terça-feira, agosto 19, 2014

Filmes em revista sumária #466


A Singapura de «Ilo, Ilo», do estreante Anthony Chen, não tem um átomo que seja daquela cidade-estado estereotipada, modelo, mesmo, que todos nos dizem ser a cidade mais cara do mundo, centro financeiro de referência, uma das mais evoluídas dos nossos tempos e onde é possível ter um PIB per capita de fazer inveja a muito 1º e 2º mundo e impossível encontrar-se um papel que seja no chão das suas «super-avenidas».

Não, a Singapura retratada neste dramático 100% oriental é uma cidade pouco mais que de subúrbio, onde os blocos habitacionais se confundem uns com os outros e a classe média aqui protagonista vive em cubículos o drama dos despedimentos sem aviso prévio, para logo ter as vidas viradas do avesso num abrir e fechar de olhos: um retrato do drama por que passou praticamente toda a Ásia desenvolvida em finais dos anos 90, aquando da crise financeira sobejamente noticiada ao tempo.

Em «Ilo, Ilo», aliás, muitas das peripécias vividas aqui pelas personagens de pai, mãe, filho e criada (filipina e chamada Teresa, claro) são como contadas na primeira pessoa, pois serão fruto da própria experiência pessoal vivida pelo realizador, enquanto criança.

O problema de «Ilo, Ilo», contudo, é que se puxarmos um pouco pela memória, logo começaremos a rever mentalmente vários filmes parecidos com «Ilo, Ilo», a maior parte deles orientais, e alguns deles com situações e peripécias idênticas. Isso faz com que «Ilo, Ilo» seja de menosprezar? Claro que não. Ou de que não vale a pena falar-se do cinema feito em Singapura, e que um dia ele será capaz de ombrear com o cinema sul-coreano, por exemplo? Também não, mas ainda lhe falta muito para lá chegar.


In O Diabo (19.8.2014)

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