Filmes em revista sumária #463
Pois é, os dotes argumentistas de Paul Haggis parecem não ser já o que foram em «Colisão» (2004) ou em «No Vale de Elah» (2007), por exemplo, filmes em que o canadiano deu uma lufada de ar fresco ao panorama cinematográfico produzido além norte-atlântico, graças, sobretudo, a argumentos poderosos e originalíssimos, consubstanciados em filmes-matriz, mosaicos onde várias histórias aparentemente desconexas entre si se cruzavam, algures a meio da intriga, desenlaçando-se num final portentoso, não sem que pelo meio não houvesse alguma forma de «twist», mas sem nunca ludibriar ou manietar o espectador - muito na linha, aliás, do que Paul-Thomas Anderson produzira uma década antes.
Desta vez a coisa repete-se – são três histórias de amor envolvendo três casais em três locais distantes (Nova Iorque, Paris e Roma) – mas não cola, decididamente, ou, pelo menos, não cola como se esperava que colasse. Talvez o problema de «Na Terceira Pessoa» esteja em que Haggis, que possa estar com o mesmo problema da personagem central, interpretada por Liam Neeson (novamente tão voluntarioso quão abrutalhado), i.e., em crise de inspiração, ou, quem sabe se do lado de cá se colocou a Haggis uma fasquia demasiado alta.
Seja como for, «Na Terceira Pessoa», apesar de parecer muito mais adequado a um imaginário televisivo, não é de modo nenhum um filme despiciendo, antes pelo contrário: os diálogos vivos e certeiros (sobretudo aqueles do jogo do gato e do rato entre as personagens de Neeson e Olivia Wilde, uma dupla de estalo - que remetem para Hepburn & Grant), uma montagem eficaz e um punhado de belas interpretações (Wilde, Bello e Brody fazem o que querem das cenas em que entram), tornam este filme sobre confiança e traição – «com a verdade me enganas» - e um imenso sentimento de culpa, num produto final simpático e de digestão pausada. Se é de manter a confiança em Haggis e mandar-lhe rosas brancas à cabine? Sim, claro.
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