Filmes em revista sumária #474
«A Boa Mentira» trata das agruras por que passa um grupo de meninos feitos órfãos pela guerra civil do Sudão e, à partida, seria um daqueles filmes que teria tudo para ser pouco mais do que ignorado, não fora talvez um chamariz chamado Reese Witherspoon.
Na verdade, a enxurrada diária de imagens-choque exauridas nos nossos televisores, por força da nefasta actualidade das guerras e atrocidades que se desenrolam ali e em tantos outros locais do planeta, poderia condenar inapelavelmente o filme a esse triste desígnio, injusto.
Tal não acontece e os «culpados» da boa surpresa são, em primeiro lugar, o realizador Philippe Falardeau (premiado anteriormente, aliás) e a argumentista Margaret Nagle (idem), por terem conseguido evitar, apesar de tudo, que as quase duas horas do filme caíssem na tentação fácil de puxar a brasa à «verdade» puxa-lágrimas ou ao panfleto político-racial, antes construído um drama, que é inegável e terrível, pontilhado de lufadas de humor e alegria, sem se deixar perder no rasto da solidariedade e do …coração.
Mas também o é, e muito, o trio de protagonistas, os três ex-refugiados sudaneses que nos transmitem na primeiríssima pessoa o drama, a perda, a dor, o desespero, a desorientação e o milagre. A verdade (uma verdade?).
«A Boa Mentira» não será uma obra-prima da 7ª Arte, muito longe disso, mas é um filme honesto e tem uma fotografia espectacular. Além do mais dá gosto saber que, afinal, os esquemas de ajuda internacional aos refugiados (a começar pela norte-americana) funcionam e podem mesmo providenciar soluções miraculosas, aqui e ali. Haja esperança. Ah, e que há mentiras que são boas, pois há.
In O Diabo (21.10.2014)
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