Filmes em revista sumária #468
A premissa, melhor dito, o mito que serve de mote ao último filme do parisiense Luc Besson está longe de ser provado cientificamente, e disso já se sabia. No entanto, tal não implica que não continue a ser aliciante o facto de se pensar (quem disso for capaz…) que um homem mediano possa ter o seu cérebro apenas a 10% das reais capacidades (15%, se for um génio), e que uma eventual maximização da sua capacidade instalada (não confundir com Q.I.) será induzida pelo movimento de reprodução celular, correspondendo na prática a sermos uma espécie de demiurgo volátil e omnipresente, de consequências imprevisíveis para o comum dos mortais.
O ponto de partida de «Lucy» era, portando, engraçado e «cinematográfico», o pior foi mesmo calhar em sorte ao autor de «Subway», de quem há muito se espera mais do que acaba sempre por ir fazendo, filme após filme, mais estrela menos estrela, ainda que «Lucy» seja de longe o seu melhor filme desde «O 5º Elemento» (1997); talvez porque Scarlett Johansson é uma fora-de-série e tem realmente um toque de midas mesmo para coisas como a presente.
Esta espécie de «Nilkita» em versão cerebral começa muito bem, aliás, em tons de homenagem aos filmes de terror orientais (Choi “Old Boy” Min-shik faz a festa em todas as cenas em que entra), e a ideia da droga CPH4 ser assimilada pelo organismo e daí potenciar os neurónios de forma exponencial é um achado. Simplesmente, o filme cedo começa a derrapar numa série de piruetas e piroseiras narrativas e visuais (estas muito aquém do que é habitual na Industrial, Light & Magic – as cenas com a macaca Lucy são de rir), de que a publicidade ao novel Peugeot 308 é sintomática. Enquanto «trhriller» é pouco mais do que medíocre, mas a banda sonora de «Lucy», essa, é fabulosa, pelo que merece a pena ficar-se até que o genérico final se finde.
Pergunta da praxe: mas afinal, o nosso cérebro está a 10% ou nem isso? Pois. Continuará o mistério e o quebra-cabeças, para quem as tiver, obviamente.
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