quarta-feira, julho 16, 2014

Filmes em revista sumária #461


Intenso, intimista, hipersensível, crú, arrebatador e profundamente dramático. Assim se resume «Violette», o novo filme de Martin Provost (não confundir com Prévost…), que depois de ter biografado a pintora Séraphine de Senlis, realiza este «biopic» sobre Violette Leduc (não confundir com Viollet-le-Duc…), a escritora sensacionalista dos idos do pós-guerra de 1939-45, que acumulava à condição de mulher sexual e socialmente reprimida, feita contrabandista, para sobreviver, a de romancista frenética (na primeira pessoa) em contínuo turbilhão criativo, e a que a protecção de Simone de Beauvoir haveria de conseguir consagrar anos mais tarde, à custa de muita tenacidade, sofrimento e reveses.

Visualmente soberbo, graças ao apurado sentido estético de Yves Cape (veja-se o belíssimo tratamento do claro-escuro, por exemplo), e com uma encenação tipicamente francesa (academismo? sim, e daí?), no tratamento dos cenários e da reconstituição de época (a todos os níveis), «Violette» assenta ainda em duas performances soberbas: a de Emmanuelle Devos, na pele da boçal, desiludida e desconcertante protagonista (ele é todo um frémito quando, raivosa, atira à cara da mãe: «tu tiveste-me!»), e a de Sandrine Kiberlain, na da celebérrima feminista autora de «Os Mandarins». Nelas e num punhado de secundários irrepreensíveis em outras tantas personagens riquíssimas (a mãe, o perfumista, etc.).

A cena, rodada em «travelling» ao longo de um muro de pedra e de uma correnteza de árvores, sob o céu azul da Provença, em que vemos Violette solta e decidida a viver pela escrita, é inolvidável. Tal como a frase (em francês, é obrigatório): «Je m'en irai comme je suis arrivée. Intacte, chargée de mes défauts qui m'ont torturée. J'aurais voulu naître statue, je suis une limace sous mon fumier».

NB: E que tal alguém reeditar em português as obras de Violette? É que só nos alfarrábios se pode alguma das velhinhas edições da saudosa Portugália.


In O Diabo (15.7.2014)

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Concordo com toda a sua crítica.
Espero vir a saber a sua opinião
sobre o filme "Ida". Um preto e
branco notável, visualmente
muito bem conseguido nos enquadramentos.
M.Júlia

11:55 da manhã  
Blogger Paulo Ferrero disse...

Mto. obrigado, cara M.Júlia. Ainda não fui ver o "Ida"... Cumps.

12:00 da manhã  

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