Filmes em revista sumária #444
O Nebraska é um dos estados mais profundamente centrais dos E.U.A. A bem dizer, fica de tal maneira incrustado no meio daqueles que até tem 2 fusos horários. E se outrora foi palco de investidas históricas e de batalhas sanguinolentas com os «peles vermelhas», durante a Conquista do Oeste, o Nebraska de hoje nem 10 habitantes tem por km2, sendo um estado desoladamente despovoado, lento e monótono, local ideal, por conseguinte, para se rodar um «road movie» como este que agora nos traz Alexander Payne, autor do memorável «About Schmidt», filme com o qual, aliás, apresenta parecenças indisfarçáveis.
E se Payne decidiu bem pelo local, melhor optou pelo preto e branco para fotografar este desconsolado e melancólico filme, e mais ainda o fez em relação a Bruce Dern, escolhendo-o para protagonista, ele que «apenas» tem sido secundário - vilão, sobretudo - em dezenas de «westerns» e outros tantos policiais e que consegue aqui, quiçá, o momento mais alto da sua já longa carreira. Dern cola-se sobriamente à personagem de velho pai de família, de alguém que é quase ignorado e ostracizado pelos seus; um homem de poucas ou nenhumas palavras e que, incauto, é vítima de publicidade enganosa e, pior, dos amigos da onça e dos oportunistas de toda a espécie que lhe vão aparecendo pelo caminho ao longo da sua demanda.
No meio de tamanho desencanto e não menos frustração há lugar à poesia (sim, à poesia) e à esperança de que é sempre possível recolocar uma família no trilho certo, não obstante as adversidades. Melhor cena do filme, a de pai e filho à procura da prótese dentária na linha do comboio. Melhor «snapshot», o de tios e primos olhando bovinamente para a televisão.
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