Filmes em revista sumária #476
Sinais dos tempos: os meninos continuam rabinos mas na hora da deita, quando há que apagar a luz e o sono já espreita, os livrinhos de história já não são o que eram nem conseguem o que dantes conseguiam. Resultado: não há mãe que a tanto resista, ao pesadelo real de não conseguir dormir nem fazer com que o filho Samuel o faça. No fim quem se trama é o cão.
Esta podia ser a sinopse, bastante injusta, de «O Senhor Babadook», o filme australiano de terror psicológico que Jennifer Kent escreveu e realizou, e Essie Davis e o pequeno Noah Wiseman interpretam de forma soberba. Eles e a personagem terrífica que dá título ao filme e que mais não é do que o próprio desaparecido feito lobo feroz imaginário dos três porquinhos (aqui dois), numa espécie de cruzamento de Mr. Penguin com Nosferatu, fruto assombroso dos medos, traumas e complexos de ambos, e das culpas a que se atribuem reciprocamente, mãe e filho.
No filme, que é rodado todo ele, praticamente, em huis clos e decorado a cinzentos e azúis (é magnífica a fotografia do polaco Radek Ladczuk), onde só há «princesas» e os homens parecem ser doutro mundo, há uma grande história de terror à oriental para contar, onde os inevitáveis alçapões e o ranger da madeira, mais as respetivas pancadas de entrada em cena e uma música impressiva, convivem em pé de igualdade com uma reflexão honesta sobre o mundo que nos rodeia: a família, a solidão, a velhice, o sentimento de perda, as falsas amizades, a degenerescência, e tudo o mais que se sabe.
O cinema australiano continua a dar cartas e aqui está uma história com moral e um final feliz, a que só cada qual poderá aquilatar por si próprio quando tiver idade suficiente para descer à cave. Bingo para Jennifer Kent!
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