Filmes em revista sumária #453
Parece que é desta que o sobrinho de Coppola, perdão, Nicholas Cage, volta a ser considerado pelo público e pela crítica, tal o rol de interpretações cabotinas que o actor oscarizado por «Morrer em Las Vegas» (1995), vinha a acumular desde há uma boa vintena de anos, em dezenas de papéis miseráveis e outros tantos filmes abaixo de cão. Oxalá.
Contudo, em «Joe», de David Gordon Green, ele divide o protagonismo com o jovem Tye Sheridan (do brutal «Mud», de Jeff Nichols; filme, aliás, com que «Joe» pretende rivalizar mas sem sucesso) e, sobretudo, com Gary Poulter, um sem-abrigo real que mete no bolso do seu alcoólico, arrogante e violentíssimo … sem-abrigo de nome Wade, todas as cenas em que aparece. Com efeito, será difícil esquecermos o carisma e o talento natural de Poulter (que morreria antes da estreia do filme, em circunstância digna de «Joe») e o seu ar alucinado, o olhar esgazeado, a orelha cortada, os dentes partidos e aquela cena fabulosa em que mata à pancada um seu camarada de perdição, para depois lhe encomendar a alma ao Criador.
«Joe» é um filme sobre a família (sobre aquela que podia ter sido e não foi) e sobre a amizade, aparentemente improvável (adulto-adolescente, preso-polícia, branco-negro, cliente-prostituta), mas também sobre a bestialidade que habita o homem e como no fim a humanidade acaba por se lhe sobrepor (valha-nos isso). É também um filme sobre a redenção e os ímpios caminhos para a conseguir (Joe tem todos os vícios e mais alguns, a começar pelo de passar as noites a olhar bovinamente para o televisor).
Pelo meio há personagens riquíssimas (e outras sem jeito como aquele sujeito das cicatrizes, que nunca mais morre…) de uma América profunda, que os indie tanto gostam de remexer, e algumas mensagens curiosas: a rivalidade canina que descamba em luta sanguinolenta, as árvores que se matam e que se plantam, a ponte entre duas realidades; a mulher do carro que pára ao lado no semáforo, o afiar dos paus em simultâneo, de Joe e Gary. Dará para Cage se redimir? Veremos.
2 Comentários:
Creio que Cage esteve excelente no excelente Herzog's Bad Lieutenant. E concordo em absoluto: Gary Poulter esteve simplesmente brutal. Bresson ficaria orgulhoso... Abraço
Artur, esse tenente mau não vi.. só o do Ferrara e com o Keitel ;-)
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial