terça-feira, novembro 18, 2014

Filmes em revista sumária #478


O problema de «As Duas Faces de Janeiro», que marca a estreia por detrás da câmara do anglo-iraniano Hossein Amini, até agora argumentista de algum sucesso, é ter (parecer) tudo tão bonitinho e perfeitamente alinhado que enjoa.

Rodar-se um filme em locais deslumbrantes, desfrutar-se de um trio de actores de eleição como Viggo Mortensen, Kirsten Dunst e Oscar Isaac, ou de um compositor como Alberto Iglesias (ou será… Bernard Herrmann?), e de um texto-base da autoria de um consagrado como Patricia Highsmith, profusamente adaptada ao cinema, tudo isso pode não ser suficiente para fazer a diferença, e aqui não fez, infelizmente.

Ele há estilo, bom gosto, anos 60, planos muito bons e, claro, cinefilia a rodos para dar e vender, mas falta-lhe qualquer coisa que o resgate do «suficiente +». Faltou pulso a Amini, enquanto realizador, para atingir o cerne da questão: a profundeza de alma daquelas três personagens envolvidas naquela história de encadeamento de vigarices, devaneios, identidades trocadas, recalcamentos, luta de galos, crime e castigo; tragédia, grega. Ou seja, faltou-lhe o que sobrava a Hitch, por exemplo, quando fez o que fez de uma história similarmente curta e aparentemente simples chamada «O Desconhecido do Norte Expresso»: um marco cinematográfico.

«As Duas Faces de Janeiro» anda, pois, um pouco à deriva, mas é um filme simpático e honesto de aventuras e suspense, ainda que mero postal, aqui e acolá; por vezes bastante interessante e que não deixa quebrar nem que por instante, a empatia com o espectador, pelo menos com quem gosta de policiais. Um filme que é levado às costas por Viggo Mortensen, cada vez mais melhor actor, aliás aqui num misto de Mr. Ripley e Hidalgo, ora seja com Isaac ora seja com Dunst.

Resumindo e concatenando: vê-se bem mas podia ser melhor, muito melhor.


in O Diabo (18.11.2014)

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial