terça-feira, setembro 10, 2013

Filmes em revista sumária #412


Estreado em Lisboa no extinto Satélite (sala-satélite do saudoso Monumental), em 1972 (antes de 1974 também se estreavam filmes soviéticos), «Alexandre Nevski» serviu a Sergei M. Eisenstein para fazer as pazes com o poder soviete, terminando assim um conflito tortuoso de uma década entre um dos maiores realizadores de todos os tempos – um artista completo – e um regime que sempre o quis espartilhar e moldar, mesmo quando o cobria de honrarias ou assistia ao seu justificado endeusamento no Ocidente.

O filme, feito em 1938, numa altura em que a ameaça alemã já se fazia sentir, não é a obra-prima máxima de Eisenstein (essa será sempre «Ivã, O Terrível», pelo menos a sua 1ª Parte) mas é um filme portentoso e belo, e que foi um instrumento de propaganda muito útil aquando da invasão alemã de 1941, como é óbvio. Os feitos do Príncipe de Novgorod (um dos maiores condottieri da história russa, posteriormente santificado – uma história parecida à do nosso Condestável) no Séc. XIII, contra mongóis, suecos e, sobretudo, contra os cavaleiros teutónicos, serviram às mil-maravilhas à máquina da propaganda para que a alma russa resistisse à Operação ‘Barbarossa’.

Mestre da montagem e de uma sensibilidade estética a toda a prova, Eisenstein fez deste seu primeiro filme oficialmente sonoro um filme de uma fluidez impressionante e de uma imensa carga operática, senão mística (e o poder agradeceu), mas que talvez nunca o pudesse ter sido não fora o sublime P/B da câmara de Tisse (colaborador assíduo de Eisenstein) e a partitura empolgante de Prokofiev (estreante) ou, claro está, esse actor gigantesco (em todos os sentidos) de nome Nikolai Cherkasov.

Neste filme obrigatório em qualquer arquivo caseiro que se preze, há uma sequência inolvidável: a da batalha entre russos e teutónicos na imensidão gelada e terrivelmente branca do Lago Peipus; uma encenação prodigiosa que seria decalcada por muitos e bons realizadores dali por diante. Filmes destes são imortais. Abençoada a Cinemateca Portuguesa que o vai exibindo, incansavelmente - e como seria bom que tivéssemos cinema de reprise nas nossas salas de cinema.


In O Diabo (10.9.2013)

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