Filmes em revista sumária #545
Mais uma vez não se inveja a infância de Lanthimos, que mais parece ter sido um autêntico laboratório pavloviano, tanta é a tortura por reflexos condicionados por que passam as suas personagens nos filmes-parábola cruéis que realiza, aqui, em «A Lagosta», condicionadas à obrigatoriedade de terem de viver a dois, sempre, dê lá por onde der (a ideia está muito bem apanhada), porque, caso contrário, são enviadas sem apelo nem agravo para a unidade de processamento-metamorfaseamento e transformadas em acéfalos bicharocos, à escolha pelo próprio hóspede no cardápio do hotel-prisão.
E se com «Canino» foi o que se viu e Lanthimos surpreendeu com a violência psicológica e a profunda reclusão a que aquela família era sujeita pelo patriarca tirano, agora a carga absurda é mais leve e a comicidade reina como quer e lhe apetece – os diálogos e as situações entre os três amigos (Farrell, John C. Reilly e Bem Whishaw) são, por exemplo, irresistíveis – ainda que a violência lá permaneça e de que maneira (que dizer daquele soco imenso no estômago, no final do filme, em que o cobarde David não consegue cegar-se a si próprio...).
E fica o aviso: depois de se ver «A Lagosta» nunca mais se olha da mesma maneira para o cão do vizinho …
2 Comentários:
Parabéns, Paulo! Abraço.
Obrigado, Artur, grande abraço.
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