreversível, do ‘poço’ onde caiu. A Blanchett transmite uma fragilidade impressionante à sua personagem, aparentemente fútil e superficial por detrás daquele rosto belo, mas indomavelmente poderosa, que faz com que torcemos imediatamente com ela na sua luta por voltar à tona. Porém, ficamos a falar sozinhos.


In O Diabo (17.9.2013)

2 Comentários:

Blogger Julio Amorim disse...

A anos de luz daquela borrada do ano passado(Roma)que nao aguentei até ao fim.
Mas....consegue-se fazer maus filmes com esta Sra. Blanchett ?

bfds

9:49 da tarde  
Blogger Paulo Ferrero disse...

Não se consegue, não ;-)

12:38 da manhã  

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